São Paulo, segunda, 1 de fevereiro de 1999

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Volks quer fabricar só um carro na Anchieta

ARTHUR PEREIRA FILHO
da Reportagem Local

A Volkswagen pretende fazer uma reforma geral na fábrica de São Bernardo, a maior e mais antiga unidade da empresa no país.
Dentro de no máximo cinco anos, a montadora vai produzir no ABC apenas uma família de veículos compactos, a PQ-24, que está em fase final de projeto.
O objetivo da Volkswagen é transformar a Anchieta, inaugurada em setembro de 1957, em uma das fábricas mais modernas do grupo, com logística mais simples e produtos e linhas de montagem menos complexos.
Atualmente, a empresa produz em São Bernardo a família Gol (que inclui Saveiro e Parati), Santana, Quantum e a velha Kombi. "A Anchieta hoje parece mais uma cidade. Vamos transformar a cidade em uma fábrica moderna", diz Herbert Demel, na presidência da Volkswagen do Brasil desde 1997.
Demel não diz quanto vai custar a remodelação completa da Anchieta. "Com certeza vamos investir nesse projeto mais de US$ 1 bilhão". Os recursos estão previstos no plano de investimentos da Volks até 2002, de US$ 3,5 bilhões.
As obras já começaram. Segundo Demel, vários prédios, que não estavam sendo utilizados, foram demolidos. A empresa pretende demolir mais alguns até completar a remodelação projetada.
"Não estamos planejando construir novas fábricas. Vamos investir nas unidades já existentes. Vamos restaurar fábricas e modernizar produtos", afirma.
Esses planos não foram abalados pela crise cambial enfrentada pelo país. Os investimentos, diz Demel, foram projetados no longo prazo e serão mantidos.
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Vida longa O PQ-24 -"apenas um nome louco para ser usado pelos jornalistas", conta Demel- será produzido em grande escala, como o Gol, carro mais vendido do país, e terá um design conservador.
"Um carro que precisa atrair muitos consumidores não pode ser um modismo, não pode ter design semelhante ao Ka ou ao novo Fusca", explica.
Demel faz questão de dizer que o novo projeto não vai substituir o Gol, que, segundo ele, sai da Anchieta, mas continuará em produção na fábrica de Taubaté.
Para o presidente da Volkswagen, com o PQ-24 a montadora deixará de ser tão dependente do Gol, que hoje é responsável por 70% das vendas da marca no país.
"É um sucesso, por um lado, mas um perigo por outro. Porque se você depende demais de um modelo, e esse modelo se enfraquece por qualquer razão, o impacto é forte."
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Aposta no ABC A Volks decidiu investir na reforma da Anchieta, apesar de reconhecer que o ABC se tornou menos competitivo em relação a outras regiões do país. "Hoje, a maioria dos investimentos é feita fora do ABC. Essa é a pratica atual."
Mas Demel acredita que é possível levar adiante o projeto. "Se todos se comportarem da forma tão madura como aconteceu na última decisão, dá para fazer." É uma referência ao acordo que, no final de 98, evitou a demissão de 7.500 funcionários e permitiu o corte de salários com redução de jornada.
Ele diz que é possível modernizar a Anchieta sem drásticos cortes de pessoal. Segundo Demel, se houver a retomada do mercado "poderemos permanecer com o que temos". Hoje a Anchieta tem 19.500 funcionários.
Apesar dessa previsão otimista, ele admite que a tendência da indústria é cada dia produzir mais com menos mão-de-obra, e que redução ocorre ano a ano.
Na Anchieta, atualmente é preciso mais de 30 horas para fazer um carro. Segundo Demel, é possível fazer isso em apenas 10 horas.
A redução do tempo que o operário gasta para fabricar um carro representa um indiscutível ganho de competitividade para a empresa, e reduz postos de trabalho na montadora. Mas, em compensação, diz, os fornecedores vão gastar mais horas para produzir componentes e terão de criar novas vagas.



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