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RESENHA
Economistas debatem crescimento via exportações
MARCOS MACEDO CINTRA
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
A necessidade de romper a
restrição externa ao desenvolvimento brasileiro leva alguns
economistas a defender a hipótese de que o crescimento seja liderado pelas exportações, como
ocorre em algumas economias
asiáticas.
Dadas as características da economia brasileira, parece pouco
provável que as exportações sejam capazes de impulsionar o
crescimento, mesmo que sejam
fundamentais para reduzir a fragilidade financeira externa.
Esse é um dos muitos temas de
batidos no novo livro, organizado
por Antonio Dias Leite e por João
Paulo dos Reis Velloso, que divulga os artigos apresentados no Fórum Nacional 2002. O conjunto
de ensaios tem o mérito de promover um amplo diagnóstico da
economia brasileira e indicar os
principais desafios a serem enfrentados pelo novo governo.
Fica claro pela leitura de vários
trabalhos que um dos principais
desafios à retomada do desenvolvimento brasileiro é a dependência de capitais externos. Entre
1980 e 1982, o modelo de desenvolvimento por substituição de
importações, liderado pelo Estado e apoiado na ampla disponibilidade de financiamento internacional, soçobrou com a crise da
dívida externa.
Entre 1999 e 2002, o modelo de
desenvolvimento sustentado na
associação com os mercados globalizados e desregulamentados
também malogrou, com a fuga
dos investidores. A crise de liquidez externa e a desvalorização da
moeda nacional em ambas as ocasiões explicitaram os limites dos
mecanismos utilizados para financiar o desenvolvimento econômico e social brasileiro.
Mercados financeiros
Impõe-se, portanto, a necessidade de aprofundar os mercados
financeiros domésticos, tornando
o processo de investimento e de
crescimento econômico menos
dependente do financiamento externo. Trata-se de promover o financiamento doméstico de longo
prazo, que não pode ser ofertado,
de forma independente, pelo setor financeiro privado, devido a
sua tendência a operar no curto
prazo, em condições de instabilidade e de incerteza.
Por conseguinte, há que ampliar o papel do mercado de capitais e os mecanismos de financiamento públicos (BNDES, Banco
do Brasil, Caixa Econômica Federal, Orçamento Geral da União,
Orçamento dos Estados etc.), sem
o que os novos investimentos
ocorrerão apenas nas empresas
mais bem situadas no mercado e
com capacidade de dispor de recursos próprios.
Exportações
Equacionar a estrutura de financiamento da economia brasileira requer também a geração de
saldos comerciais expressivos para reduzir a vulnerabilidade externa. Torna-se, então, relevante
uma política de promoção de exportações eventualmente por
meio da criação de um ministério
ou de uma agência de comércio
exterior, para integrar a política
industrial, a introdução de inovações técnicas e a expansão das exportações, como sugere o artigo
de Benedito Fonseca Moreira.
Todavia isso não significa, a
meu ver, a possibilidade de um
crescimento liderado pelas exportações, como sinalizam os modelos elaborados por Cláudio R.
Frischtak e Marco Antonio F.H.
Cavalcanti e por Francisco Eduardo Pires de Souza. Devido às características estruturais do país
(dimensões geográficas, diversidade regional e de recursos produtivos, base demográfica etc.), as
exportações não são componentes importantes da demanda autônoma da economia. São relevantes para gerar recursos em
moeda forte e equacionar as contas externas, mas insuficientes para dinamizar o crescimento, exceto se ocorrer uma revolução na
estrutura produtiva.
Ademais, a situação desoladora
em que se encontra a maioria das
nações sul-americanas exige um
esforço de integração geopolítica
e de aproveitamento do potencial
de consumo interno para sustentar a competitividade dos produtos e serviços brasileiros em um
mercado ampliado, como defende Emílio Odebrecht. É preciso
concretizar as propostas de prestação de serviços e de uso da infra-estrutura dos países vizinhos
com pagamento em produtos, assegurando consumo para a produção primária da região em troca de mercado para bens de maior
valor agregado. Essa parece ser
uma alternativa para consolidar
um círculo virtuoso de crescimento econômico na região sul-americana, assolada por crises financeiras e pobreza estrutural.
Enfim, o conjunto de temas
abordados, de diferentes pontos
de vista políticos e ideológicos,
torna a leitura desse volume obrigatória para todos aqueles que
procuram compreender a economia brasileira e os caminhos para
a retomada do desenvolvimento.
O NOVO GOVERNO E OS DESAFIOS DO
DESENVOLVIMENTO. Coordenadores:
Antonio Dias Leite & João Paulo dos Reis
Velloso. Editora: José Olympio (0/XX/
21/2224-2204). 781 págs.
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