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ARTIGO
Desvendando a grande crise do capitalismo
MARCOS ANTONIO CINTRA
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
Em 1955, John Kenneth Galbraith compôs o melhor panorama da mais profunda crise da história capitalista. Trata-se de "The
Great Crash" -há várias edições
em português, como "1929: o Colapso da Bolsa" (Pioneira).
O livro é uma ampla reportagem dos principais eventos da crise. Apóia-se nos jornais da época,
mas sem abandonar o rigor teórico, o que lhe permite analisar corretamente a dinâmica e os principais determinantes da crise. De
leitura fácil, a narrativa está ao alcance de todos.
Ele descreve que, de 1925 a 1929,
a economia americana viveu uma
onda especulativa, com valorizações fictícias das ações, títulos de
renda fixa e imóveis -alimentadas por capitais de empresas, investidores estrangeiros e poupadores individuais, ávidos por
oportunidades de ganhos. Algo
semelhante ocorreu nos anos
1990, com a eclosão da "nova economia" e da Nasdaq (Bolsa de informática e telecomunicações).
Daquela feita, as ações das empresas de bens de consumo duráveis (automóveis, rádio, eletrodomésticos) foram as mais valorizadas, uma vez que impulsionaram
todo o sistema industrial (aço, vidro, petróleo, máquinas) das primeiras décadas do século 20.
O autor descreve, com grande
riqueza de detalhes, que essa onda
de especulação foi alimentada pela expansão do crédito bancário.
Os bancos apoiaram ativamente a
formação de consórcios de investimento e emprestaram recursos
a curto prazo a fim de possibilitar
operações de lançamento e de valorização de ações e títulos.
Os consórcios, constituídos por
carteiras de ações de inúmeras
empresas, emitiam suas próprias
ações, amplificando a oferta de
papéis, que representavam outros
papéis, formando um gigantesco
"castelo de cartas". A contínua valorização dos ativos fomentava a
entrada de capitais, confirmando
as expectativas de ganho. Além
disso, a taxa de redesconto dos
EUA foi reduzida em 1927 para
tentar aliviar as pressões sobre a
libra esterlina.
Em meados de 1928, no entanto,
o Fed (banco central americano),
preocupado com a aceleração da
taxa de crescimento da economia
e com a euforia dos mercados financeiros começou a elevar a taxa
de redesconto, provocando o "estouro" da bolha especulativa. Na
terça-feira, 29 de outubro de 1929,
a Bolsa de Valores de Nova York
entrou em colapso.
O índice Dow Jones, que havia
crescido 300% entre meados de
1927 e setembro de 1929, mergulhou abruptamente. As ordens de
venda se sucediam em avalanche
e os preços das ações despencavam. Os investidores queriam se
desfazer de suas posições, a fim de
evitar maiores perdas.
Mas, a desvalorização das ações
foi só o prenúncio da crise, não o
seu desfecho. O desastre que se seguiu esteve associado, em grande
parte, com as alterações na política econômica americana. Os EUA
subiram as taxas de juros de curto
prazo, desvalorizaram o câmbio e
aumentaram as tarifas alfandegárias, o que lançou o mundo na
Grande Depressão.
As economias capitalistas mergulharam em violenta queda de
preços das mercadorias, na deflação de ativos, em sucessivas crises
bancárias (apenas nos EUA, 5.000
bancos quebraram), em desvalorizações competitivas das moedas, na ruptura do comércio e do
sistema internacional de pagamento. O resultado foram quedas
acentuadas da produção e explosão do desemprego.
A ordem liberal se fragilizou,
tanto do ponto de vista econômico-financeiro como do ponto de
vista social e político. A mobilização das massas desempregadas
levou ao surgimento de nacionalismos autoritários (Alemanha,
Itália e Japão), reforçando o expansionismo bélico e a preparação da Segunda Guerra Mundial.
Somente após 1945, sob a hegemonia dos EUA, foi possível reconstruir o sistema mundial.
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