São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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CONJUNTURA

Produção industrial cai no primeiro trimestre, deve recuar de novo em abril, e Fiesp não prevê menos desemprego

Indústria de SP ainda não viu fundo do poço

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O nível de atividade da indústria paulista recuou 1,7% em março e colocou a produção nos mesmos níveis registrados há um ano. O resultado do mês passado adia a recuperação do setor para o segundo semestre, na avaliação da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"O primeiro trimestre não acabou bem, e nós acreditamos que ainda não chegamos ao fundo do poço", afirmou Clarice Messer, diretora da Fiesp. Ela divulgou ontem os números do INA (Indicador do Nível de Atividade), que mostram que, com o resultado negativo de março, a atividade industrial fechou em queda de 2,8% no primeiro trimestre deste ano em relação aos três primeiros meses de 2001.
No mês passado, os trabalhadores da indústria paulista trabalharam menos horas. As horas trabalhadas na produção caíram 1,5%. Já as horas trabalhadas médias, que mostram se aumentou ou diminuiu o número de horas trabalhadas por empregado, caíram 2,5% em março.
"Isso mostra que não há intenção de contratar pessoal", diz Clarice. "Não faz sentido contratar novos trabalhadores quando os já contratados estão trabalhando cada vez menos", completa a diretora da Fiesp.

Frustração
O resultado de março frustrou as expectativas da Fiesp que, até fevereiro, previa que a indústria poderia começar a crescer novamente a partir do segundo trimestre. A "mudança radical" de cenário, afirma Clarice, ocorreu no mês passado, quando "ficou claro que o Banco Central suspenderia a política de redução dos juros".
A queda da renda dos trabalhadores e os juros altos são, na avaliação da diretora da Fiesp, os dois principais entraves ao crescimento do setor industrial. A recuperação será mais lenta do que a inicialmente prevista, segundo Clarice, porque os juros irão cair menos do que o esperado.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o rendimento dos trabalhadores brasileiros sofreu uma queda real -ou seja, já descontada a inflação- de 6,3% nos doze meses terminados em fevereiro.
A taxa de juros básica, definida pelo Banco Central, caiu de 19% em janeiro para 18,50% em março. Em abril, o Banco Central decidiu manter a taxa de juros no patamar atual, interrompendo a tendência de queda.
Outra barreira enfrentada pela indústria paulista é o alto grau de incerteza enfrentado pelos empresários. Clarice citou pesquisa divulgada na semana passada pela Fiesp. O estudo mostrava a queda da intenção de investimento dos empresários do setor.
Segundo a pesquisa, um número menor de empresários iria investir este ano -quando comparado ao número de industriais que investiram no ano passado- por conta da incerteza quanto à continuidade da recuperação econômica. "Há muitas dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento", afirmou Clarice.
A previsão da Fiesp é a de que o nível de atividade volte a cair em abril. Uma recuperação mais forte viria, na avaliação de Clarice, apenas a partir do segundo semestre.
"A atividade da indústria está travada pela falta de crédito", afirmou. Segundo o Banco Central, o volume de operações de crédito cresceu apenas 2,3% no primeiro trimestre deste ano. No ano passado, o crescimento foi de 10,6% no mesmo período.
Clarice citou o exemplo do setor de material de transporte que, diz ela, é fortemente afetado pela falta de crédito na economia. Em março, o setor cresceu 0,6%. "O resultado está mascarado por conta de setores como o de aviação, que entram em material de transporte", explica. Em relação a março do ano passado, o setor sofreu uma queda de 14,2%. "A indústria automobilística depende do crédito para crescer."



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