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CONJUNTURA
Dívida vai a 56,9% do PIB
Ipea já prevê aumento maior da dívida pública
RICARDO REGO MONTEIRO
DA SUCURSAL DO RIO
O Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica e Aplicada), órgão
vinculado ao ministério do Planejamento, revisou para 56,9% a estimativa da relação dívida líquida/PIB (Produto Interno Bruto)
para este ano, anteriormente de
53,4%. Isto é a proporção entre o
que o setor público brasileiro deve em relação à toda a produção
anual de bens e serviços.
Mesmo com a revisão, divulgada no último boletim de conjuntura referente ao mês de abril, o
Ipea ainda permanece mais otimista que o mercado, que chega a
prever um crescimento ainda
maior da dívida do país em relação à riqueza total produzida.
Por causa principalmente das
pressões do câmbio e da estagnação da taxa de juro real em cerca
de 10%, o chefe do Departamento
de Economia da Confederação
Nacional do Comércio, Carlos
Thadeu de Freitas, acredita que a
relação dívida/PIB poderá saltar,
até o final do ano, para algo em
torno de 57% e até 58%.
"Embora as estimativas do Ipea
estejam corretas em seus fundamentos, não levaram em conta fatores como o encurtamento, desde o ano passado, do prazo da
maior parte da dívida atrelada ao
dólar, que hoje representa 45% do
passivo público total", afirma
Thadeu de Freitas, ex-diretor do
Banco Central.
Também preocupado com a
trajetória da relação dívida/PIB, o
economista Alberto Furuguem,
da Macroanálises Consultoria,
considera este o principal indicador da saúde das contas de um
país; mais até do que os superávits
primários. "A relação dívida/PIB
indica a verdadeira capacidade de
solvência de um país", afirma
Thadeu de Freitas, ao concordar
com Furuguem.
O economista Paulo Levy, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea,
afirma que as estimativas foram
elaboradas a partir das previsões
de 17,5% para as taxas de juro,
câmbio a R$ 2,49 na média, e crescimento do PIB de 2,5%. Também leva em conta uma previsão
de superávit primário -receita
menos despesas da administração pública- de 3,5% do PIB.
Os economistas não consideram grande, no entanto, a atual
relação dívida/PIB do Brasil. O
problema é que o caso brasileiro
gera desconfiança no mercado
por causa de fatores como o ritmo
de crescimento da dívida e o total
de riquezas produzidas. A dívida
saltou de 30% para 54,4% do PIB
no governo atual.
"Nossa dívida é curta, cara e
grande em relação à riqueza produzida pelo setor privado. Isso
obviamente é um problema, pois
você tem uma riqueza muito concentrada em um único ativo, que
é a dívida pública", afirma o economista do Ipea. Levy afirma que
somente com a redução do juro
real é que se tornará possível a reversão da trajetória esperada para
a dívida pública do país.
"O problema é que governo já
encontra muita dificuldade para
rolar os papéis cambiais de curto
prazo emitidos a partir do final do
ano passado. Se o mercado continuar a exigir prêmios altos para
rolar esses papéis, ficará difícil
promover a redução da taxa nominal em um prazo curto de tempo", afirma Thadeu de Freitas.
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