São Paulo, sexta-feira, 01 de abril de 2005

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RETOMADA

Ao contrário do que se previu, indústria não interrompe processo de expansão, apesar de juros e e real em alta

Economia mantém crescimento no 1º tri

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os juros e a inflação subiram, e a taxa de câmbio ficou mais desfavorável às exportações no início deste ano. Ainda assim, a economia brasileira não interrompeu o seu processo de crescimento no primeiro trimestre de 2005.
Levantamento preliminar de representantes de indústrias e do comércio revelam que a economia foi bem nos três primeiros meses deste ano, ao contrário do que se chegou a prever no final de 2004, com a desaceleração constatada em setores industriais.
"O ano começou animado. A indústria de embalagem vendeu no primeiro trimestre entre 2,5% e 3% mais do que em igual período de 2004", disse Fábio Mestriner, presidente da Abre (Associação Brasileira de Embalagem).
Considerada termômetro da economia, por fornecer produtos para boa parte da indústria, o setor de embalagens nota que a demanda não vem apenas dos exportadores mas também das fábricas que abastecem o país.
As indústrias de alimentos, bebidas e tintas puxaram as vendas de embalagens neste ano, assim como os exportadores de produtos agrícolas semi-acabados.
A ansiedade que existia no final do ano passado com a expectativa de que a atividade econômica voltaria a cair por conta da combinação de juros e inflação mais elevados e dólar mais caro se dissipou.
"Dá para afirmar que o cenário econômico é promissor. A inflação subiu, mas a tendência é de queda, assim como no caso dos juros, que também devem cair", disse Heron do Carmo, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-SP).
Consulta do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) com dez grupos industriais de vários setores mostra que a produção no primeiro trimestre deste ano foi igual ao da média constatada em 2004.
"Os empresários disseram que o crescimento na demanda verificado no ano passado foi mantido neste ano. Segundo eles, a economia não enfraqueceu até agora", afirma Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
"O embalo da produção no ano passado se manteve neste primeiro trimestre. Houve acomodação do crescimento, mas não interrupção. Não houve mudança até agora no quadro de 2004 para 2005", afirma Flávio Castelo Branco, coordenador de política econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
A indústria continua crescendo, só que num ritmo um pouco menor do que vinha no melhor período de 2004, especialmente por conta das exportações, segundo informa o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
"As montadoras de carros, as indústrias de carnes, de componentes e de bens de capital foram bem no primeiro trimestre", diz Claudio Vaz, presidente do Ciesp.

Fôlego
Dados preliminares da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) mostra que as fábricas produziram 5,7% mais na comparação com o primeiro trimestre de 2004. "Exportações e aumento da massa salarial deram fôlego ao setor", diz Denis Ribeiro, coordenador do departamento de economia da associação.
A recuperação da massa salarial e o aumento na oferta de crédito são, na análise dos lojistas, os responsáveis também pela melhora do desempenho do comércio.
A estimativa da Fecomercio SP é que o faturamento médio das lojas tenha subido entre 3,5% e 4% no primeiro trimestre sobre igual período de 2004. A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) informa que, de janeiro até a primeira quinzena de março, as vendas a prazo subiram 6,7%. Já as vendas à vista cresceram 4,6%.
"É realmente curioso. Os preços dos carros e os juros subiram, mas isso não teve reflexo nas vendas de veículos", diz José Quelhas, gerente de marketing do grupo Sabrico, revenda da Volks.
A concessionária vendeu 2.300 veículos nos primeiros três meses deste ano, o que significou um crescimento de 15% sobre igual período de 2004. Cerca de 70% das vendas foram financiadas.
O Magazine Luiza, rede de eletrodomésticos e móveis, diz que o faturamento cresceu 20% no primeiro trimestre deste ano sobre igual período do ano passado.
A recuperação da atividade também aconteceu no setor de construção civil, um dos mais dependentes de financiamento. "Desde novembro de 2004 estamos num processo de recuperação, mas ainda temos enorme potencial para crescer", afirmou Eduardo Zaidan, vice-presidente do Sinduscon-SP, sindicato que reúne as construtoras paulistas.

Preocupações
Sondagem feita com empresários do setor no país em fevereiro mostra que, numa escala de 0 a 100, o desempenho do setor está na faixa de 38,2, superior ao que estava em novembro de 2004, de 37,6, mas ainda abaixo do que esteva em agosto de 2004, de 39,09.
Representantes da indústria, do comércio, além de economistas, são unânimes em prever crescimento nos negócios neste ano, embora menor do que em 2004. O que preocupa empresários e economistas é o aumento do petróleo e dos juros nos EUA, o que poderia comprometer o crédito e o desempenho das exportações.


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