São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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CONJUNTURA

Dívida vai a 56,9% do PIB

Ipea já prevê aumento maior da dívida pública

RICARDO REGO MONTEIRO
DA SUCURSAL DO RIO

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada), órgão vinculado ao ministério do Planejamento, revisou para 56,9% a estimativa da relação dívida líquida/PIB (Produto Interno Bruto) para este ano, anteriormente de 53,4%. Isto é a proporção entre o que o setor público brasileiro deve em relação à toda a produção anual de bens e serviços.
Mesmo com a revisão, divulgada no último boletim de conjuntura referente ao mês de abril, o Ipea ainda permanece mais otimista que o mercado, que chega a prever um crescimento ainda maior da dívida do país em relação à riqueza total produzida.
Por causa principalmente das pressões do câmbio e da estagnação da taxa de juro real em cerca de 10%, o chefe do Departamento de Economia da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas, acredita que a relação dívida/PIB poderá saltar, até o final do ano, para algo em torno de 57% e até 58%.
"Embora as estimativas do Ipea estejam corretas em seus fundamentos, não levaram em conta fatores como o encurtamento, desde o ano passado, do prazo da maior parte da dívida atrelada ao dólar, que hoje representa 45% do passivo público total", afirma Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central.
Também preocupado com a trajetória da relação dívida/PIB, o economista Alberto Furuguem, da Macroanálises Consultoria, considera este o principal indicador da saúde das contas de um país; mais até do que os superávits primários. "A relação dívida/PIB indica a verdadeira capacidade de solvência de um país", afirma Thadeu de Freitas, ao concordar com Furuguem.
O economista Paulo Levy, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea, afirma que as estimativas foram elaboradas a partir das previsões de 17,5% para as taxas de juro, câmbio a R$ 2,49 na média, e crescimento do PIB de 2,5%. Também leva em conta uma previsão de superávit primário -receita menos despesas da administração pública- de 3,5% do PIB.
Os economistas não consideram grande, no entanto, a atual relação dívida/PIB do Brasil. O problema é que o caso brasileiro gera desconfiança no mercado por causa de fatores como o ritmo de crescimento da dívida e o total de riquezas produzidas. A dívida saltou de 30% para 54,4% do PIB no governo atual.
"Nossa dívida é curta, cara e grande em relação à riqueza produzida pelo setor privado. Isso obviamente é um problema, pois você tem uma riqueza muito concentrada em um único ativo, que é a dívida pública", afirma o economista do Ipea. Levy afirma que somente com a redução do juro real é que se tornará possível a reversão da trajetória esperada para a dívida pública do país.
"O problema é que governo já encontra muita dificuldade para rolar os papéis cambiais de curto prazo emitidos a partir do final do ano passado. Se o mercado continuar a exigir prêmios altos para rolar esses papéis, ficará difícil promover a redução da taxa nominal em um prazo curto de tempo", afirma Thadeu de Freitas.


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