São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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ARTIGO

Segundo trimestre mostra se há ou não recuperação dos EUA

ALEX SORECKI
MARY CHUNG
DO "FINANCIAL TIMES"

Os executivos-chefes de Wall Street se preparam para um trimestre crucial para os lucros das empresas -um período que pode reforçar a esperança de uma recuperação ou pôr fim a ela.
"Os números de junho sobre os lucros serão os mais importantes. Eles serão o ponto de teste para a recuperação da economia", diz Christopher Wolfe, diretor de estratégia de capitais para os EUA do J.P. Morgan. "Se os lucros das empresas forem piores do que o esperado, o ano terminou. Não será possível compensar a deficiência no segundo semestre".
Alguns executivos já estimam que a recuperação dos lucros vai demorar mais do que o previsto. Thomas McManus, estrategista-chefe de investimentos na Banc of America Securities, declarou que os lucros ficarão estáveis ou cairão um pouco.
Ele disse que as expectativas para o segundo semestre continuam altas demais e previu que os investidores uma vez mais se desapontarão. Com a maior parte das companhias que compõem o índice Standard & Poor's 500 tendo reportado seus resultados para o primeiro trimestre, os lucros das operações continuadas caíram em 9,2% em relação a 2001.
Se o trimestre não cumprir as expectativas, será o sexto período consecutivo de crescimento negativo de lucros entre as empresas que compõem o Standard & Poor's 500.
Com as práticas contábeis das empresas sofrendo escrutínio e a qualidade dos lucros que elas reportam sendo questionada, é difícil excitar-se muito com a recuperação do setor empresarial.
"O pior cenário seria uma recessão de duplo mergulho e um colapso nos lucros por mais um ano. Os desfechos possíveis são muitos no momento, mas há a possibilidade", disse Wolfe.
Richard Bernstein, estrategista-chefe de capitais no Merrill Lynch, espera que os lucros das empresas em 2002 continuem a ser desapontadores, mas disse que em 2003 deve haver melhora. Mas será que os investidores estarão dispostos a esperar pela recuperação dos lucros, ou deixarão as bolsas de valores e investirão seu dinheiro em outras partes?
Mesmo que os investidores se mantenham fiéis às ações, disse Bernstein, ele não acredita que os lucros melhorarão o bastante para justificar as avaliações que as ações têm no mercado.
Ian Harnett, estrategista de capitais da UBS Warburg para o mercado europeu, diz que o consenso sobre o crescimento dos lucros é que "ele será o mais lento desde o começo da década de 90".
Bill McQuaker, estrategista quantitativo do Credit Suisse First Boston, disse que "a melhora continuada nas revisões de lucros que vimos durante os últimos seis meses parece ter-se detido. O número de ações que tiveram melhora em suas classificações, comparadas às que tiveram piora, passou da marca mágica dos 50% em abril, mas caiu de volta aos 48% em maio".
"Esse quadro sugere que os lucros corporativos continuam a caminho da recuperação, mas é um caminho pedregoso. Nem toda empresa ou setor participará da recuperação, e os investidores terão de trabalhar duro para concentrar suas carteiras nas empresas que estão passando por recuperação na demanda e estão bem posicionadas para aproveitá-la. Desta vez, talvez nem todos os barcos subam com a maré", disse. Existe uma tendência entre os analistas de esperar crescimento de lucros superior ao que seria realista admitir.
O Dresdner Kleinwort Wasserstein, em recente conselho aos seus clientes, expressou ceticismo implícito quanto a esses números elevados: "Em termos de estratégia global, esperamos neste ano uma volta a 1999, o que significa que estamos recomendando que os fundos sejam encaminhados a setores com perspectivas razoáveis de crescimento (ou seja, confiáveis e na casa dos dois dígitos)".
Por outro lado, alguns dos administradores europeus de fundos que poderiam, a esta altura, estar completamente desencantados, continuam surpreendentemente positivos.
Jan Mantel, que administra o European Growth Trust na Barings Asset Management, disse que esperar "que os lucros ganhem ímpeto daqui por diante".
"Os lucros no primeiro trimestre caíram entre 15% e 20% em relação ao período de 2001, mas esperamos que os do segundo trimestre sejam semelhantes aos do ano passado, e os do terceiro trimestre subam em até 15%".


Tradução de Paulo Migliacci

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