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RECEITA ORTODOXA
País economiza R$ 11,4 bi, ou 7,43% do PIB, para o pagamento de juros, maior resultado para o mês
Aperto fiscal atinge recorde em janeiro
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O setor público (União, Estados,
municípios e estatais) registrou
um superávit primário de R$ 11,4
bilhões em janeiro, o melhor resultado para o período desde
1991, quando esse tipo de informação passou a ser calculado pelo
Banco Central. Superávit primário é a economia de receitas feita
pelo governo para o pagamento
de juros da dívida pública.
Mesmo economizando o equivalente a 7,43% do PIB (Produto
Interno Bruto), o governo não
conseguiu pagar os juros do período, equivalentes a R$ 12,3 bilhões ou 8,02% do PIB. Como resultado, o Brasil teve um déficit
nominal -ou seja, receitas menos despesas incluindo gastos
com juros- de R$ 902 milhões
em janeiro. Foi o menor déficit
para o mês desde 1991.
O aumento das despesas com o
pagamento de juros acompanha a
evolução da taxa Selic, que em janeiro estava em 18,25% ao ano e
atualmente está em 18,75%. Tanto
a Selic como a variação do dólar
produzem impactos no endividamento do setor público. Em janeiro, essa dívida somou R$ 956 milhões, ou 51,5% do PIB.
Houve redução de 0,4 ponto
percentual na comparação com o
resultado de dezembro de 2004 e
de 5,48 pontos percentuais com
janeiro de 2004. A relação dívida/
PIB é um dos indicadores usados
para avaliar a capacidade de um
país de honrar o pagamento da
sua dívida. Quanto menor a relação, melhor a avaliação do país.
A queda na relação dívida/PIB
tem sido explicada pelo aumento
do esforço fiscal, que ficou em
4,6% do PIB em 2004. Outro motivo é a queda do dólar, que ajuda
a reduzir, em reais, a parcela da
dívida com variação cambial.
"As finanças públicas de janeiro
mostram o comprometimento
com o saneamento fiscal", disse o
chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes ontem, ao divulgar o resultado fiscal.
Nas últimas semanas, analistas
colocaram em dúvida o ajuste fiscal devido ao aumento dos gastos
do governo federal.
Esforço federal
Os dados divulgados pelo BC
mostram que o superávit primário da União (Tesouro Nacional,
Banco Central e Previdência Social) ficou em R$ 8,5 bilhões em
janeiro. Os governos estaduais tiveram superávit de R$ 2,1 bilhões,
os municípios economizaram R$
1,1 bilhão e as estatais tiveram déficit de R$ 398 milhões.
De acordo com Lopes, o aperto
fiscal recorde não está relacionado às críticas que o governo federal vem recebendo por causa do
aumento dos gastos, mas é explicado pelo fato de os governos, em
todos os níveis, ainda estarem
com os cofres cheios com a arrecadação do ano passado.
"É natural que o resultado fiscal
seja maior no primeiro trimestre
porque os Orçamentos ainda não
começaram a ser executados",
disse Lopes. Segundo ele, neste
ano isso ocorre sobretudo com os
municípios, que tiveram troca de
governo. "A maioria assume com
os cofres cheios e ainda não teve
tempo para gastar", afirmou.
Em janeiro do ano passado, o
superávit dos municípios foi de
R$ 232 milhões. No caso do governo federal, a economia em janeiro de 2004 havia sido praticamente a metade, de R$ 6,9 bilhões, equivalentes a 5,18% do
PIB. Já a economia dos Estados
aumentou de R$ 1,5 bilhão para
R$ 2,1 bilhões.
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