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OPINIÃO ECONÔMICA
Uma medida a favor de todos
MIGUEL JORGE
Em seus discursos como candidato a presidente da República e desde que assumiu o governo, o presidente Lula tem-se
batido para que a economia se
desenvolva visando ao aspecto social, principalmente com a redução do custo do dinheiro para as
camadas de menor renda. Para
fomentar empréstimos diretos aos
empregados regidos pela CLT,
com juros mais baixos e desconto
nas folhas de pagamento, uma recente medida provisória criou nova modalidade de empréstimos
bancários, o que poderá permitir
que milhões de trabalhadores tenham acesso a crédito com juros
muito mais baixos que os praticados no mercado.
Já era tempo. A falta de linhas
de crédito, a perda de renda dos
assalariados, o alto custo do dinheiro (aliás, para o qual o governo contribui decisivamente) e a
dificuldade de acesso dos trabalhadores ao crédito bancário
comprometeram decisivamente o
poder aquisitivo de boa parte da
população. Para amenizar esse
cenário, alguns bancos assinaram
acordos com sindicatos e centrais
sindicais, pelos quais os trabalhadores, mesmo não sendo seus
clientes, terão acesso a empréstimos com juros bem mais baixos,
dentro de certas condições absolutamente normais e aceitáveis.
As taxas e prazos dos empréstimos variam, mas as melhores
condições têm sido ofertadas por
bancos que cobram juros de
1,75% por mês e oferecem prazos
entre 6 e 48 meses -claro, as taxas variam conforme o prazo e o
risco do tomador e da empresa na
qual ele trabalha, pois desconta-se a prestação diretamente da folha de pagamento.
Não se trata de um sistema de
recompensas individuais, que,
por si só, privilegiariam uns em
detrimento de outros, mas, sim,
de uma medida que, se seguida
por outros setores, teria grande
impacto macroeconômico e social. Ao endossar o programa do
governo, esse grupo de bancos entendeu que o trabalhador não é
só um número numa empresa,
como nas economias centralizadas, mas um cidadão que precisa
de acesso a crédito mais barato
para que possa dar melhores condições de vida a sua família.
Cada um dos bancos que participam dessa iniciativa de democratização do crédito já anunciou
ter R$ 10 bilhões para essas operações, o que significaria, numa
conta rápida, mais de R$ 50 bilhões à disposição dos trabalhadores. Alguns milhares de empréstimos já foram realizados. Estatísticas de um dos bancos mostram que a média de juros aplicados é de 2,2% ao mês, que a média dos prazos é de 24 meses e que
grande parte dos trabalhadores
precisa do dinheiro para pagar
dívidas (principalmente com
agiotas) ou para aplicar na reforma e na ampliação de casas e na
compra de móveis e de eletrodomésticos. Os funcionários dos
poucos bancos que já operam essa
nova modalidade de crédito nas
empresas têm-se impressionado
com a surpresa, quase estupefação, dos trabalhadores ao saberem quanto podem tomar emprestado e quanto pagarão de
prestações (os juros são decrescentes).
Certos teóricos têm criticado
publicamente o fato de que os sindicatos e as centrais sindicais sejam parte ativa desse sistema que
permite ao trabalhador livrar-se
de dívidas insuportáveis ou melhorar um pouco suas condições
de vida. Para operar nas empresas, os bancos precisam da concordância dessas entidades, que
observam as condições dos empréstimos oferecidos aos trabalhadores. Certamente, os professores e consultores que criticam
esse sistema nunca estiveram numa metalúrgica, numa tecelagem
ou numa indústria de alimentos
para saber o que é a dura e verdadeira realidade do "chão de fábrica". Afinal, é muito mais agradável trabalhar em salas refrigeradas e escrever artigos contra essa
modalidade de empréstimos que
beneficia os trabalhadores.
Como esses teóricos nunca viveram a dura experiência de trabalhar em uma fábrica -em qualquer fábrica-, não têm a menor
idéia de que, na maioria das vezes, o agiota que cobra juros extorsivos dos trabalhadores é seu
próprio supervisor ou gerente
-um operário contou que pagava juros de 16% ao mês para o supervisor-agiota da fábrica onde
trabalhava.
Por isso, em vez de levar a sério
essas críticas, o sistema financeiro
deveria aprofundar ainda mais a
competição por esse trabalhador,
que representa menor risco de
crédito, exatamente porque sua
prestação sairá diretamente da
empresa onde trabalha para o
banco que faz o empréstimo. Iniciativas semelhantes, como a já
anunciada medida que permitirá
aos aposentados maior acesso ao
crédito (o próprio governo transferiria para os bancos o valor das
prestações), deveriam multiplicar-se e consolidar-se. Para o bem
de todos e felicidade geral da nação.
Miguel Jorge, 58, jornalista, é vice-presidente de recursos humanos e assuntos
corporativos do Santander Banespa.
Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Paulo Nogueira Batista Jr.
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