São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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BOLA NA REDE

Análise revela que, entre países em recessão, só Argentina acredita que futebol provaria sua "competência"

Copa não é "válvula de escape", diz estudo

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem "válvula de escape" nem forma de alienação. A Copa do Mundo é encarada hoje apenas como um evento esportivo para a maioria dos países em fase de retração ou estagnação econômica, como o Brasil, Japão e Alemanha.
A conclusão faz parte de um estudo finalizado nesta semana pela agência de publicidade norte-americana McCann-Erickson, a maior do mundo, que ouviu consumidores de 40 países (32 que disputam a taça e outros 8 que estão fora da competição).
A intenção é revelar sentimentos e expectativas dos consumidores durante o evento e, com base nisso, definir campanhas publicitárias que atinjam o gosto da população. A agência tem como clientes Coca-Cola e Mastercard, patrocinadores oficiais da Copa.
Há fatos curiosos no trabalho, baseado em pesquisas qualitativas -foram analisados grupos de 20 a 30 pessoas nos 40 países. Ninguém associa a vitória da seleção de seu país em campo a uma forma de abrandar os problemas socioeconômicos internos.
Nesse caso, há poucas exceções. Entre os países analisados, apenas dois, a China e a Argentina, fizeram uma associação entre os temas futebol e desempenho econômico. Para a Argentina, a vitória viria como uma "válvula de escape" para os seus atuais problemas. A principal palavra associada pelos argentinos ao evento foi "provar a competência do país".
"Isto é particularmente importante para os argentinos em razão das dificuldades por que têm passado", afirma o estudo. A principal frase ouvida na pesquisa foi "o futebol é a única coisa que nos resta para nos sentirmos orgulhosos", informa o estudo realizado pela agência em Buenos Aires.
A Argentina atravessa uma de suas maiores crises econômicas. Segundo consultorias privadas do país, cerca de 23% da população economicamente ativa não tem emprego. Entre os jovens de 18 a 25 anos, o percentual é de 30%.
Já para os os chineses, um bom desempenho em campo poderia "coroar", segundo afirmam os entrevistados, a boa fase de expansão econômica do país - que cresceu 7,3% em 2001 e 8% em 2000. O restante dos países não faz relação direta entre futebol e problemas socioeconômicos.
Os alemães, por exemplo, têm pouca confiança em seu time, mas os entrevistados ouvidos pela sede da agência, em Frankfurt, não associam o desânimo à falta de vigor da economia. São coisas independentes. Há expectativa de que o país não cresça mais do que 1% neste ano. Em março, a taxa de desemprego estava em 9,6%, maior que na Itália e na França e superior à média européia (8,4%).
"Não há essa associação. Ninguém acha que sua seleção é ruim porque o país vai de mal a pior. Nem mesmo esquece de todos os problemas porque entrou na euforia dos jogos", diz Helena Quadrado, vice-presidente sênior da McCann-Erickson.
Ainda serão feitas pesquisas durante e após os jogos da Copa para verificar a impressão dos consumidores em relação ao evento esportivo. No alvo do estudo está o público classe média, com idades que variam de 16 a 40 anos.


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