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LUÍS NASSIF
Crise de empresas de telecomunicações
A crise da telefonia brasileira é de empresas, não do
modelo. Essa parece ser a conclusão maior, a partir dos debates que estão ocorrendo em Natal (RN), no 44º Painel Telebrasil.
Hoje em dia, já há distanciamento suficiente para um diagnóstico adequado da crise. Nos
últimos anos ocorreram revoluções tecnológicas nas telecomunicações e no sub-ramo da internet. A antiga tecnologia criava barreiras de entrada a novas
empresas do setor, já que dependia de investimentos pesados
em áreas reguladas. Com as novas tecnologias e a desregulamentação do mercado norte-americano, abriu-se espaço para a conquista de novos mercados. Com a possibilidade de
conquistar o mundo montado
nas novas tecnologias, foram
criadas novas empresas às pressas.
Sem histórico de desempenho,
o mercado passou a precificar as
empresas levando em conta seu
faturamento, ao qual se somava
um componente de crescimento.
Os preços chegaram a múltiplos
de 15 sobre o faturamento.
Mais que isso. A estratégia das
empresas foi ocupar espaço,
confiando em novas rodadas de
capitalização para assegurar a
consolidação do negócio. E o
efeito manada foi tão expressivo
que nem sequer as sacrossantas
análises das agências de risco foram consideradas. Como relatou Regina Nunes, diretora-geral da Standard & Poor's brasileira, o mercado preferia uma
empresa de telecomunicações
com péssima avaliação a uma
empresa convencional com média avaliação.
Com capital abundante, o
mercado passou a acreditar que
a oferta criaria automaticamente a demanda. Tal não se
deu por dois fatores. Primeiro, a
dispersão tecnológica, criando
uma infinidade de padrões e de
sistemas concorrentes entre si.
Segundo, o fato de o mercado
não se preocupar em criar necessidade nos clientes, aplicativos que agregassem valor e aumentassem a demanda.
Em cima disso tudo, um volume brutal de investimentos, alguns com recursos próprios, outros captados no mercado,
criando estruturas de capital
absolutamente frágeis. Especuladores acharam ser possível
buscar dinheiro no mercado de
um lado, aliar-se a uma operadora no outro, pagar o preço
que se pedisse pelas licenças e
conseguir criar valor sem colocar um tostão do próprio bolso.
Segundo a Standard & Poor's,
50% dos lançamentos do período, na área de telecomunicações, resultaram em avaliações
negativas. Em 1998, mais de
US$ 7 bilhões foram emitidos
por empresas sem classificação
de risco.
Em 1990, 92% dos "ratings"
das empresas de telecomunicações se encontravam nas categorias de "investment grade" (melhoria de avaliação). Em 2001,
apenas 15% estavam nessa classificação e 20% em "default".
As avaliações da S&P sobre as
empresas que se instalaram no
país no período fala por si. A
Brasil Telecom recebeu uma
avaliação brD. D é uma avaliação sofrível. "Br" significa que, à
avaliação, há que somar o risco
Brasil. Pagou US$ 2,4 bilhões
pelas licenças, gastou US$ 876,5
milhões de capex (despesas de
capital) no período 1998/2001.
Em dezembro de 2001, sua dívida estava em US$ 1,8 bilhão.
Não significa que o setor faliu
nem que se reduziram as possibilidades de crescimento. Cada
vez mais se utilizarão as telecomunicações e as novas ferramentas de internet. Além disso,
há grande acervo de infra-estrutura implantada nesses anos de
antecipação de metas de universalização. O desafio agora é rentabilizar. As empresas terão que
montar novos produtos, nova
engenharia de negócios, criar
novos aplicativos, se associar a
provedores de conteúdo e solução. As muito endividadas, mas
que têm fluxo de caixa positivo,
terão que realizar o prejuízo, ou
dos investidores ou dos credores.
As que não conseguiram entrar
operacionalmente no azul serão
vendidas ou fecharão.
Mas o jogo mal está começando.
E-mail -
lnassif@uol.com.br
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