São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2001

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LUÍS NASSIF

As alfândegas virtuais

O secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, é um questionador permanente das verdades estabelecidas. Algumas vezes peca pela teimosia. Na maioria das vezes, costuma ter razão. Uma conversa com ele sempre é instigante, ainda que às vezes extenuante, pela teimosia com que sustenta seus pontos de vista -principalmente se na outra ponta há um teimoso igual.
Mas o secretário é dotado da sabedoria dos que, terminada a discussão, costumam absorver as informações recebidas e reelaborar seu próprio pensamento. Foi por aí que o Brasil passou a inovar dentro do conceito de alfândega virtual.
Quando a Intel resolveu se instalar em Costa Rica, a alegação foi que o sistema aduaneiro brasileiro era muito lento. Maciel concorda em que era lento, mas não que tenha sido o motivo predominante. A questão central é que Costa Rica é um paraíso fiscal.
Mesmo assim, os argumentos foram considerados. Recentemente a Compaq pediu autorização para criar um entreposto aduaneiro. Sua idéia era um entreposto privativo industrial, uma exceção que, se aberta, poderia levar a um descontrole no setor.
Na conversa, em vez da solução, Everardo Maciel pediu que apresentassem o problema. Da discussão resultou uma solução com uso intensivo da informática, uma alfândega virtual cuja solução está sendo exportada para os Estados Unidos.
Esse modelo acabou se disseminando porque -para surpresa de Maciel- na indústria dos PCs as grandes marcas não mais têm produção própria. Limitam-se a comprar de terceiros, a colocar sua marca e a utilizar seus canais de distribuição. Essa realidade obrigou a mudar rapidamente o modelo de alfândega virtual.
Por isso mesmo, o papel da Receita, cada vez mais, será montar estruturas ágeis, que possam responder rapidamente às mudanças que estão ocorrendo na logística e no modo de produção das empresas.
Diferentemente do consenso, o secretário da Receita Federal não acredita que o modelo italiano dos consórcios de empresas tenha viabilizado a competitividade das pequenas empresas, assim como as conduzido para a formalidade. Diz que a informalidade continua grassando na Itália e que o dinamismo ainda é sustentado por médias empresas, com capacidade de inovação tecnológica e mercadológica.

Descansa em paz
Levou quase um século. Mas no monumental "Os Intérpretes do Brasil", edição em três volumes em papel-bíblia bancada pelo Fundo Nacional de Cultura e com prefácio do ministro Francisco Weffort, chegou o reconhecimento oficial -ainda que tardio-do médico sergipano Manoel Bomfim, o grande cientista do início do século 20, que havia sido abolido da historiografia oficial do país.
Conheci sua obra em 1994 e, desde então, me filiei ao restrito -mas fanático- clube de seus admiradores. Agora, nas 16 obras fundamentais, de 11 autores, selecionadas para a coleção, figura o notável "América Latina, Males de Origem", colocando Bomfim ao lado dos maiores, como Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Oliveira Viana, Alcântara Machado, Paulo Prado, Graciliano Ramos, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda, Caio Prado Júnior e Florestan Fernandes. No lugar, aliás, que sempre foi seu, por mérito.

Internet: www.dinheirovivo.com.br

E-mail - lnassif@uol.com.br



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