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São Paulo, sábado, 01 de março de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Instituição conclui que empresas já reajustam preços sem se preocupar com sua participação no mercado

Banco Central detecta sinais de inércia inflacionária

Adriano Machado - 06.fev.03/BG Press
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que disse que pode criar Imposto de Exportação para determinados setores


GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Nos últimos meses, a inflação tem dado forte sinais de ter se espalhado por todos os setores da economia. Segundo a Folha apurou, o Banco Central detectou que muitas empresas começaram a reajustar seus preços sem se preocupar com o fato de estarem perdendo ou não market share (participação).
Para o Banco Central, trata-se de um sinal claro de inércia inflacionária. Foi essa preocupação que levou o BC a elevar os juros (Selic) para 26,5% e a aumentar a alíquota de recolhimento compulsório sobre os depósitos à vista dos bancos de 45% para 60%.
Na ata do Copom, divulgada na quarta-feira passada, o Banco Central dá claras indicações de preocupação com o risco de inércia inflacionária. O BC também chama a atenção para o fato de o núcleo da inflação de janeiro, apesar da pequena queda em relação a dezembro, ainda se manter num patamar bastante elevado.
O economista Sérgio Werlang, ex-diretor do Banco Central e atualmente no Banco Itaú, acha que será inevitável um novo aumento dos juros. "A inflação não está mais localizada. O processo de aumento de preços se generalizou", afirma Werlang.
O ex-diretor do BC fez uma conta que mostra a generalização dos aumentos de preços. Ele calculou qual o peso dos componentes no IPCA (o índice oficial de inflação) que mantinham variação nula ou negativa nos preços, desde agosto de 1999, ano da desvalorização.
Até janeiro deste ano, uma média de 34,3% dos preços no IPCA não se mexeu ou até caiu. Em janeiro, esse índice despencou para 7%. Esses números demostram claramente a generalização dos reajustes.
Até há pouco tempo, os reajustes estavam concentrados nos preços que tinham o dólar como referência, como os chamados administrados (gasolina, luz, telefone etc.) e os bens de exportação. Agora, os preços livres, que antes estavam contidos pelo desaquecimento do mercado, começaram a subir.
Apesar de ter adotado medidas duras na última reunião do Copom, o Banco Central acha que só essas decisões podem não ser suficientes para conter o crescimento da inflação.
O Banco Central acha que o ideal, de acordo com o que a Folha apurou, é o governo pisar no acelerador para tentar aprovar as reformas estruturais, em especial a da Previdência.
A autonomia do Banco Central é outro ponto considerado importante, mas, segundo a Folha apurou, a equipe econômica do governo já começa a sentir dificuldades de vê-la aprovada, diante de tantas resistências no próprio PT.
Caso o governo não acelere as reformas, a dosagem de aumento dos juros terá que ser muito maior e poderá aumentar o processo de recessão na economia.

Austeridade
O economista Paulo Leme, da Goldman Sachs, acha que, se o governo quiser reduzir a inflação, terá de persistir na austeridade fiscal e monetária e aprovar reformas estruturais antes de junho.
Para o economista, deixar de lado o processo de autonomia do Banco Central é um erro. A seu ver, essa medida e a Lei de Falências deveriam ser as duas primeiras na pauta do Congresso em março e abril.
Leme considera que o projeto da reforma da Previdência também deveria ser enviado ao Congresso até abril.
Leme acredita que haja muita desconfiança por parte dos investidores principalmente com relação à política microeconômica do governo, apesar de a política macroeconômica estar na direção correta. "Isso afeta a confiança das empresas e poderá deprimir o volume de investimentos, nacionais e estrangeiros", afirmou.


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