São Paulo, segunda, 1 de fevereiro de 1999

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Nem corte resolve o problema de competitividade, afirma diretor

da Reportagem Local

As 2.800 demissões ocorridas na fábrica da Ford em São Bernardo ainda não resolvem o problema de competitividade da montadora.
Talvez nem resolvam a adequação da produção à demanda prevista para este ano.
"Nosso problema é mais sério do que as 2.800 demissões", afirmou o diretor de recursos humanos da Ford, Carlos Augusto Marino, 52, em entrevista à Folha.
A empresa, ao decidir pelas 2.800 demissões, no ano passado, sequer pensava em desvalorização tão acentuada do real, que encarece os custos das peças importadas, nem em uma taxa de inflação elevada.
"Nossa expectativa era de uma taxa de câmbio de R$ 1,20 a R$ 1,30 por dólar e inflação menor que 5%", disse o executivo.
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Produção A Ford hoje já trabalha com a possibilidade de a produção nacional de veículos em 99 cair para algo entre 1,1 milhão e 1,2 milhão de unidades, quando a previsão feita no final de 98, quando se decidiu pelas demissões, era de 1,45 milhão de unidades.
"Desde o final de 97 começamos a ter redução do volume de vendas e de lá para cá esgotamos todos os recursos para evitar demissões", afirmou Marino.
"Sabíamos que precisávamos demitir e esperávamos uma reação, mas decidimos assim mesmo pelas demissões; tem coisas que a gente não consegue evitar", acrescentou o executivo.
No ano passado, a Ford afirma ter gasto cerca de R$ 64 milhões para manter funcionários parados com remuneração, como alternativa à demissão.
Foram cerca de 70 dias úteis de licença remunerada, antecipação de férias coletivas e utilização em larga escala do banco de horas, mecanismo pelo qual o empregado trabalha menos recebendo o mesmo salário, para depois repor as horas devidas à empresa.
Em média, cada empregado da linha de produção encerrou 98 devendo 194 horas de trabalho à Ford, o que corresponde a cerca de 23 dias úteis.
Marino não nega que a necessidade de tornar a fábrica de São Bernardo mais competitiva também pesou na decisão da empresa em demitir.
"Estamos pensando em 99 e no futuro. Vamos continuar discutindo com o sindicato modificações para tornar a empresa mais competitiva", disse.
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Estratégia Ao contrário do que possa parecer, as 2.800 demissões obedeceram a uma estratégia, que provocou acalorados debates internos, afirmou o diretor da Ford.
Marino afirma que a empresa optou por comunicar as demissões dias antes do Natal, durante as férias coletivas, para que o trabalhador demitido já contasse com antecedência com o dinheiro do 13º salário e da participação nos lucros e resultados.
"Teria sido pior comunicar a demissão na volta das férias, em janeiro, quando todo esse dinheiro extra já tivesse sido gasto", explicou Marino.
A empresa nega que tenha por intenção sair do ABC, mas afirma que, para atrair novos investimentos para a região, precisa ter mais competitividade.
(ME)



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