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São Paulo, sábado, 01 de fevereiro de 2003

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RESENHA

Economistas debatem crescimento via exportações

MARCOS MACEDO CINTRA
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS

A necessidade de romper a restrição externa ao desenvolvimento brasileiro leva alguns economistas a defender a hipótese de que o crescimento seja liderado pelas exportações, como ocorre em algumas economias asiáticas.
Dadas as características da economia brasileira, parece pouco provável que as exportações sejam capazes de impulsionar o crescimento, mesmo que sejam fundamentais para reduzir a fragilidade financeira externa.
Esse é um dos muitos temas de batidos no novo livro, organizado por Antonio Dias Leite e por João Paulo dos Reis Velloso, que divulga os artigos apresentados no Fórum Nacional 2002. O conjunto de ensaios tem o mérito de promover um amplo diagnóstico da economia brasileira e indicar os principais desafios a serem enfrentados pelo novo governo.
Fica claro pela leitura de vários trabalhos que um dos principais desafios à retomada do desenvolvimento brasileiro é a dependência de capitais externos. Entre 1980 e 1982, o modelo de desenvolvimento por substituição de importações, liderado pelo Estado e apoiado na ampla disponibilidade de financiamento internacional, soçobrou com a crise da dívida externa.
Entre 1999 e 2002, o modelo de desenvolvimento sustentado na associação com os mercados globalizados e desregulamentados também malogrou, com a fuga dos investidores. A crise de liquidez externa e a desvalorização da moeda nacional em ambas as ocasiões explicitaram os limites dos mecanismos utilizados para financiar o desenvolvimento econômico e social brasileiro.

Mercados financeiros
Impõe-se, portanto, a necessidade de aprofundar os mercados financeiros domésticos, tornando o processo de investimento e de crescimento econômico menos dependente do financiamento externo. Trata-se de promover o financiamento doméstico de longo prazo, que não pode ser ofertado, de forma independente, pelo setor financeiro privado, devido a sua tendência a operar no curto prazo, em condições de instabilidade e de incerteza.
Por conseguinte, há que ampliar o papel do mercado de capitais e os mecanismos de financiamento públicos (BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Orçamento Geral da União, Orçamento dos Estados etc.), sem o que os novos investimentos ocorrerão apenas nas empresas mais bem situadas no mercado e com capacidade de dispor de recursos próprios.

Exportações
Equacionar a estrutura de financiamento da economia brasileira requer também a geração de saldos comerciais expressivos para reduzir a vulnerabilidade externa. Torna-se, então, relevante uma política de promoção de exportações eventualmente por meio da criação de um ministério ou de uma agência de comércio exterior, para integrar a política industrial, a introdução de inovações técnicas e a expansão das exportações, como sugere o artigo de Benedito Fonseca Moreira.
Todavia isso não significa, a meu ver, a possibilidade de um crescimento liderado pelas exportações, como sinalizam os modelos elaborados por Cláudio R. Frischtak e Marco Antonio F.H. Cavalcanti e por Francisco Eduardo Pires de Souza. Devido às características estruturais do país (dimensões geográficas, diversidade regional e de recursos produtivos, base demográfica etc.), as exportações não são componentes importantes da demanda autônoma da economia. São relevantes para gerar recursos em moeda forte e equacionar as contas externas, mas insuficientes para dinamizar o crescimento, exceto se ocorrer uma revolução na estrutura produtiva.
Ademais, a situação desoladora em que se encontra a maioria das nações sul-americanas exige um esforço de integração geopolítica e de aproveitamento do potencial de consumo interno para sustentar a competitividade dos produtos e serviços brasileiros em um mercado ampliado, como defende Emílio Odebrecht. É preciso concretizar as propostas de prestação de serviços e de uso da infra-estrutura dos países vizinhos com pagamento em produtos, assegurando consumo para a produção primária da região em troca de mercado para bens de maior valor agregado. Essa parece ser uma alternativa para consolidar um círculo virtuoso de crescimento econômico na região sul-americana, assolada por crises financeiras e pobreza estrutural.
Enfim, o conjunto de temas abordados, de diferentes pontos de vista políticos e ideológicos, torna a leitura desse volume obrigatória para todos aqueles que procuram compreender a economia brasileira e os caminhos para a retomada do desenvolvimento.


O NOVO GOVERNO E OS DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO. Coordenadores: Antonio Dias Leite & João Paulo dos Reis Velloso. Editora: José Olympio (0/XX/ 21/2224-2204). 781 págs.



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