|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
A indústria e o emprego no Brasil
MARCIO POCHMANN
O Brasil constitui uma das
experiências mais bem-sucedidas de transformação do seu
sistema produtivo no século 20.
De uma grande fazenda geradora
e exportadora de produtos primários até os anos 30, assumiu a posição de oitavo produtor industrial mundial no final da década
de 1970.
Como consequência da forte expansão industrial nesse período, o
emprego assumiu proporções singulares, permitindo que o Brasil,
em 1980, representasse 4,2% do
total da ocupação mundial na indústria de transformação, contra
apenas 1,9% em 1940. A multiplicação de 2,2 vezes a participação
do país no emprego industrial
mundial indicou o quanto o projeto de industrialização era favorável ao emprego e à produção
nacional.
Da mesma forma, a evolução
da composição da ocupação
apontou para a crescente participação do emprego industrial. Em
1980, de cada cinco trabalhadores, um estava empregado na indústria, enquanto, em 1930, um
em cada dez ocupados localizava-se na manufatura.
Ocorre que, depois de 1980, a
participação do emprego industrial do Brasil tanto em relação
ao mundo como no interior da estrutura ocupacional nacional
tem sido decrescente. Em 1999,
por exemplo, somente 11,5% do
total dos trabalhadores pertenciam à manufatura, equivalendo
à situação verificada somente na
primeira metade dos anos 50, antes da implementação do Plano
de Metas de JK (1955/60).
Se a comparação for com o resto
do mundo, os sinais de fracasso
serão ainda maiores. Em 1999, o
Brasil havia regredido para uma
representação de 3% do total do
emprego industrial mundial, sendo 29% abaixo do que era duas
décadas antes.
Em virtude disso, alguns analistas e funcionários do governo chegaram a ensaiar a defesa da tese
de que a indústria não mais seria
portadora de emprego. Que as novas tecnologias economizariam
postos de trabalho na manufatura, somente havendo alternativa
de emprego nos serviços.
Mais um grande equívoco. Países que mais avançam nas novas
tecnologias não são os mesmos
que reduzem o emprego industrial. Dados de vários países ilustram essa questão.
Registra-se apenas o caso dos
Estados Unidos, onde, em 1970,
ainda sob o êxito do fordismo,
havia 19,4 milhões de empregos
na indústria de transformação,
mas onde, após a implementação
do programa neoliberal de Reagan/Bush, a indústria havia destruído 2,9 milhões deles. A ruptura com o modelo anterior permitiu ao governo democrata tornar
a economia norte-americana novamente geradora de mais empregos industriais, algo próximo
do verificado nos anos 70.
No Brasil, também a adoção do
programa neoliberal nos anos 90
coincidiu com a brusca queda do
emprego industrial, com a destruição de 2 milhões de empregos
assalariados com carteira assinada. Diante da simples mudança
no regime cambial, em janeiro de
1999, o setor industrial passou a
dispor de condições anteriormente inexistentes, com possibilidade
de substituir a oferta de produtos
que vinham sendo importados e
de elevar as exportações (ao contrário da fase do populismo cambial entre 1994 e 1998).
Em razão disso, de quatro empregos formais a indústria de
transformação criou um durante
os nove primeiros meses de 2000.
O desempenho poderia ser maior
caso o país contasse com um programa de substituição de importação e de estímulo às exportações, fundado nas micro e pequenas empresas. Mas melhor ainda
seria mesmo fazer uma profunda
revisão das prioridades impostas
pelo modelo neoliberal. Valeria a
pena tentar.
Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia (IE) e pesquisador do
Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp).
E-mail - pochmann@eco.unicamp.br
Texto Anterior: Bancos: Serviços bancários terão aumento explosivo até 2003, diz consultoria Próximo Texto: Web: País terá Internet 500 vezes mais rápida Índice
|