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Consumo das famílias ainda é o menor
DA SUCURSAL DO RIO
Depois da queda em 2003, o
consumo das famílias mostrou
recuperação em 2004. Os brasileiros consumiram R$ 95 bilhões a
mais de um ano para outro. Apesar disso, sua participação no PIB
(Produto Interno Bruto) atingiu o
menor patamar da série histórica,
iniciada em 1991. Segundo o IBGE, o crescimento mais acentuado do investimento e das exportações justificou a redução.
Do total consumido pelas famílias, a maior parte foi fruto do aumento de preços, ou seja, da inflação -R$ 56,8 bilhões ou 60% do
valor. O aumento no poder real de
compra, no volume de aquisição
de produtos, ficou em R$ 38,2 bilhões. Como o IBGE já havia divulgado, o consumo das famílias
registrou um crescimento de
4,3% no ano passado, contra uma
queda de 1,5% em 2003.
No ano passado, a participação
do consumo das famílias no total
do PIB ficou em 55,3%, contra
56,7% em 2003. A participação do
investimento e da chamada variação de estoque passou de 19,8%
em 2003 para 21,3% do PIB em
2004. Já as exportações passaram
de 16,4% para 18%.
Segundo a gerente de Contas
Nacionais Trimestrais do IBGE,
Rebeca Palis, a mudança não representa um quadro menos favorável para a economia. "O consumo das famílias é o que tem maior
peso sob a ótica da demanda no
cálculo do PIB. Em 2004, ele perdeu participação, porque cresceu,
mas cresceu menos do que exportações e investimentos."
Para ela, também pesou o fato
de a variação dos preços no consumo das famílias não ter sido tão
alta. Palis destacou que o IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) registrou uma variação
menor, de 6,6%, do que o IPA (Índice de Preços do Atacado), de
10,5%, calculado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).
O economista Bráulio Borges,
da consultoria LCA, concorda
com a análise feita pelo IBGE. "A
participação do consumo das família caiu porque outros setores
cresceram mais, não porque o
consumo fraquejou."
Já Alex Agostini, economista da
GRC Visão, considera o dado
preocupante. "Claro que, se um
ganha, o outro tem que perder, senão a conta não fecha. Mas o ponto é que o consumo das famílias
vem caindo desde meados da década de 90." Para ele, a queda
constante da participação do consumo das famílias no PIB reflete a
política econômica de arrocho.
"Isso aconteceu porque a renda
caiu muito por causa de uma política monetária que prioriza a estabilidade de preço e coloca em segundo plano o crescimento da
economia", afirma.
O consumo do governo, que
cresceu 0,7% em 2004, também
teve queda na participação do
PIB, passando de 19,9% em 2003
para 18,8% no ano passado.
No consumo do governo, que
aglutina gastos em setores como
educação e saúde pública, a variação dos preços teve papel ainda
mais acentuado. Dos R$ 22,7 bilhões gastos a mais pelo governo,
R$ 20,6 bilhões foram resultado
do aumento nos preços.
Na mesma comparação, as exportações refletiram o aumento
do volume de venda de produtos.
Dos R$ 63,6 bilhões vendidos a
mais em 2004 em relação a 2003,
R$ 45,8 bilhões representaram
acréscimo real de volume.
Segundo o IBGE, o PIB per capita (a soma das riquezas divida pelo número de habitantes) atingiu
R$ 9.743 em valores correntes.
"Isso dá, mais ou menos, US$
3.300", disse Bráulio Borges. "É
um nível razoável, mas a grande
questão é que o PIB per capita não
reflete a má distribuição de renda.
Por isso, é um número enganoso
de se olhar."
(GABRIELA WOLTHERS)
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