São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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FINANÇAS

Nova contabilidade dos fundos de investimento mais comuns revela prejuízo causado pela volatilidade recente do mercado

Mercado tenso dá prejuízo a fundo "seguro"

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Investidores de fundos mais conservadores, como os de renda fixa e os DI, sofreram um baque ontem. Em um só dia, tais fundos registraram perdas que variaram de 0,3% a 3%, segundo a Folha apurou. De acordo com o Banco Central, a maior perda teria sido de 4,67%, mas há possibilidade de prejuízo maior.
Os prejuízos devem atingir milhões de investidores -de pequenos aplicadores a grandes empresas- que têm recursos aplicados nos dois principais tipos de fundos do mercado.
Juntos, os fundos DI e os de renda fixa têm patrimônio líquido de quase R$ 200 bilhões. Segundo analistas, os reajustes de ontem serão suficientes para anular os ganhos que muitos fundos vinham apresentando em maio e até causar prejuízo no mês. Isso porque, até o último dia 27, esses fundos estavam, em média, com rentabilidade de 1,10%.
As perdas foram consequência das tensões recentes no mercado. Ficaram evidentes com os ajustes que os administradores desses fundos tiveram de fazer em suas carteiras por determinação do Banco Central e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Desde fevereiro, o BC havia soltado uma resolução que obrigava os fundos a mudar as regras de contabilidade dos ativos que compõem suas carteiras.
Até então, os administradores contabilizavam seus ativos com base no seu valor esperado para o futuro. Por exemplo: o preço lançado na carteira dos fundos para os títulos indexados à taxa de juros refletia o valor que tais papéis tinham quando foram emitidos pelo governo mais a variação esperada para a taxa Selic até seu vencimento.
Mas, na prática, após emitidos, esses papéis passam a ser negociados no mercado. No dia-a-dia, seu valor pode variar de acordo com vários fatores, como a expectativa de mudanças na taxa de juros e o risco de crédito percebido para esses títulos pelo mercado.
Para permitir que o investidor pudesse acompanhar essas oscilações, o Banco Central decidiu obrigar os gestores a adotar um único método de contabilidade, chamado de "marcação a mercado", que reflete justamente essas variações que os papéis sofrem no dia-a-dia.
A princípio, os administradores de recursos teriam até o fim de setembro para se enquadrar às novas regras. A surpresa desagradável veio na última quarta-feira, quando o BC e a CVM resolveram antecipar esse prazo para ontem. Ou seja, em pleno feriado, os gestores que ainda não haviam começado a se adaptar às novas regras, que eram a grande maioria, tiveram de correr para alterar a contabilidade de seus ativos.
De um dia para o outro, os investidores de fundos DI e renda fixa -os mais afetados pelas mudanças- descobriram que os ativos de suas carteiras estavam subavaliados. A prova disso foram as grandes perdas de rentabilidade amargadas ontem pelos fundos da maior parte dos gestores.


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