São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2001

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ANÁLISE

Poluição não é culpada pela crise de energia na Califórnia


PAUL KRUGMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"

A lgumas semanas atrás, em uma de suas primeiras declarações sobre a crise energética na Califórnia, George W. Bush atribuiu a culpa exclusivamente aos controles de poluição.
"Se existem regulamentos ambientais que impedem a Califórnia de ter uma produção máxima em suas usinas -como parece que há- então devemos reduzir esses padrões."
Mas sua afirmação foi rapidamente rejeitada, não apenas por ambientalistas e autoridades da Califórnia, como também pelo setor de energia.
Um porta-voz da Reliant Energy, de Houston, que opera quatro usinas no sul da Califórnia, disse ao jornal "The Los Angeles Times" que as afirmações de que os regulamentos ambientais estão contendo a produção energética são "absolutamente falsas".
Ao que parece, os regulamentos ambientais tampouco influíram muito no fracasso da Califórnia em construir novas usinas nos anos desde a desregulamentação.
Os ambientalistas eram a favor da desregulamentação por achar que ela causaria a construção de novas usinas movidas a gás, portanto mais limpas que as usinas a carvão que ainda abastecem a maior parte do Estado.
Os protestos das pessoas que não queriam uma usina perto de suas casas foi um fator mais importante, mas essa é uma outra questão, e que está sendo resolvida rapidamente.
A administração Bush, no entanto, continuou impondo a idéia de que permitir mais poluição é a maneira de sair da crise. O que está acontecendo aqui?
Um cínico poderia sugerir que tudo isso tem a ver com retribuição às empresas que financiaram a campanha de Bush. Mas no caso da poluição da Califórnia não há qualquer pagamento direto.
A única usina de eletricidade da Califórnia que foi realmente desligada devido às normas de qualidade do ar não pertence a uma empresa do Texas, mas à cidade de Glendale.
Agora é claro que o governo está tentando usar os problemas da Califórnia para vender seu plano de procurar petróleo na tundra do Ártico - um plano que, fazendo-se a aritmética, vem a ser virtualmente irrelevante para os atuais problemas energéticos. No máximo, poderia acrescentar uma pequena porcentagem ao fornecimento de petróleo do país daqui a uma década.
Mas o entusiasmo do governo por esse plano também representa uma espécie de quebra-cabeça. Afinal, é caro descobrir e extrair petróleo do Ártico, mesmo que não se tenha muito cuidado com o meio ambiente, por isso o retorno para as companhias de petróleo não será tão grande.
As empresas de serviços do setor, como a Halliburton, antiga empregadora de Dick Cheney, terá alguns benefícios, mas ainda é difícil ver qual o motivo para isso ser uma prioridade na agenda.
Para entender o entusiasmo do governo por tanta sujeira, na minha opinião, é preciso vê-lo como algo que supera o simples cálculo de custo e benefício. O que realmente importa é o momento político - eliminar a falta de legitimidade de Bush ganhando uma série de vitórias importantes.
De fato, seus assessores esperam que enrolando repetidamente os moderados eles consigam fazer as pessoas esquecer que seu adversário teve mais votos. O meio ambiente, em particular, torna-se um alvo exatamente porque o outro lado quer protegê-lo. Vejo isso como uma tentativa de criar uma ilusão de mandato usando a poluição e espelhos.
Essa estratégia vai funcionar? Como notou recentemente Jacob Weisberg em Slate, durante as últimas semanas da campanha, os assessores de Bush tentaram uma estratégia semelhante, esperando usar a aparência de inevitabilidade para transformar sua vantagem nas pesquisas em um terremoto. Em vez disso, ele perdeu o voto popular e esteve muito perto de perder o voto eleitoral. Mas agora está em Washington, onde pode ser mais fácil transformar a percepção em realidade.
Mas, seja essa uma estratégia inteligente ou não, suas conseqüências terão longo alcance. O Alasca é apenas o começo. O homem a ser observado agora é Joe Barton, o congressista do Texas que chefia o novo subcomitê de energia e qualidade do ar na Comissão de Comércio da Câmara. (Assunto antes do subcomitê de saúde e meio ambiente.) Podemos ter certeza de que logo virá um movimento para enfraquecer o máximo possível a Lei do Ar Limpo.
Pode parecer estranho que antiambientalistas possam se tornar um objetivo em si, que os políticos possam tentar despoluir o meio ambiente sem mesmo visar o lucro, mas simplesmente para provar uma teoria. Mas estamos vivendo tempos estranhos, como se diz, vamos superar.


Tradução de Luiz Roberto Gonçalves










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