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MERCADO TENSO
Crise teria sido evitada se medidas fiscais tivessem sido aprovadas há três semanas, diz diretor do FMI
Fischer, do Fundo, fala por Malan em debate
do enviado especial a Davos
Foi pura coincidência, mas
uma coincidência irônica para
o momento que
o Brasil atravessa: Stanley Fischer, vice-diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional) foi escalado
ontem para substituir o ministro
Pedro Malan (Fazenda).
Fischer tomou o lugar de Malan
no debate "Navegando nas correntes cruzadas da globalização", no
âmbito do encontro anual-99 do
Fórum Econômico Mundial.
Para acentuar a ironia, Carlos
Represas, vice-presidente executivo da Nestlé, fez a Fischer uma pergunta sobre o Brasil, que o funcionário do FMI não hesitou em responder -e, talvez, da mesma forma
que Malan o faria.
"A crise teria sido evitada se as
medidas fiscais tivessem sido
aprovadas há três semanas", disse
Fischer, aludindo ao pacote de
ajuste fiscal que está em final de
tramitação no Congresso.
O representante do FMI defendeu, para o futuro imediato "uma
política monetária crível, clara e
transparente para os mercados".
Com ela (e o pacote fiscal), Fischer supõe que possa ser resgatada
a credibilidade, o que, no entanto,
leva tempo, admitiu.
Terminou a resposta com uma
frase que o presidente Fernando
Henrique vem usando: "O Brasil
vai sair mais forte" (da crise).
Durante o debate, Fischer fez
uma dura crítica aos críticos do
FMI, mas, ao mesmo tempo, admitiu inadequações nos programas
do Fundo para a Ásia, em tudo similares ao que está sendo recomendado ao Brasil.
Fischer ficou irritado com as críticas à ausência de defesas sociais
em tais programas, citou as que foram incluídas nos executados na
Ásia e se disse "ofendido por ouvir
coisas que não são verdadeiras".
Defendeu igualmente a elevação
das taxas de juros, imposta aos países asiáticos e ao Brasil e fortemente criticada por economistas como
Jeffrey Sachs: "O aumento dos juros funcionou. Eles podem baixar
quando a moeda se estabiliza, como ocorreu na Tailândia".
Mas admitiu que o Fundo avaliou mal a extensão da recessão na
Ásia, o que, por sua vez, levou a
exigir políticas fiscais "um pouco
apertadas demais no começo".
No Brasil, o ajuste fiscal terá o
imponente tamanho de cerca de
R$ 27 bilhões.
Fischer não foi o único a lamentar o que deixou de ser feito em
tempo no Brasil.
Os líderes mundiais reunidos em
Davos mostraram certa perplexidade com o fato de que, embora
houvesse certa semelhança entre a
crise brasileira e a do México (94),
as lições desta não foram assimiladas pelas autoridades brasileiras.
Essa perplexidade surgiu durante as discussões informais das autoridades governamentais presentes em Davos e relatada ontem aos
jornalistas pelo senador norte-americano John Kerry e por Howard Davies, da "Financial Services Authority", o organismo regulador britânico. Os dois são os relatores do encontro.
A semelhança, contou Davies,
estava no fato de que o México
também reagiu, inicialmente, à fuga de capitais mudando a sua banda cambial. Durou três dias.
Os líderes mundiais acharam
que o Brasil, dada a experiência
mexicana, não repetiria esse erro
de "gerência de curto prazo".
Davies, no entanto, alertou que a
discussão sobre o Brasil fora muito
ligeira, por estar a crise em pleno
andamento e por não haver uma
única autoridade brasileira presente aos encontros informais.
O chanceler Luiz Felipe Lampreia esteve em Davos, mas não
participou dessas reuniões.
(CLÓVIS ROSSI)
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