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Marilene Lima de Souza (1950-2012)

Não conseguiu enterrar a filha

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

Marilene Lima de Souza não viveu em Acari, na zona norte do Rio. Mas o bairro ficou associado ao seu nome.

Nascida em Nilópolis (RJ), cresceu e passou boa parte da vida em Coelho Neto, próximo a Acari. Seu pai saiu cedo de casa, e sua mãe, hoje com 84 anos, criou os filhos sozinha.

Marilene trabalhou na fábrica de bolachas Piraquê, numa loja de pães de queijo e foi casada duas vezes. Da primeira união, teve Rosana; da segunda, mais quatro filhos.

Sua primeira filha contava 18 anos quando, em 26 de julho de 1990, foi sequestrada num sítio da Baixada Fluminense. Ela desapareceu com outras dez pessoas -a maioria morava na favela de Acari.

As mães das vítimas (de um grupo de extermínio) juntaram-se contra a impunidade, numa luta que ganhou repercussão tanto dentro quanto fora do país. Ficaram conhecidas como as Mães de Acari.

Marilene foi uma das mais ativas e, como as outras mães, sofreu ameaças. Em 1993, Edméia, uma delas, foi morta.

Como os esforços para achar o corpo de Rosana não tiveram resultados (em 2010, o crime prescreveu sem nenhuma punição), sofreu de ansiedade e depressão. Mas se manteve ativa. Junto à Rede Contra a Violência, coordenou um projeto de ajuda psicológica a familiares de vítimas da violência do Estado.

Dividia seu tempo entre a militância e os filhos. Era superprotetora, como lembra o filho Júlio César, 36. Nos últimos tempos, aos fins de semana, cuidava de uma senhora.

Descobrira um tumor na cabeça. Os filhos se uniram para lhe dar um plano de saúde. Morreu na segunda, aos 61, do tumor. Teve cinco netos.

coluna.obituario@uol.com.br

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