São Paulo, terça-feira, 01 de março de 2005

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Para diretor do Banco Central, inflação está mais perto da meta

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Rodrigo Azevedo, afirmou ontem que o Brasil caminha para o cumprimento da meta de inflação neste ano. "A probabilidade de que a inflação se aproxime do centro da meta é maior hoje do que quando o BC iniciou o atual ciclo de elevações dos juros", disse Azevedo em seminário promovido pela Febraban em São Paulo.
Numa análise sobre a política monetária do BC, Azevedo argumentou ainda que "o instrumento usado [para conter a inflação] tem sido eficaz".
No entanto, entre os economistas participantes do evento, o tom em relação à meta de inflação era outro. Para Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, ainda há indícios de inércia inflacionária na economia brasileira. "O Brasil não está condenado a ter metas de inflação altas, mas a inércia está presente e se relaciona a mecanismos formais e informais de indexação de inflação", afirmou. Como exemplo, ele citou índices que reajustam os contratos públicos.
Outro componente que pode atrapalhar o cumprimento da meta é a possibilidade de choques de oferta, como a elevação dos preços das commodities em 2004. "Ainda há razoável dúvida sobre os efeitos defasados dos choques do ano passado", avaliou Loyola.
Para os economistas presentes no evento da Febraban, esse conjunto de fatores pode atrasar o funcionamento da política monetária, o que poderia causar uma "overdose" de elevação de taxas de juros por parte do BC como forma de conter as pressões inflacionárias.
Apesar de dificuldades para alcançar o objetivo da taxa de inflação de 5,1%, a elevação do centro da meta foi descartada pelos economistas. "Aumentar o centro da meta é uma falsa solução. Seria uma sinalização [para o mercado] de que o controle da inflação não é tão importante assim", afirmou Claudio Haddad, diretor-presidente do Ibmec.

Câmbio e inflação
A apreciação do real é apontada como uma aliada para o cumprimento da meta de inflação. "O câmbio não é problema. É parte da solução", diz Loyola, ex-BC.
"Acredito que a queda do dólar vai ser acompanhada de queda da inflação", afirmou Ilan Goldfajn, ex-diretor de Política Econômica do BC. Mas a discussão sobre a valorização da moeda brasileira desperta as lamúrias do setor exportador brasileiro. Discussões sobre algum mecanismo de entrada de capitais a fim de conter a escalada do real têm surgido.
Para Goldfajn, porém, usar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para reduzir o influxo de capitas seria um erro. "Estamos num momento político e econômico ideal para fazer o inverso: liberalizar e desburocratizar o mercado cambial", afirmou. O mesmo argumento foi defendido por outros economistas.
O diretor de Política Monetária do BC afirmou que o tema interessa a instituição. "Desburocratizar e simplificar as normas cambiais brasileiras estão na agenda. As normas foram feitas num contexto totalmente diferente do de hoje", afirmou ele.
Segundo Azevedo, na agenda do BC está também a diminuição do patamar do depósito compulsório. Mas esse é um projeto "de médio a longo prazo".
A curto prazo, o BC promove políticas de recomposição de reservas internacionais. "As condições de mercado nos permitem isso. Temos quem queira vender [moeda]. Aproveitamos."


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