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BOLA NA REDE
Análise revela que, entre países em recessão, só Argentina acredita que futebol provaria sua "competência"
Copa não é "válvula de escape", diz estudo
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem "válvula de escape" nem
forma de alienação. A Copa do
Mundo é encarada hoje apenas
como um evento esportivo para a
maioria dos países em fase de retração ou estagnação econômica,
como o Brasil, Japão e Alemanha.
A conclusão faz parte de um estudo finalizado nesta semana pela
agência de publicidade norte-americana McCann-Erickson, a
maior do mundo, que ouviu consumidores de 40 países (32 que
disputam a taça e outros 8 que estão fora da competição).
A intenção é revelar sentimentos e expectativas dos consumidores durante o evento e, com base nisso, definir campanhas publicitárias que atinjam o gosto da
população. A agência tem como
clientes Coca-Cola e Mastercard,
patrocinadores oficiais da Copa.
Há fatos curiosos no trabalho,
baseado em pesquisas qualitativas -foram analisados grupos de
20 a 30 pessoas nos 40 países. Ninguém associa a vitória da seleção
de seu país em campo a uma forma de abrandar os problemas socioeconômicos internos.
Nesse caso, há poucas exceções.
Entre os países analisados, apenas
dois, a China e a Argentina, fizeram uma associação entre os temas futebol e desempenho econômico. Para a Argentina, a vitória viria como uma "válvula de escape" para os seus atuais problemas. A principal palavra associada pelos argentinos ao evento foi
"provar a competência do país".
"Isto é particularmente importante para os argentinos em razão
das dificuldades por que têm passado", afirma o estudo. A principal frase ouvida na pesquisa foi "o
futebol é a única coisa que nos
resta para nos sentirmos orgulhosos", informa o estudo realizado
pela agência em Buenos Aires.
A Argentina atravessa uma de
suas maiores crises econômicas.
Segundo consultorias privadas do
país, cerca de 23% da população
economicamente ativa não tem
emprego. Entre os jovens de 18 a
25 anos, o percentual é de 30%.
Já para os os chineses, um bom
desempenho em campo poderia
"coroar", segundo afirmam os
entrevistados, a boa fase de expansão econômica do país - que
cresceu 7,3% em 2001 e 8% em
2000. O restante dos países não
faz relação direta entre futebol e
problemas socioeconômicos.
Os alemães, por exemplo, têm
pouca confiança em seu time,
mas os entrevistados ouvidos pela
sede da agência, em Frankfurt,
não associam o desânimo à falta
de vigor da economia. São coisas
independentes. Há expectativa de
que o país não cresça mais do que
1% neste ano. Em março, a taxa de
desemprego estava em 9,6%,
maior que na Itália e na França e
superior à média européia (8,4%).
"Não há essa associação. Ninguém acha que sua seleção é ruim
porque o país vai de mal a pior.
Nem mesmo esquece de todos os
problemas porque entrou na euforia dos jogos", diz Helena Quadrado, vice-presidente sênior da
McCann-Erickson.
Ainda serão feitas pesquisas durante e após os jogos da Copa para
verificar a impressão dos consumidores em relação ao evento esportivo. No alvo do estudo está o
público classe média, com idades
que variam de 16 a 40 anos.
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