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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Macroeconomia do PAC
Não parece haver motivos para decretar a ineficácia do PAC ou temer os seus efeitos sobre as contas públicas
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) suscitou, como é normal, críticas
de diferentes tipos. Os investimentos previstos são compatíveis com a
preservação do ambiente? As obras
escolhidas são de interesse público?
A lista inclui, por exemplo, o polêmico projeto de transposição de águas
do São Francisco.
O governo mostrará eficiência e
agilidade para conduzir o programa? Ou muita coisa ficará no papel?
O Executivo federal terá força e habilidade políticas para mobilizar
apoio e vencer resistências dentro
do próprio governo (em especial no
Banco Central), no Congresso e nos
governos estaduais e municipais?
Também há dúvidas sobre a consistência e eficácia do programa do
ponto de vista macroeconômico. É
dessas dúvidas que gostaria de falar
um pouco hoje. Muitos economistas
argumentam que o PAC se baseia
em medidas errôneas, de caráter estatizante, que ameaçam as contas
públicas e que não aumentarão a taxa de expansão do PIB. Aqui, no caderno Dinheiro da Folha, esse tipo
de preocupação teve destaque em
artigos e entrevistas.
Por exemplo: Paulo Rabello de
Castro, cujas opiniões são sempre
instigantes, teve um acesso de radicalismo em artigo publicado ontem neste mesmo espaço. Segundo
ele, o Brasil vive "o oposto da típica
situação keynesiana" e, portanto,
"qualquer anúncio de aceleração
dos gastos públicos -assim explica
a moderna teoria- provocará ajuste para baixo na riqueza esperada
do setor privado, que passará a descontar os impostos a mais a serem
pagos para financiar os juros e os
demais gastos anunciados".
O oposto de uma situação keynesiana? A economia brasileira opera
abaixo do seu potencial, existe bastante capacidade ociosa média nas
empresas, a taxa de desemprego é
alta e temos folga no balanço de pagamentos (isto é, capacidade de
importar não aproveitada). Além
disso, é muito frágil a hipótese teórica (que nem é tão moderna, pois
remete de certa forma a David Ricardo e Robert Barro) de que o aumento dos investimentos públicos
elevaria os impostos esperados e
provocaria redução dos gastos privados no curto prazo, resultando
em efeito líquido pequeno ou nulo
sobre a demanda agregada. Para
que a hipótese tivesse um mínimo
de plausibilidade, seria preciso argumentar, em primeiro lugar, que
o PAC implica aumento do déficit e
da dívida do setor público.
Os números apresentados pelo
governo para 2007-2010 -e que
até onde sei não foram seriamente
questionados- mostram o contrário: queda do déficit nominal e da
dívida líquida pública como proporção do PIB. No que diz respeito
às contas públicas, o PAC envolve
uma redução da meta de superávit
primário de 4,25% para 3,75% do
PIB. A diferença de 0,5% do PIB
seria destinada basicamente a uma
ampliação dos investimentos do
governo e das estatais em infra-estrutura. Não há previsão de aumento de impostos. Ao contrário, o
PAC inclui algumas desonerações
seletivas de tributos.
A diminuição do superávit primário é perigosa? Nas projeções do
Ministério da Fazenda, admite-se
um declínio gradual da taxa Selic
(conforme expectativas do mercado compiladas pelo Banco Central), crescimento anual do PIB da
ordem de 5%, taxa de inflação de
cerca de 4,5% ao ano e "esqueletos"
(reconhecimento de dívidas não
contabilizadas) de 0,5% do PIB por
ano. Admite-se também que a Selic
é uma boa aproximação do custo
médio da dívida pública como um
todo.
Com essas hipóteses, o déficit
nominal diminui de 3,4% do PIB
em 2006 para 0,2% do PIB em
2010. A dívida líquida (inclusive
base monetária) cai de 50% do PIB
em dezembro de 2006 para 40% do
PIB em dezembro de 2010. Não parece haver, portanto, motivos para
decretar liminarmente a ineficácia
do PAC ou para temer os seus efeitos sobre as contas públicas.
Evidentemente, toda projeção
para prazo tão longo abriga incertezas. Quem garante que o comando do Banco Central -xiita como
é- não frustrará a expectativa do
mercado de um declínio gradual
dos juros? Há risco de descontrole
dos gastos correntes não-financeiros do governo? O PAC, como se
sabe, é fraco nesse ponto. O aumento dos investimentos previstos
e as demais medidas do programa
serão suficientes para gerar crescimento de 5%? Não será necessário
ampliar as desonerações tributárias para estimular com mais força
os investimentos privados? A persistência da sobrevalorização cambial é compatível com a meta de 5%
de crescimento para o PIB?
São pontos cruciais, de cujo tratamento dependerá não só o sucesso ou fracasso do PAC mas -arrisco dizer- o sucesso ou fracasso do
segundo mandato do presidente
Lula.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 51, economista e professor da FGV-EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor do livro "O Brasil e a Economia Internacional:
Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/
Elsevier, 2005).
pnbjr@attglobal.net
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