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RECEITA ORTODOXA
Analistas prevêem pequena volatilidade para este ano, crescimento de até 4% e inflação sob controle
Mercado minimiza "risco eleitoral" em 2006
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
As eleições presidenciais não
devem comprometer o desempenho econômico neste ano, ao contrário de 2002, quando o cenário
eleitoral acabou gerando turbulências, aumento de juros e queda
de crescimento. Por enquanto, as
previsões são de alguma volatilidade no mercado financeiro, mas
nada que comprometa o crescimento previsto que gira em torno
de 3,5% a 4% e inflação sob controle, com taxa de 4,5%.
O Banco Central é relativamente mais otimista que o setor privado ao fazer suas previsões. Projeta
crescimento de 4% e inflação de
3,8%. Já a mediana das projeções
para crescimento dos analistas de
mercado, calculada em pesquisa
do próprio Banco Central, fica em
3,5%, ao passo que a de inflação
gira em torno de 4,5%.
Mas não serão as eleições que
definirão qual cenário se concretizará, se o mais otimista ou o mais
pessimista -se é que diferenças
de 0,5 ponto percentual nas projeções de taxa de crescimento podem dividir pessimistas e otimistas. "O risco eleitoral não define o
quadro econômico", diz Roberto
Padovani, da Tendências.
O motivo: ninguém espera
grandes mudanças na política
econômica. Uma ou outra declaração no calor da corrida eleitoral
pode causar volatilidade nos mercados de câmbio e juros, mas nada que tenha impactos reais na
economia. Não há, pelo menos
por enquanto, nenhum candidato
com chances de vitória que seja
considerado, pelo menos pelo
mercado financeiro, como um
risco para a continuidade da política econômica. Leia-se: manutenção das políticas de superávits
primários relativamente altos, de
metas de inflação e de câmbio flutuante. O máximo que o mercado
prevê agora são variações sobre o
mesmo tema que tem definido a
política econômica desde 1999.
Os investimentos que devem
crescer em 2006 são aqueles associados a projetos "eleitoreiros" do
governo federal e, portanto, não
significarão retomada do ciclo
que se perdeu, relatam os analistas da MB Associados. O ciclo
perdido, explicam, foi o interrompido em 2005 pela paralisia do governo por conta da crise política e
pelo desaquecimento da economia no terceiro trimestre.
Padovani concorda e diz que dificilmente pode se esperar uma
onda de investimentos que aumente a capacidade de crescimento em 2006, o que justifica sua
projeção de expansão de 3,4%
neste ano, mais pessimista que a
do BC, que espera os 4% estimados no último Relatório de Inflação, divulgado na última semana.
Todo cenário, claro, envolve riscos que podem comprometer as
previsões. Neste ano, eles parecem ser menores. Um deles, que,
aliás, era também um risco para o
cenário de 2005, é o internacional.
Um consenso generalizado é o de
que 2006 deve ser um ano de juros
relativamente maiores no mercado internacional. Mas ninguém,
por enquanto, espera um choque
-um cenário que ainda agora
parece menos provável do que o
traçado no início de 2005, quando
temia-se que os Estados Unidos
poderiam elevar mais fortemente
suas taxas de juros.
"À luz dos riscos de ajustamento das taxas de juros de longo prazo [no mercado internacional] e
de alguma reversão dos "spreads"
de países emergentes na direção
de padrões históricos, um choque
de juros em torno de três pontos
percentuais não seria impossível", diz Brian Coulton, diretor da
Fitch Ratings. Ainda que um pequeno choque de juros não seja
improvável, a Fitch vê um cenário
internacional relativamente positivo, com EUA, China e Japão sustentando a demanda mundial.
Tranqüilidade
Padovani, da Tendências, também vê com tranqüilidade o cenário internacional. Ele lembra que
é bem provável que o impacto
exercido pela economia chinesa
continue sendo positivo. O analista da Tendências lembra de dois
aspectos desse impacto. Por um
lado, o crescimento do país aquece o mercado de commodities,
beneficiando exportadores como
o Brasil. Por outro, a montanha de
reservas internacionais chinesas
continua alimentando o mercado
de títulos públicos norte-americano, segurando as taxas de juros
em níveis razoáveis. "Não vemos,
por conta do papel da China, uma
mudança do fluxo de recursos para os países emergentes. O país
deve continuar alimentando o
crescimento mundial e segurando os juros internacionais", diz.
O petróleo, como sempre, é outro risco. Os preços recordes de
2005 não causaram grandes choques. Mas o comportamento do
mercado de petróleo sempre pode surpreender, ainda que a
maior parte dos analistas avalie
que uma deterioração econômica
por conta de um choque dos preços de petróleo não seja provável.
As crises internacionais parecem ser, por enquanto, a principal
surpresa que faria os analistas verem frustradas suas expectativas
em relação ao Brasil. E, em certa
medida, elas são sempre imprevisíveis. Mas, lembram os mesmos
analistas, a maioria dos países
emergentes está mais preparada
para enfrentá-las do que no passado. "A situação externa hoje é
muito diferente", diz Padovani.
De fato, o bom desempenho das
exportações brasileiras criou uma
blindagem com a qual o Brasil
não contava, por exemplo, às vésperas de 2003. Com uma situação
externa mais confortável, com
um nível de reservas mais alto e
sem grandes necessidades de financiamento externo, o Brasil absorveria melhor um choque externo. O país, claro, cresceria menos caso houvesse algum contratempo na economia mundial,
mas o impacto seria maior caso as
contas externas não tivessem melhorado muito desde 2002.
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