|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A nova geração do setor público
O futuro presidente do
Brasil, seja quem for, terá à
sua disposição algo inédito na
moderna história administrativa brasileira: elementos para um
plano de governo, pronto e acabado, e as bases para consolidar
uma nova elite administrativa
no funcionalismo público, como
não se via desde os anos 70.
Os funcionários públicos fizeram o Brasil. No século 19, ajudaram a construir as bases da nação; através do Dasp (Departamento de Administração do
Serviço Público), construíram o
país pós-Estado Novo; nos anos
50, planejaram o primeiro salto
de modernização e, nos anos 70,
o segundo, na incipiente economia industrial brasileira.
Depois, nos anos 80, o trem
descarrilou. Crise de financiamento do Estado, enorme preconceito da opinião pública contra o funcionário público, loteamento de cargos no período pré-Constituição de 1988, tudo contribuiu para o desmantelamento
dos quadros públicos.
Agora está sendo criada uma
nova geração, uma elite que valerá ouro puro, qualquer que seja o próximo presidente eleito.
O resultado pode ser visto no
Relatório Anual de Avaliação do
Plano Plurianual, a segunda
avaliação do Avança Brasil, entregue ao Congresso Nacional
na semana passada. O programa consolida três feitos expressivos.
Primeiro, avança no conceito
de gestão por programa. Depois,
cria uma nova geração de funcionários públicos, nas novas
carreiras de Estado.
Em vez do processo tradicional, que retalha o Orçamento
em despesas soltas, definiram-se
inicialmente 28 macroobjetivos,
tais como "criar ambiente macroeconômico favorável ao crescimento sustentável", "sanear as
finanças públicas", "melhorar a
gestão ambiental", "reduzir a
mortalidade infantil" e assim
por diante. Depois, cada macroobjetivo foi desdobrado em
programas, 387 ao todo, de forma interministerial. E cada programa foi desdobrado em ações.
Cada programa teve um objetivo, ligado às expectativas da
sociedade, um indicador e uma
definição das ações, tanto no
plano físico como financeiro. Em
dois volumes, com 883 e 1.205
páginas, respectivamente, foram
avaliadas e relatadas 4.000
ações.
Cada programa teve um gerente responsável, indicado por
seu ministério (embora os programas envolvessem vários ministérios, cada qual tinha um
responsável). O início do treinamento foi um manual de avaliação de programa para todos os
gerentes, incluindo Forças Armadas, Saúde e Relações Exteriores. A idéia era ter um mínimo de normatização.
Em campo, os gerentes estão
em contato permanente com a
coordenação, por meio da rede.
Além disso, para cada dez gerentes há um monitor que se senta
para discutir e orientar. Os monitores são analistas de planejamento e orçamento formados
pela Enap, dentro das novas carreiras estratégicas do governo,
admitidos por concurso público
e com quatro meses de curso de
qualificação.
Medição
Até então não havia correlação entre o que se gastava e o
que se realizava. Em 2000, primeiro ano de implantação do
programa, foi possível avaliar
37% dos 340 programas. Em
2001 chegou-se a 43%. Se excluídos três ministérios fisiológicos
(Transportes, Desenvolvimento
Urbano e Integração Nacional),
o resultados sobe para 74% .
Tome-se o exemplo do Programa Cinema, Som e Vídeo. O indicador de acompanhamento é a taxa de participação do filme
brasileiro no mercado de salas
de exibição.
A meta era atingir 20% no final do (PPA) Plano Plurianual.
No final de 2001, o índice apurado foi de 10,6%. Em cima desses
dados, o gerente apresenta suas
expectativas para alcançar a
meta proposta. No caso, a expectativa registrada foi de "baixa
probabilidade".
O programa não garante o
cumprimento total das metas
propostas. Permite a organização das ações e o acompanhamento, para identificar sucessos
e fracassos. Ponto essencial, permite mensurar as ações. Só assim é possível medir desempenho, as decisões de alocação de
recursos, de melhoria dos gerentes e da gestão pública.
Volto ao tema em outra coluna.
E-mail - lnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Artigo: Crescimento de 5,8% dos EUA não afasta risco de recessão Próximo Texto: Conjuntura: Indústria de SP ainda não viu fundo do poço Índice
|