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Nem corte resolve o problema de
competitividade, afirma diretor
da Reportagem Local
As 2.800 demissões ocorridas na
fábrica da Ford em São Bernardo
ainda não resolvem o problema de
competitividade da montadora.
Talvez nem resolvam a adequação da produção à demanda prevista para este ano.
"Nosso problema é mais sério do
que as 2.800 demissões", afirmou o
diretor de recursos humanos da
Ford, Carlos Augusto Marino, 52,
em entrevista à Folha.
A empresa, ao decidir pelas 2.800
demissões, no ano passado, sequer
pensava em desvalorização tão
acentuada do real, que encarece os
custos das peças importadas, nem
em uma taxa de inflação elevada.
"Nossa expectativa era de uma
taxa de câmbio de R$ 1,20 a R$ 1,30
por dólar e inflação menor que
5%", disse o executivo.
²
Produção
A Ford hoje já trabalha com a
possibilidade de a produção nacional de veículos em 99 cair para algo
entre 1,1 milhão e 1,2 milhão de
unidades, quando a previsão feita
no final de 98, quando se decidiu
pelas demissões, era de 1,45 milhão
de unidades.
"Desde o final de 97 começamos
a ter redução do volume de vendas
e de lá para cá esgotamos todos os
recursos para evitar demissões",
afirmou Marino.
"Sabíamos que precisávamos demitir e esperávamos uma reação,
mas decidimos assim mesmo pelas
demissões; tem coisas que a gente
não consegue evitar", acrescentou
o executivo.
No ano passado, a Ford afirma
ter gasto cerca de R$ 64 milhões
para manter funcionários parados
com remuneração, como alternativa à demissão.
Foram cerca de 70 dias úteis de licença remunerada, antecipação de
férias coletivas e utilização em larga escala do banco de horas, mecanismo pelo qual o empregado trabalha menos recebendo o mesmo
salário, para depois repor as horas
devidas à empresa.
Em média, cada empregado da
linha de produção encerrou 98 devendo 194 horas de trabalho à
Ford, o que corresponde a cerca de
23 dias úteis.
Marino não nega que a necessidade de tornar a fábrica de São
Bernardo mais competitiva também pesou na decisão da empresa
em demitir.
"Estamos pensando em 99 e no
futuro. Vamos continuar discutindo com o sindicato modificações
para tornar a empresa mais competitiva", disse.
²
Estratégia
Ao contrário do que possa parecer, as 2.800 demissões obedeceram a uma estratégia, que provocou acalorados debates internos,
afirmou o diretor da Ford.
Marino afirma que a empresa
optou por comunicar as demissões
dias antes do Natal, durante as férias coletivas, para que o trabalhador demitido já contasse com antecedência com o dinheiro do 13º
salário e da participação nos lucros
e resultados.
"Teria sido pior comunicar a demissão na volta das férias, em janeiro, quando todo esse dinheiro
extra já tivesse sido gasto", explicou Marino.
A empresa nega que tenha por
intenção sair do ABC, mas afirma
que, para atrair novos investimentos para a região, precisa ter mais
competitividade.
(ME)
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