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ANÁLISE
Poluição não é culpada pela crise de energia na Califórnia
PAUL KRUGMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"
A lgumas semanas atrás,
em uma de suas primeiras
declarações sobre a crise energética na Califórnia, George W. Bush
atribuiu a culpa exclusivamente
aos controles de poluição.
"Se existem regulamentos ambientais que impedem a Califórnia de ter uma produção máxima
em suas usinas -como parece
que há- então devemos reduzir
esses padrões."
Mas sua afirmação foi rapidamente rejeitada, não apenas por
ambientalistas e autoridades da
Califórnia, como também pelo setor de energia.
Um porta-voz da Reliant
Energy, de Houston, que opera
quatro usinas no sul da Califórnia,
disse ao jornal "The Los Angeles
Times" que as afirmações de que
os regulamentos ambientais estão
contendo a produção energética
são "absolutamente falsas".
Ao que parece, os regulamentos
ambientais tampouco influíram
muito no fracasso da Califórnia
em construir novas usinas nos
anos desde a desregulamentação.
Os ambientalistas eram a favor
da desregulamentação por achar
que ela causaria a construção de
novas usinas movidas a gás, portanto mais limpas que as usinas a
carvão que ainda abastecem a
maior parte do Estado.
Os protestos das pessoas que
não queriam uma usina perto de
suas casas foi um fator mais importante, mas essa é uma outra
questão, e que está sendo resolvida rapidamente.
A administração Bush, no entanto, continuou impondo a idéia
de que permitir mais poluição é a
maneira de sair da crise. O que está acontecendo aqui?
Um cínico poderia sugerir que
tudo isso tem a ver com retribuição às empresas que financiaram
a campanha de Bush. Mas no caso
da poluição da Califórnia não há
qualquer pagamento direto.
A única usina de eletricidade da
Califórnia que foi realmente desligada devido às normas de qualidade do ar não pertence a uma
empresa do Texas, mas à cidade
de Glendale.
Agora é claro que o governo está
tentando usar os problemas da
Califórnia para vender seu plano
de procurar petróleo na tundra do
Ártico - um plano que, fazendo-se a aritmética, vem a ser virtualmente irrelevante para os atuais
problemas energéticos. No máximo, poderia acrescentar uma pequena porcentagem ao fornecimento de petróleo do país daqui a
uma década.
Mas o entusiasmo do governo
por esse plano também representa uma espécie de quebra-cabeça.
Afinal, é caro descobrir e extrair
petróleo do Ártico, mesmo que
não se tenha muito cuidado com
o meio ambiente, por isso o retorno para as companhias de petróleo não será tão grande.
As empresas de serviços do setor, como a Halliburton, antiga
empregadora de Dick Cheney, terá alguns benefícios, mas ainda é
difícil ver qual o motivo para isso
ser uma prioridade na agenda.
Para entender o entusiasmo do
governo por tanta sujeira, na minha opinião, é preciso vê-lo como
algo que supera o simples cálculo
de custo e benefício. O que realmente importa é o momento político - eliminar a falta de legitimidade de Bush ganhando uma série de vitórias importantes.
De fato, seus assessores esperam que enrolando repetidamente os moderados eles consigam fazer as pessoas esquecer que seu
adversário teve mais votos. O
meio ambiente, em particular,
torna-se um alvo exatamente porque o outro lado quer protegê-lo.
Vejo isso como uma tentativa de
criar uma ilusão de mandato
usando a poluição e espelhos.
Essa estratégia vai funcionar?
Como notou recentemente Jacob
Weisberg em Slate, durante as últimas semanas da campanha, os
assessores de Bush tentaram uma
estratégia semelhante, esperando
usar a aparência de inevitabilidade para transformar sua vantagem nas pesquisas em um terremoto. Em vez disso, ele perdeu o
voto popular e esteve muito perto
de perder o voto eleitoral. Mas
agora está em Washington, onde
pode ser mais fácil transformar a
percepção em realidade.
Mas, seja essa uma estratégia inteligente ou não, suas conseqüências terão longo alcance. O Alasca
é apenas o começo. O homem a
ser observado agora é Joe Barton,
o congressista do Texas que chefia
o novo subcomitê de energia e
qualidade do ar na Comissão de
Comércio da Câmara. (Assunto
antes do subcomitê de saúde e
meio ambiente.) Podemos ter certeza de que logo virá um movimento para enfraquecer o máximo possível a Lei do Ar Limpo.
Pode parecer estranho que antiambientalistas possam se tornar
um objetivo em si, que os políticos possam tentar despoluir o
meio ambiente sem mesmo visar
o lucro, mas simplesmente para
provar uma teoria. Mas estamos
vivendo tempos estranhos, como
se diz, vamos superar.
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
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