São Paulo, domingo, 01 de janeiro de 2006

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Câmbio "infla" rendimento no país

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após três anos de valorização do real, a taxa de câmbio real efetiva -corrigida pelas inflações americana e brasileira- está hoje próxima do patamar em que se encontrava no início do Plano Real, em julho de 94, segundo dados da GRC Visão (ver quadro).
Ao longo do governo Lula, a moeda americana já acumula queda de 33,54% diante do real, medida pelo dólar Ptax. O Ptax é a taxa de câmbio calculada pelo Banco Central a partir da média das cotações praticadas em todas as operações efetuadas em um dia. Só em 2005 o dólar Ptax caiu 11,37%, segundo dados da Economática até o dia 27 de dezembro.
O resultado dessa valorização do real diante do dólar é que o brasileiro ficou relativamente mais rico. O rendimento dos assalariados, em dólares, voltou ao nível do final do primeiro governo FHC (1998), segundo Alexandre Fischer, diretor da GRC Visão.
Estudo da consultoria sobre a paridade câmbio-salário no Brasil, apresentando o desempenho da renda real média do trabalho assalariado em dólares, mostra que aumentou o poder de compra do trabalhador brasileiro de bens transacionáveis ("tradables") -aqueles que são passíveis de negociação no mercado externo.
Por esse critério, o rendimento médio chegou a US$ 502 em outubro de 2005 (último dado da pesquisa de rendimentos do IBGE, convertido em dólares pela GRC Visão). "Em 1994, no início do Real, o rendimento médio era de US$ 800, devido à paridade do câmbio", diz Fischer.
Após 1999, o assalariado foi perdendo poder de compra com a introdução do câmbio flutuante. Em outubro de 2002 -final do segundo mandato de FHC- o rendimento médio atingiu seu ponto mais baixo, de US$ 222.
"Com a valorização do real, o poder de compra do brasileiro praticamente dobrou nos últimos três anos", diz Fischer.
Produtos da cesta básica, como arroz e artigos de higiene e limpeza, que sofrem o impacto do câmbio, tornaram-se mais acessíveis ao bolso do consumidor, segundo Alexandre Maia, economista da Gap Asset Management.
"O arroz sofreu forte concorrência do produto argentino, que ficou barato graças ao câmbio. Os artigos de higiene e limpeza, que têm insumos importados, também ficaram mais baratos em reais", observa Maia.
Outro efeito da valorização do real foi que a classe média voltou a viajar para o exterior. A demanda por viagens para fora do país cresceu 15% em 2005, segundo a Abav (reúne as agências de viagens).
Essa expansão ocorreu em relação a um ano que já havia mostrado aquecimento no chamado "turismo emissivo". Em 2004, as viagens ao exterior cresceram 11%.

Exportação prejudicada
Já o exportador de produtos que têm preços estáveis no mercado internacional se deu mal. Ele recebe hoje menos reais por itens exportados do que há três anos.
"O câmbio só não afetou os grandes exportadores de commodities, pois a queda do dólar foi compensada pela forte alta dos preços internacionais", diz Maia.
A competitividade do exportador brasileiro diante dos concorrentes internacionais é hoje igual à de dezembro de 99, após a liberação cambial, e muito próxima à do início do Real, diz Fischer.
Ele baseia-se no cálculo do câmbio real efetivo (descontadas as inflações brasileira e americana), que toma como referência a taxa de câmbio de junho de 1994 (mês que antecedeu o Real).
Estabelecendo-se base 100 para aquele mês e calculando-se o índice da taxa de câmbio real efetiva, ela fechou 2005 em torno de 103 -em dezembro de 99 ficou em 103,11 (veja gráfico). Isso significa que, em termos reais, a taxa de câmbio está hoje apenas 3% acima da de partida do Real.
"Com a desvalorização cambial em 99, houve uma compensação ao produtor brasileiro pelo alto custo de logística e financeiro que ele tem de carregar. Tudo que foi dado naquele momento, entretanto, foi retirado com a valorização do real", diz Fischer.
Em 2006, a expectativa dos analistas é que se mantenha a apreciação do real. "Se ficar por conta das forças de mercado, o câmbio permanecerá apreciado, pois o saldo da balança comercial continuará alto e a taxa de juros deve cair gradualmente", diz Maia.


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