|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Câmbio "infla" rendimento no país
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após três anos de valorização
do real, a taxa de câmbio real efetiva -corrigida pelas inflações
americana e brasileira- está hoje
próxima do patamar em que se
encontrava no início do Plano
Real, em julho de 94, segundo dados da GRC Visão (ver quadro).
Ao longo do governo Lula, a
moeda americana já acumula
queda de 33,54% diante do real,
medida pelo dólar Ptax. O Ptax é a
taxa de câmbio calculada pelo
Banco Central a partir da média
das cotações praticadas em todas
as operações efetuadas em um
dia. Só em 2005 o dólar Ptax caiu
11,37%, segundo dados da Economática até o dia 27 de dezembro.
O resultado dessa valorização
do real diante do dólar é que o
brasileiro ficou relativamente
mais rico. O rendimento dos assalariados, em dólares, voltou ao nível do final do primeiro governo
FHC (1998), segundo Alexandre
Fischer, diretor da GRC Visão.
Estudo da consultoria sobre a
paridade câmbio-salário no Brasil, apresentando o desempenho
da renda real média do trabalho
assalariado em dólares, mostra
que aumentou o poder de compra
do trabalhador brasileiro de bens
transacionáveis ("tradables")
-aqueles que são passíveis de
negociação no mercado externo.
Por esse critério, o rendimento
médio chegou a US$ 502 em outubro de 2005 (último dado da pesquisa de rendimentos do IBGE,
convertido em dólares pela GRC
Visão). "Em 1994, no início do
Real, o rendimento médio era de
US$ 800, devido à paridade do
câmbio", diz Fischer.
Após 1999, o assalariado foi perdendo poder de compra com a introdução do câmbio flutuante.
Em outubro de 2002 -final do
segundo mandato de FHC- o
rendimento médio atingiu seu
ponto mais baixo, de US$ 222.
"Com a valorização do real, o
poder de compra do brasileiro
praticamente dobrou nos últimos
três anos", diz Fischer.
Produtos da cesta básica, como
arroz e artigos de higiene e limpeza, que sofrem o impacto do câmbio, tornaram-se mais acessíveis
ao bolso do consumidor, segundo
Alexandre Maia, economista da
Gap Asset Management.
"O arroz sofreu forte concorrência do produto argentino, que
ficou barato graças ao câmbio. Os
artigos de higiene e limpeza, que
têm insumos importados, também ficaram mais baratos em
reais", observa Maia.
Outro efeito da valorização do
real foi que a classe média voltou a
viajar para o exterior. A demanda
por viagens para fora do país cresceu 15% em 2005, segundo a Abav
(reúne as agências de viagens).
Essa expansão ocorreu em relação a um ano que já havia mostrado aquecimento no chamado "turismo emissivo". Em 2004, as viagens ao exterior cresceram 11%.
Exportação prejudicada
Já o exportador de produtos que
têm preços estáveis no mercado
internacional se deu mal. Ele recebe hoje menos reais por itens exportados do que há três anos.
"O câmbio só não afetou os
grandes exportadores de commodities, pois a queda do dólar foi
compensada pela forte alta dos
preços internacionais", diz Maia.
A competitividade do exportador brasileiro diante dos concorrentes internacionais é hoje igual
à de dezembro de 99, após a liberação cambial, e muito próxima à
do início do Real, diz Fischer.
Ele baseia-se no cálculo do câmbio real efetivo (descontadas as
inflações brasileira e americana),
que toma como referência a taxa
de câmbio de junho de 1994 (mês
que antecedeu o Real).
Estabelecendo-se base 100 para
aquele mês e calculando-se o índice da taxa de câmbio real efetiva,
ela fechou 2005 em torno de 103
-em dezembro de 99 ficou em
103,11 (veja gráfico). Isso significa
que, em termos reais, a taxa de
câmbio está hoje apenas 3% acima da de partida do Real.
"Com a desvalorização cambial
em 99, houve uma compensação
ao produtor brasileiro pelo alto
custo de logística e financeiro que
ele tem de carregar. Tudo que foi
dado naquele momento, entretanto, foi retirado com a valorização do real", diz Fischer.
Em 2006, a expectativa dos analistas é que se mantenha a apreciação do real. "Se ficar por conta das
forças de mercado, o câmbio permanecerá apreciado, pois o saldo
da balança comercial continuará
alto e a taxa de juros deve cair gradualmente", diz Maia.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Dívida externa de empresa cai Índice
|