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Volks quer fabricar só
um carro na Anchieta
ARTHUR PEREIRA FILHO
da Reportagem Local
A Volkswagen pretende fazer
uma reforma geral na fábrica de
São Bernardo, a maior e mais antiga unidade da empresa no país.
Dentro de no máximo cinco
anos, a montadora vai produzir no
ABC apenas uma família de veículos compactos, a PQ-24, que está
em fase final de projeto.
O objetivo da Volkswagen é
transformar a Anchieta, inaugurada em setembro de 1957, em uma
das fábricas mais modernas do
grupo, com logística mais simples
e produtos e linhas de montagem
menos complexos.
Atualmente, a empresa produz
em São Bernardo a família Gol
(que inclui Saveiro e Parati), Santana, Quantum e a velha Kombi.
"A Anchieta hoje parece mais uma
cidade. Vamos transformar a cidade em uma fábrica moderna", diz
Herbert Demel, na presidência da
Volkswagen do Brasil desde 1997.
Demel não diz quanto vai custar
a remodelação completa da Anchieta. "Com certeza vamos investir nesse projeto mais de US$ 1 bilhão". Os recursos estão previstos
no plano de investimentos da
Volks até 2002, de US$ 3,5 bilhões.
As obras já começaram. Segundo
Demel, vários prédios, que não estavam sendo utilizados, foram demolidos. A empresa pretende demolir mais alguns até completar a
remodelação projetada.
"Não estamos planejando construir novas fábricas. Vamos investir nas unidades já existentes. Vamos restaurar fábricas e modernizar produtos", afirma.
Esses planos não foram abalados
pela crise cambial enfrentada pelo
país. Os investimentos, diz Demel,
foram projetados no longo prazo e
serão mantidos.
²
Vida longa
O PQ-24 -"apenas um nome
louco para ser usado pelos jornalistas", conta Demel- será produzido em grande escala, como o Gol,
carro mais vendido do país, e terá
um design conservador.
"Um carro que precisa atrair
muitos consumidores não pode
ser um modismo, não pode ter design semelhante ao Ka ou ao novo
Fusca", explica.
Demel faz questão de dizer que o
novo projeto não vai substituir o
Gol, que, segundo ele, sai da Anchieta, mas continuará em produção na fábrica de Taubaté.
Para o presidente da Volkswagen, com o PQ-24 a montadora
deixará de ser tão dependente do
Gol, que hoje é responsável por
70% das vendas da marca no país.
"É um sucesso, por um lado, mas
um perigo por outro. Porque se você depende demais de um modelo,
e esse modelo se enfraquece por
qualquer razão, o impacto é forte."
²
Aposta no ABC
A Volks decidiu investir na reforma da Anchieta, apesar de reconhecer que o ABC se tornou menos
competitivo em relação a outras
regiões do país. "Hoje, a maioria
dos investimentos é feita fora do
ABC. Essa é a pratica atual."
Mas Demel acredita que é possível levar adiante o projeto. "Se todos se comportarem da forma tão
madura como aconteceu na última
decisão, dá para fazer." É uma referência ao acordo que, no final de
98, evitou a demissão de 7.500 funcionários e permitiu o corte de salários com redução de jornada.
Ele diz que é possível modernizar
a Anchieta sem drásticos cortes de
pessoal. Segundo Demel, se houver
a retomada do mercado "poderemos permanecer com o que temos". Hoje a Anchieta tem 19.500
funcionários.
Apesar dessa previsão otimista,
ele admite que a tendência da indústria é cada dia produzir mais
com menos mão-de-obra, e que redução ocorre ano a ano.
Na Anchieta, atualmente é preciso mais de 30 horas para fazer um
carro. Segundo Demel, é possível
fazer isso em apenas 10 horas.
A redução do tempo que o operário gasta para fabricar um carro representa um indiscutível ganho de
competitividade para a empresa, e
reduz postos de trabalho na montadora. Mas, em compensação, diz,
os fornecedores vão gastar mais
horas para produzir componentes
e terão de criar novas vagas.
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