São Paulo, sábado, 01 de abril de 2006

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Brasil está mais ofensivo para negociar, diz OMC

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em visita ao Brasil, o diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy, afirmou ontem que vê o Brasil mais "ofensivo" nas negociações para a concretização da Rodada Doha, um acordo global para liberalização comercial.
Ser "ofensivo", na visão de Lamy, significa que o país não está travado para abrir frentes de negociação, ainda que sejam consideradas sensíveis, como alguns setores industriais brasileiros. "A minha experiência mostra que a indústria brasileira está muito competitiva." Mais do que um mero adjetivo, a afirmação de Lamy é um reconhecimento de que o Brasil não exerce uma negociação intransigente.
Apesar do afago, Lamy voltou a pedir ao setor industrial brasileiro, em reunião ontem na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que se prepare para fazer uma abertura maior. "Estou completamente convencido de que vocês vão ter que se mover além da fórmula suíça 30", disse o diretor-geral da OMC.
A atual proposta da indústria brasileira para a redução de tarifas é a aplicação de fórmula suíça com coeficiente 30, conhecida simplesmente como "suíça 30". O mecanismo promoveria um corte de 50% nas tarifas consolidadas de bens industriais.
Já a Fiesp respondeu a Lamy que o Brasil não deverá melhorar a sua oferta industrial se não houver mais avanços nas propostas para a área agrícola feitas pela União Européia e pelos EUA. "Atualmente, a "suíça 30" é o nosso teto. Não estamos fechando as portas, podemos até aceitar uma abertura maior, mas tudo depende do outro lado da negociação. Hoje, a "suíça 30" é muito mais do que eles nos ofereceram", afirmou Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais da Fiesp.

Mais negociações
Após o encontro na Fiesp, em São Paulo, Lamy foi para o Rio de Janeiro para um encontro entre os representantes de comércio do Brasil (ministro Celso Amorim), dos EUA (Robert Portman) e da UE (Peter Mandelson). Entre os participantes do evento na Fiesp, a expectativa em relação a resultados práticos desse encontro era bastante pequena. "Não estou muito otimista com essa reunião, mas acho positivo que haja um esforço em nível tão alto", disse o consultor Mario Marconini.
Sobre o encontro, Lamy, que já ocupou o cargo de Comissário de Comércio da UE, afirmou: "Os três não vão se encontrar para decidir nada. Eles vão explorar, testar novos caminhos e compreender o que é essencial para fazer a negociação andar", avaliou.
Ao término da última reunião ministerial da OMC, em dezembro do ano passado, ficou acertada a definição do ano de 2013 para o fim de todos os subsídios às exportações agrícolas, mas com uma redução "substancial" em 2010. A questão dos subsídios domésticos, entretanto, continua em aberto, assim como as negociações do setor industrial. O encontro dos três países, que continua hoje, tenta encontrar algum ponto de equilíbrio para fazer a negociação de Doha caminhar.
"O que está na mesa agora não é suficiente para que uma negociação aconteça. O tamanho do passo que os países terão que dar cabe aos ministros decidir", argumentou Lamy.


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