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MEMÓRIA
Professor de Harvard e conselheiro de presidentes norte-americanos, ele foi dos mais influentes pensadores dos EUA
Morre o economista John Kenneth Galbraith
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
Morreu aos 97 em Cambridge,
Massachusetts, o professor John
Kenneth Galbraith, autor prolífico e economista crítico ao liberalismo radical.
Freqüente conselheiro de presidentes democratas ao longo de
décadas, Galbraith também era
acessível a milhares de alunos aos
quais lecionou na Universidade
Harvard. Tornou-se conhecido
entre eles pelo carisma, ironia, autoridade intelectual e, muitas vezes, divergências de opinião.
Entre as décadas de 30 e 90, Galbraith ajudou a orientar o partido
Democrata. Foi conselheiro de
John F. Kennedy e seu embaixador na Índia entre 1961 e 1963. Elaborou políticas nos governos de
Franklin Roosevelt e Lyndon
Johnson, com quem rompeu em
discordância sobre a Guerra do
Vietnã.
Também foi responsável pelo
programa de controle de preços
que praticamente controlou a
economia dos Estados Unidos
por boa parte da Segunda Guerra
Mundial. Mais recentemente, foi
consultor também do presidente
Bill Clinton, outro democrata.
Galbraith era popular professor
em Harvard, com palestras que
fugiam do rigor matemático e
econométrico para analisar a sociedade americana, a influência
de corporações, as falhas dos mecanismos de mercado e o crescente problema da pobreza encoberta pela riqueza industrial e econômica no país. Ele argumentou freqüentemente que os Estados Unidos tinham uma proteção social
precária e que a sociedade, dentro
de um forte espírito capitalista,
muitas vezes pecava por falta de
generosidade com os pobres.
"Sociedade Afluente"
Dos 33 livros que escreveu ao
longo da carreira literária, um dos
grandes marcos foi "The Affluent
Society" (A Sociedade Afluente)
em 1958, cujo título cunhou expressão na economia. Mais recentemente, escreveu livros correlatos, como "A Boa Sociedade: Uma
Agenda Humana", no qual expressava que suas preocupações
apenas aumentaram. O professor
defendia investimentos públicos
em, por exemplo, parques e áreas
de lazer, como contraponto às
crescentes riqueza e desigualdade
de indivíduos na economia norte-americana.
Segundo seu biógrafo Richard
Parker, Galbraith entendia a desigualdade como uma ameaça à estabilidade econômica e um "crime moral". Era visto como um
economista-sociólogo, impressão
que se consolidou pela linguagem
coloquial e o foco nas questões sociais e bens públicos na economia.
Ao longo da década de 80, foi
crítico feroz do chamado "Reagonomics" e da propulsão da economia pelo lado da oferta. Seguidor
de John Maynard Keynes, Galbraith defendia grande atuação
do governo, com investimentos
sociais massivos e gastos para
combater o desemprego. Ele também era associado à linha de pensamento de Thorstein Veblen,
que subjugava preceitos econômicos à força modeladora da história e da sociedade.
Ele se dizia "keynesiano evangélico". Carregou bandeiras como a
semana mais curta de trabalho, o
movimento de liberação feminina
e o auxílio internacional para desastres de causa humana. Pelo
que percebia como falhas no
equilíbrio puro de mercado, defendia a ação de sindicatos para
defender trabalhadores e outras
ferramentas de "empoderamento" social.
Crítica ao conservadorismo
Em seu livro, "A View From the
Stands", (1986), criticou a gestão
conservadora: "Consignar a população menos favorecida à negligência e ao desespero, da forma
prescrita por uma sociedade puramente individualista, não é
uma estratégia conservadora
muito conseqüente".
Nascido em 1908, no Canadá,
Galbraith começou a carreira em
Harvard em 1934 e depois passou
três anos na Universidade de
Cambridge, na Inglaterra. Casou
com Catherine Atwater em 1937,
com quem teve três filhos. Todos
menos um dos filhos estavam
com ele quando morreu, no hospital Mount Auburn, onde estava
internado havia duas semanas.
Segundo seu biógrafo, Galbraith estava com a saúde falha
nos últimos anos, porém mantinha a mente ativa e alerta. Ele
morreu de causas naturais.
Depois de se tornar cidadão
americano, lecionou na Universidade Princeton de 1939 a 1940, antes de chefiar o Departamento de
Controle de Preços. Virou professor em Harvard em 1948, onde
permaneceu exceto pelo período
em que foi diplomata na Índia.
Ainda na universidade
Após a aposentadoria, continuava presente no campus e
manteve o título de professor
emérito. Além de esporádicas e
lotadas aulas magnas e palestras
no final da década de 90, Galbraith, figura alta e longilínea,
também freqüentava atividades
estudantis corriqueiras no campus, como leitura de poesias ou
bate-papos com calouros, e tinha
disposição para conversar sobre
suas experiências.
Galbraith também foi apresentador de uma série de televisão no
Reino Unido sobre economia, capitalismo e desenvolvimento econômico. A série, intitulada "The
Age of Uncertainty", depois lhe
rendeu best-seller, que acabou se
transformando em um de seus
mais famosos livros, traduzido
para o português como "A Era da
Incerteza".
Com agências internacionais
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