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Banco Mundial contabiliza 100 crises
nos últimos 25 anos e espera mais
do enviado especial a Davos
Joseph Stiglitz, vice-presidente
sênior do Banco Mundial, fez as
contas e concluiu: nos últimos
25 anos, 80 ou até 100 países sofreram crises econômicas, dependendo do critério a ser utilizado para definir crise.
Má notícia? É, mas não é a pior.
"Com qualquer aperfeiçoamento que se venha a adotar na
prevenção de crises, ainda assim
haverá crises, menos virulentas,
menos freqüentes, mas crise, de
todo modo", diz Stanley Fischer,
vice-diretor-gerente do FMI
(Fundo Monetário Internacional), exatamente o organismo
que deveria prevenir ou gerenciar as crises.
Reforça Heiner Flassbeck, secretário de Finanças da Alemanha: "As crises são inevitáveis".
De volta a Stiglitz: "Mesmo
economias bem gerenciadas podem ser adversamente afetadas".
Contrapõe Fischer: "Países
que adotam boas políticas se
saem melhor, mas é também
verdade que os mercados reagem excessivamente, criando
ondas de pessimismo ou de otimismo".
Tudo somado, torna-se absolutamente natural que a agenda
internacional esteja dominada
pela expressão "reforma da arquitetura financeira internacional".
Na prática, significa reformar
o modo de operar do FMI, do
Banco Mundial, dos bancos privados e até dos governos.
Mas, até agora, o único passo
adiante na reforma foi a produção de papéis a respeito dela.
Há divergências entre os governos dos países ricos sobre o
que fazer para conter a turbulência global, mas há, igualmente,
discórdias sobre os culpados e
sobre a distribuição dos custos
entre os envolvidos.
Exemplo claro: a crise asiática
é atribuída, em grande medida,
ao fato de que seus sistemas financeiros não estavam preparados para a liberalização do movimento de capitais, que trouxe
enorme fluxo de recursos para
tais países.
Mas, lembra Stiglitz, uma das
crises recentes ocorreu em países escandinavos, "cujas instituições são muito sofisticadas".
Mesmo um banqueiro (Frank
Newman, presidente do norte-americano Bankers Trust) admite: "Freqüentemente, os empréstimos (aos países ditos
emergentes) são feitos por gente
que não faz uma análise profunda".
²
Culpa
Como quem empresta são instituições de países ricos, não
basta culpar os receptores e a
fragilidade de suas instituições.
É por isso que Ginandjar Kartasasmita, ministro da Economia, Finanças e Indústria da Indonésia (uma das vítimas mais
machucadas pela crise), cobra:
"É preciso melhorar o padrão
profissional dos que fazem empréstimos. Eles não avaliaram os
riscos".
Essa é justamente uma das razões centrais pelas quais o FMI
está sob uma barragem formidável de críticas.
Jeffrey Sachs (Universidade de
Harvard), por exemplo, vive dizendo que os programas de ajuda do FMI acabam sendo apenas
uma fiança às instituições financeiras globais.
O dinheiro do Fundo vai para
os países em crise, mas para que
paguem os credores, que ou nada perdem ou perdem menos do
que deveriam pela inadequada
avaliação de riscos.
Admite Fischer: "O problema
mais árduo de se resolver para a
reforma da arquitetura financeira global é o envolvimento do setor privado".
Envolvimento, no caso, é uma
palavra cuidadosa para dizer
que as instituições financeiras
devem assumir sua parte no custo.
Se o debate se ampliar para outro tipo de investimentos (os fluxos de capital que buscam lucros
rápidos e suculentos), as divergências se ampliam mais.
Até um ultraliberal como o secretário norte-americano do Tesouro, Robert Rubin, admite
que "fluxos excessivos não são
uma coisa saudável".
Mas não há o menor consenso
em torno de como evitá-los e
menos ainda em torno de como
evitar que sigam o caminho inverso, a fuga de volta para casa
depois de realizados os lucros.
Tudo somado, difícil discordar de Eisuke Sakakibara, responsável pelas Finanças Internacionais do Japão, que vem dizendo há tempos e repete agora:
"Não se trata de uma crise
asiática, mas de uma crise do capitalismo global".
(CR)
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