São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2006

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MEMÓRIA

Professor de Harvard e conselheiro de presidentes norte-americanos, ele foi dos mais influentes pensadores dos EUA

Morre o economista John Kenneth Galbraith

LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK

Morreu aos 97 em Cambridge, Massachusetts, o professor John Kenneth Galbraith, autor prolífico e economista crítico ao liberalismo radical.
Freqüente conselheiro de presidentes democratas ao longo de décadas, Galbraith também era acessível a milhares de alunos aos quais lecionou na Universidade Harvard. Tornou-se conhecido entre eles pelo carisma, ironia, autoridade intelectual e, muitas vezes, divergências de opinião.
Entre as décadas de 30 e 90, Galbraith ajudou a orientar o partido Democrata. Foi conselheiro de John F. Kennedy e seu embaixador na Índia entre 1961 e 1963. Elaborou políticas nos governos de Franklin Roosevelt e Lyndon Johnson, com quem rompeu em discordância sobre a Guerra do Vietnã.
Também foi responsável pelo programa de controle de preços que praticamente controlou a economia dos Estados Unidos por boa parte da Segunda Guerra Mundial. Mais recentemente, foi consultor também do presidente Bill Clinton, outro democrata.
Galbraith era popular professor em Harvard, com palestras que fugiam do rigor matemático e econométrico para analisar a sociedade americana, a influência de corporações, as falhas dos mecanismos de mercado e o crescente problema da pobreza encoberta pela riqueza industrial e econômica no país. Ele argumentou freqüentemente que os Estados Unidos tinham uma proteção social precária e que a sociedade, dentro de um forte espírito capitalista, muitas vezes pecava por falta de generosidade com os pobres.

"Sociedade Afluente"
Dos 33 livros que escreveu ao longo da carreira literária, um dos grandes marcos foi "The Affluent Society" (A Sociedade Afluente) em 1958, cujo título cunhou expressão na economia. Mais recentemente, escreveu livros correlatos, como "A Boa Sociedade: Uma Agenda Humana", no qual expressava que suas preocupações apenas aumentaram. O professor defendia investimentos públicos em, por exemplo, parques e áreas de lazer, como contraponto às crescentes riqueza e desigualdade de indivíduos na economia norte-americana.
Segundo seu biógrafo Richard Parker, Galbraith entendia a desigualdade como uma ameaça à estabilidade econômica e um "crime moral". Era visto como um economista-sociólogo, impressão que se consolidou pela linguagem coloquial e o foco nas questões sociais e bens públicos na economia.
Ao longo da década de 80, foi crítico feroz do chamado "Reagonomics" e da propulsão da economia pelo lado da oferta. Seguidor de John Maynard Keynes, Galbraith defendia grande atuação do governo, com investimentos sociais massivos e gastos para combater o desemprego. Ele também era associado à linha de pensamento de Thorstein Veblen, que subjugava preceitos econômicos à força modeladora da história e da sociedade.
Ele se dizia "keynesiano evangélico". Carregou bandeiras como a semana mais curta de trabalho, o movimento de liberação feminina e o auxílio internacional para desastres de causa humana. Pelo que percebia como falhas no equilíbrio puro de mercado, defendia a ação de sindicatos para defender trabalhadores e outras ferramentas de "empoderamento" social.

Crítica ao conservadorismo
Em seu livro, "A View From the Stands", (1986), criticou a gestão conservadora: "Consignar a população menos favorecida à negligência e ao desespero, da forma prescrita por uma sociedade puramente individualista, não é uma estratégia conservadora muito conseqüente".
Nascido em 1908, no Canadá, Galbraith começou a carreira em Harvard em 1934 e depois passou três anos na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Casou com Catherine Atwater em 1937, com quem teve três filhos. Todos menos um dos filhos estavam com ele quando morreu, no hospital Mount Auburn, onde estava internado havia duas semanas.
Segundo seu biógrafo, Galbraith estava com a saúde falha nos últimos anos, porém mantinha a mente ativa e alerta. Ele morreu de causas naturais.
Depois de se tornar cidadão americano, lecionou na Universidade Princeton de 1939 a 1940, antes de chefiar o Departamento de Controle de Preços. Virou professor em Harvard em 1948, onde permaneceu exceto pelo período em que foi diplomata na Índia.

Ainda na universidade
Após a aposentadoria, continuava presente no campus e manteve o título de professor emérito. Além de esporádicas e lotadas aulas magnas e palestras no final da década de 90, Galbraith, figura alta e longilínea, também freqüentava atividades estudantis corriqueiras no campus, como leitura de poesias ou bate-papos com calouros, e tinha disposição para conversar sobre suas experiências.
Galbraith também foi apresentador de uma série de televisão no Reino Unido sobre economia, capitalismo e desenvolvimento econômico. A série, intitulada "The Age of Uncertainty", depois lhe rendeu best-seller, que acabou se transformando em um de seus mais famosos livros, traduzido para o português como "A Era da Incerteza".


Com agências internacionais


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