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ARTIGO
Davos, mantenha o capitalismo
HUGO DIXON
DO "NEW YORK TIMES"
O mundo está em meio a uma
crise financeira. Mas ela não
precisa se transformar em uma
crise do capitalismo, na qual intervenções governamentais e
protecionismo venham a sufocar o potencial criativo dos
mercados livres.
Os líderes políticos e empresariais reunidos no Fórum Econômico Mundial em Davos,
Suíça, deveriam adotar como
objetivo impedir que isso aconteça. De outra forma, o ressentimento cada vez maior entre
os exércitos crescentes de desempregados e de outras vítimas da desaceleração na economia mundial poderia fazer
com que muito de bom seja
perdido em companhia daquilo
que é ruim e com isso tornar o
mundo ainda mais pobre.
Para começar a difundir essa
mensagem, todo mundo deveria estar disposto a assumir a
responsabilidade por seus erros. E o conselho não se aplica
apenas aos banqueiros que foram corretamente criticados
por seu comportamento irresponsável, mas igualmente aos
políticos.
Cabe-lhes parte da culpa pela
enrascada em que a economia
mundial se encontra agora. E
eles precisam admitir o fato.
Os governos fizeram mais do
que criar as estruturas regulatórias frouxas nas quais os banqueiros se inspiraram para seus
exageros. Também foram responsáveis por políticas fiscais e
monetárias frouxas que ajudaram a alimentar a bolha.
E eles não conseguiram encontrar uma solução para os
desequilíbrios no comércio internacional que, por muitos
anos, permitiram que os Estados Unidos e outras economias
ocidentais desenvolvidas financiassem surtos de consumismo acelerado obtendo pilhas de dinheiro barato emprestado por países asiáticos.
Reconhecer os passados erros deve ser o primeiro passo.
Depois, a elite de Davos deve
começar a procurar por soluções para o atual cenário.
Há três respostas principais.
A primeira envolve reformas
profundas que tornem o sistema financeiro mais seguro.
Mas os governos precisam resistir à tentação de atribuir toda a responsabilidade ao setor
bancário, que se tornou um bode expiatório conveniente.
As autoridades também precisam colocar suas casas em ordem. Promessas confiáveis de
que o equilíbrio orçamentário
será promovido tão logo a crise
seja superada, mesmo que os
déficits cresçam muito em curto prazo, devem ter prioridade
na agenda. Os bancos centrais
também precisam assumir um
compromisso mais forte de
considerar o crescimento do
crédito e dos preços dos ativos,
em lugar de apenas os preços ao
consumidor, quando determinam taxas de juros.
Se essas promessas forem
sustentadas por detalhes suficientes quanto aos mecanismos práticos que envolverão,
farão mais do que ajudar a prevenir futuras bolhas. Também
oferecerão garantias de que os
governos mesmos não estão se
comportando de forma descontrolada ao tentar combater a
crise por meio de medidas perigosas como imprimir dinheiro.
Na verdade, os governos precisam criar alguma forma de
plano responsável de médio
prazo para garantir que os mercados financeiros não percam a
confiança. Caso os investidores
comecem a boicotar os títulos
públicos quando os déficits fiscais estiverem em rápida alta, a
crise atual poderia se agravar
ainda mais. Os governos poderiam recorrer a moratórias, à
inflação ou a consideráveis aumentos de impostos.
Os líderes políticos também
precisam assumir o compromisso de promover um reequilíbrio firme da economia mundial, a fim de evitar excesso de
poupança em uma parte do
mundo e excesso de consumo
em outra. É claro que essa dança requer dois participantes, e a
China ainda não entrou na pista. E tampouco os Estados Unidos, aliás, parecem dispostos a
abandonar sua dependência
dos empréstimos externos.
A reunião de Davos, que
trouxe o primeiro-ministro
chinês, Wen Jiabao, e diversos
líderes ocidentais, seria uma
boa oportunidade para promover essa mensagem. Todo mundo deveria compreender que
existem amplos benefícios no
esforço de reequilibrar a economia mundial, além da redução do risco de futuras crises.
Isso significaria que Estados
Unidos, Reino Unido, Espanha
e outros países teriam de viver
de acordo com suas posses, e
que os chineses poderiam deixar de lado a austeridade e se
divertir um pouco mais.
Caso os líderes políticos consigam criar uma estrutura que
promova estabilidade em médio prazo, estarão bem posicionados para defender o que o capitalismo tem de bom: a saber,
o livre comércio e o livre mercado. A esta altura, ninguém
deveria ser ingênuo a ponto de
fingir que estes podem florescer na ausência de uma estrutura regulatória efetiva.
Mas um retorno à estatização, assistência governamental
e protecionismo que caracterizaram, por exemplo, as ações
dos Estados Unidos depois da
Grande Depressão, seria calamitoso para todos.
A missão para os líderes que
se reuniram em Davos deveria
ser garantir que os elementos
valiosos do livre comércio e do
livre mercado sejam encorajados, enquanto se esforçam por
conter os excessos financeiros.
De outra forma, correrão o
risco de jogar o bebê fora junto
com a água do banho.
HUGO DIXON é jornalista econômico e diretor
do instituto Breakingviews.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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