São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2006

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ARTIGO

Desvendando a grande crise do capitalismo

MARCOS ANTONIO CINTRA
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS

Em 1955, John Kenneth Galbraith compôs o melhor panorama da mais profunda crise da história capitalista. Trata-se de "The Great Crash" -há várias edições em português, como "1929: o Colapso da Bolsa" (Pioneira).
O livro é uma ampla reportagem dos principais eventos da crise. Apóia-se nos jornais da época, mas sem abandonar o rigor teórico, o que lhe permite analisar corretamente a dinâmica e os principais determinantes da crise. De leitura fácil, a narrativa está ao alcance de todos.
Ele descreve que, de 1925 a 1929, a economia americana viveu uma onda especulativa, com valorizações fictícias das ações, títulos de renda fixa e imóveis -alimentadas por capitais de empresas, investidores estrangeiros e poupadores individuais, ávidos por oportunidades de ganhos. Algo semelhante ocorreu nos anos 1990, com a eclosão da "nova economia" e da Nasdaq (Bolsa de informática e telecomunicações).
Daquela feita, as ações das empresas de bens de consumo duráveis (automóveis, rádio, eletrodomésticos) foram as mais valorizadas, uma vez que impulsionaram todo o sistema industrial (aço, vidro, petróleo, máquinas) das primeiras décadas do século 20.
O autor descreve, com grande riqueza de detalhes, que essa onda de especulação foi alimentada pela expansão do crédito bancário. Os bancos apoiaram ativamente a formação de consórcios de investimento e emprestaram recursos a curto prazo a fim de possibilitar operações de lançamento e de valorização de ações e títulos.
Os consórcios, constituídos por carteiras de ações de inúmeras empresas, emitiam suas próprias ações, amplificando a oferta de papéis, que representavam outros papéis, formando um gigantesco "castelo de cartas". A contínua valorização dos ativos fomentava a entrada de capitais, confirmando as expectativas de ganho. Além disso, a taxa de redesconto dos EUA foi reduzida em 1927 para tentar aliviar as pressões sobre a libra esterlina.
Em meados de 1928, no entanto, o Fed (banco central americano), preocupado com a aceleração da taxa de crescimento da economia e com a euforia dos mercados financeiros começou a elevar a taxa de redesconto, provocando o "estouro" da bolha especulativa. Na terça-feira, 29 de outubro de 1929, a Bolsa de Valores de Nova York entrou em colapso.
O índice Dow Jones, que havia crescido 300% entre meados de 1927 e setembro de 1929, mergulhou abruptamente. As ordens de venda se sucediam em avalanche e os preços das ações despencavam. Os investidores queriam se desfazer de suas posições, a fim de evitar maiores perdas.
Mas, a desvalorização das ações foi só o prenúncio da crise, não o seu desfecho. O desastre que se seguiu esteve associado, em grande parte, com as alterações na política econômica americana. Os EUA subiram as taxas de juros de curto prazo, desvalorizaram o câmbio e aumentaram as tarifas alfandegárias, o que lançou o mundo na Grande Depressão.
As economias capitalistas mergulharam em violenta queda de preços das mercadorias, na deflação de ativos, em sucessivas crises bancárias (apenas nos EUA, 5.000 bancos quebraram), em desvalorizações competitivas das moedas, na ruptura do comércio e do sistema internacional de pagamento. O resultado foram quedas acentuadas da produção e explosão do desemprego.
A ordem liberal se fragilizou, tanto do ponto de vista econômico-financeiro como do ponto de vista social e político. A mobilização das massas desempregadas levou ao surgimento de nacionalismos autoritários (Alemanha, Itália e Japão), reforçando o expansionismo bélico e a preparação da Segunda Guerra Mundial. Somente após 1945, sob a hegemonia dos EUA, foi possível reconstruir o sistema mundial.


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