São Paulo, domingo, 01 de janeiro de 2006

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RECEITA ORTODOXA

Analistas prevêem pequena volatilidade para este ano, crescimento de até 4% e inflação sob controle

Mercado minimiza "risco eleitoral" em 2006

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

As eleições presidenciais não devem comprometer o desempenho econômico neste ano, ao contrário de 2002, quando o cenário eleitoral acabou gerando turbulências, aumento de juros e queda de crescimento. Por enquanto, as previsões são de alguma volatilidade no mercado financeiro, mas nada que comprometa o crescimento previsto que gira em torno de 3,5% a 4% e inflação sob controle, com taxa de 4,5%.
O Banco Central é relativamente mais otimista que o setor privado ao fazer suas previsões. Projeta crescimento de 4% e inflação de 3,8%. Já a mediana das projeções para crescimento dos analistas de mercado, calculada em pesquisa do próprio Banco Central, fica em 3,5%, ao passo que a de inflação gira em torno de 4,5%.
Mas não serão as eleições que definirão qual cenário se concretizará, se o mais otimista ou o mais pessimista -se é que diferenças de 0,5 ponto percentual nas projeções de taxa de crescimento podem dividir pessimistas e otimistas. "O risco eleitoral não define o quadro econômico", diz Roberto Padovani, da Tendências.
O motivo: ninguém espera grandes mudanças na política econômica. Uma ou outra declaração no calor da corrida eleitoral pode causar volatilidade nos mercados de câmbio e juros, mas nada que tenha impactos reais na economia. Não há, pelo menos por enquanto, nenhum candidato com chances de vitória que seja considerado, pelo menos pelo mercado financeiro, como um risco para a continuidade da política econômica. Leia-se: manutenção das políticas de superávits primários relativamente altos, de metas de inflação e de câmbio flutuante. O máximo que o mercado prevê agora são variações sobre o mesmo tema que tem definido a política econômica desde 1999.
Os investimentos que devem crescer em 2006 são aqueles associados a projetos "eleitoreiros" do governo federal e, portanto, não significarão retomada do ciclo que se perdeu, relatam os analistas da MB Associados. O ciclo perdido, explicam, foi o interrompido em 2005 pela paralisia do governo por conta da crise política e pelo desaquecimento da economia no terceiro trimestre.
Padovani concorda e diz que dificilmente pode se esperar uma onda de investimentos que aumente a capacidade de crescimento em 2006, o que justifica sua projeção de expansão de 3,4% neste ano, mais pessimista que a do BC, que espera os 4% estimados no último Relatório de Inflação, divulgado na última semana.
Todo cenário, claro, envolve riscos que podem comprometer as previsões. Neste ano, eles parecem ser menores. Um deles, que, aliás, era também um risco para o cenário de 2005, é o internacional. Um consenso generalizado é o de que 2006 deve ser um ano de juros relativamente maiores no mercado internacional. Mas ninguém, por enquanto, espera um choque -um cenário que ainda agora parece menos provável do que o traçado no início de 2005, quando temia-se que os Estados Unidos poderiam elevar mais fortemente suas taxas de juros.
"À luz dos riscos de ajustamento das taxas de juros de longo prazo [no mercado internacional] e de alguma reversão dos "spreads" de países emergentes na direção de padrões históricos, um choque de juros em torno de três pontos percentuais não seria impossível", diz Brian Coulton, diretor da Fitch Ratings. Ainda que um pequeno choque de juros não seja improvável, a Fitch vê um cenário internacional relativamente positivo, com EUA, China e Japão sustentando a demanda mundial.

Tranqüilidade
Padovani, da Tendências, também vê com tranqüilidade o cenário internacional. Ele lembra que é bem provável que o impacto exercido pela economia chinesa continue sendo positivo. O analista da Tendências lembra de dois aspectos desse impacto. Por um lado, o crescimento do país aquece o mercado de commodities, beneficiando exportadores como o Brasil. Por outro, a montanha de reservas internacionais chinesas continua alimentando o mercado de títulos públicos norte-americano, segurando as taxas de juros em níveis razoáveis. "Não vemos, por conta do papel da China, uma mudança do fluxo de recursos para os países emergentes. O país deve continuar alimentando o crescimento mundial e segurando os juros internacionais", diz.
O petróleo, como sempre, é outro risco. Os preços recordes de 2005 não causaram grandes choques. Mas o comportamento do mercado de petróleo sempre pode surpreender, ainda que a maior parte dos analistas avalie que uma deterioração econômica por conta de um choque dos preços de petróleo não seja provável.
As crises internacionais parecem ser, por enquanto, a principal surpresa que faria os analistas verem frustradas suas expectativas em relação ao Brasil. E, em certa medida, elas são sempre imprevisíveis. Mas, lembram os mesmos analistas, a maioria dos países emergentes está mais preparada para enfrentá-las do que no passado. "A situação externa hoje é muito diferente", diz Padovani.
De fato, o bom desempenho das exportações brasileiras criou uma blindagem com a qual o Brasil não contava, por exemplo, às vésperas de 2003. Com uma situação externa mais confortável, com um nível de reservas mais alto e sem grandes necessidades de financiamento externo, o Brasil absorveria melhor um choque externo. O país, claro, cresceria menos caso houvesse algum contratempo na economia mundial, mas o impacto seria maior caso as contas externas não tivessem melhorado muito desde 2002.


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