São Paulo, segunda-feira, 01 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPINIÃO ECONÔMICA
A indústria e o emprego no Brasil

MARCIO POCHMANN O Brasil constitui uma das experiências mais bem-sucedidas de transformação do seu sistema produtivo no século 20. De uma grande fazenda geradora e exportadora de produtos primários até os anos 30, assumiu a posição de oitavo produtor industrial mundial no final da década de 1970.
Como consequência da forte expansão industrial nesse período, o emprego assumiu proporções singulares, permitindo que o Brasil, em 1980, representasse 4,2% do total da ocupação mundial na indústria de transformação, contra apenas 1,9% em 1940. A multiplicação de 2,2 vezes a participação do país no emprego industrial mundial indicou o quanto o projeto de industrialização era favorável ao emprego e à produção nacional.
Da mesma forma, a evolução da composição da ocupação apontou para a crescente participação do emprego industrial. Em 1980, de cada cinco trabalhadores, um estava empregado na indústria, enquanto, em 1930, um em cada dez ocupados localizava-se na manufatura.
Ocorre que, depois de 1980, a participação do emprego industrial do Brasil tanto em relação ao mundo como no interior da estrutura ocupacional nacional tem sido decrescente. Em 1999, por exemplo, somente 11,5% do total dos trabalhadores pertenciam à manufatura, equivalendo à situação verificada somente na primeira metade dos anos 50, antes da implementação do Plano de Metas de JK (1955/60).
Se a comparação for com o resto do mundo, os sinais de fracasso serão ainda maiores. Em 1999, o Brasil havia regredido para uma representação de 3% do total do emprego industrial mundial, sendo 29% abaixo do que era duas décadas antes.
Em virtude disso, alguns analistas e funcionários do governo chegaram a ensaiar a defesa da tese de que a indústria não mais seria portadora de emprego. Que as novas tecnologias economizariam postos de trabalho na manufatura, somente havendo alternativa de emprego nos serviços.
Mais um grande equívoco. Países que mais avançam nas novas tecnologias não são os mesmos que reduzem o emprego industrial. Dados de vários países ilustram essa questão.
Registra-se apenas o caso dos Estados Unidos, onde, em 1970, ainda sob o êxito do fordismo, havia 19,4 milhões de empregos na indústria de transformação, mas onde, após a implementação do programa neoliberal de Reagan/Bush, a indústria havia destruído 2,9 milhões deles. A ruptura com o modelo anterior permitiu ao governo democrata tornar a economia norte-americana novamente geradora de mais empregos industriais, algo próximo do verificado nos anos 70.
No Brasil, também a adoção do programa neoliberal nos anos 90 coincidiu com a brusca queda do emprego industrial, com a destruição de 2 milhões de empregos assalariados com carteira assinada. Diante da simples mudança no regime cambial, em janeiro de 1999, o setor industrial passou a dispor de condições anteriormente inexistentes, com possibilidade de substituir a oferta de produtos que vinham sendo importados e de elevar as exportações (ao contrário da fase do populismo cambial entre 1994 e 1998).
Em razão disso, de quatro empregos formais a indústria de transformação criou um durante os nove primeiros meses de 2000. O desempenho poderia ser maior caso o país contasse com um programa de substituição de importação e de estímulo às exportações, fundado nas micro e pequenas empresas. Mas melhor ainda seria mesmo fazer uma profunda revisão das prioridades impostas pelo modelo neoliberal. Valeria a pena tentar.


Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia (IE) e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
E-mail - pochmann@eco.unicamp.br



Texto Anterior: Bancos: Serviços bancários terão aumento explosivo até 2003, diz consultoria
Próximo Texto: Web: País terá Internet 500 vezes mais rápida
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.