São Paulo, sexta-feira, 01 de abril de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Consumo das famílias ainda é o menor

DA SUCURSAL DO RIO

Depois da queda em 2003, o consumo das famílias mostrou recuperação em 2004. Os brasileiros consumiram R$ 95 bilhões a mais de um ano para outro. Apesar disso, sua participação no PIB (Produto Interno Bruto) atingiu o menor patamar da série histórica, iniciada em 1991. Segundo o IBGE, o crescimento mais acentuado do investimento e das exportações justificou a redução.
Do total consumido pelas famílias, a maior parte foi fruto do aumento de preços, ou seja, da inflação -R$ 56,8 bilhões ou 60% do valor. O aumento no poder real de compra, no volume de aquisição de produtos, ficou em R$ 38,2 bilhões. Como o IBGE já havia divulgado, o consumo das famílias registrou um crescimento de 4,3% no ano passado, contra uma queda de 1,5% em 2003.
No ano passado, a participação do consumo das famílias no total do PIB ficou em 55,3%, contra 56,7% em 2003. A participação do investimento e da chamada variação de estoque passou de 19,8% em 2003 para 21,3% do PIB em 2004. Já as exportações passaram de 16,4% para 18%.
Segundo a gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, a mudança não representa um quadro menos favorável para a economia. "O consumo das famílias é o que tem maior peso sob a ótica da demanda no cálculo do PIB. Em 2004, ele perdeu participação, porque cresceu, mas cresceu menos do que exportações e investimentos."
Para ela, também pesou o fato de a variação dos preços no consumo das famílias não ter sido tão alta. Palis destacou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registrou uma variação menor, de 6,6%, do que o IPA (Índice de Preços do Atacado), de 10,5%, calculado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).
O economista Bráulio Borges, da consultoria LCA, concorda com a análise feita pelo IBGE. "A participação do consumo das família caiu porque outros setores cresceram mais, não porque o consumo fraquejou."
Já Alex Agostini, economista da GRC Visão, considera o dado preocupante. "Claro que, se um ganha, o outro tem que perder, senão a conta não fecha. Mas o ponto é que o consumo das famílias vem caindo desde meados da década de 90." Para ele, a queda constante da participação do consumo das famílias no PIB reflete a política econômica de arrocho. "Isso aconteceu porque a renda caiu muito por causa de uma política monetária que prioriza a estabilidade de preço e coloca em segundo plano o crescimento da economia", afirma.
O consumo do governo, que cresceu 0,7% em 2004, também teve queda na participação do PIB, passando de 19,9% em 2003 para 18,8% no ano passado.
No consumo do governo, que aglutina gastos em setores como educação e saúde pública, a variação dos preços teve papel ainda mais acentuado. Dos R$ 22,7 bilhões gastos a mais pelo governo, R$ 20,6 bilhões foram resultado do aumento nos preços.
Na mesma comparação, as exportações refletiram o aumento do volume de venda de produtos. Dos R$ 63,6 bilhões vendidos a mais em 2004 em relação a 2003, R$ 45,8 bilhões representaram acréscimo real de volume.
Segundo o IBGE, o PIB per capita (a soma das riquezas divida pelo número de habitantes) atingiu R$ 9.743 em valores correntes. "Isso dá, mais ou menos, US$ 3.300", disse Bráulio Borges. "É um nível razoável, mas a grande questão é que o PIB per capita não reflete a má distribuição de renda. Por isso, é um número enganoso de se olhar." (GABRIELA WOLTHERS)


Texto Anterior: País sobe para 12ª economia do mundo
Próximo Texto: Retomada: Economia mantém crescimento no 1º tri
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.