|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
Tô nem aí, tô nem aí
BENJAMIN STEINBRUCH
O combativo presidente do
BNDES, Carlos Lessa, foi a
Porto Alegre para uma audiência
com o governador Germano Rigotto, na semana passada, e aproveitou a visita para dar um puxão
de orelha nos empresários brasileiros. Lessa reclamou da indiferença de entidades empresariais
ante sua proposta de redução da
TJLP (Taxa de Juros de Longo
Prazo).
Em março, com o apoio do senador Aloizio Mercadante, Lessa
enviou carta ao presidente do
Banco Central na qual sugeriu
que levasse ao Conselho Monetário Nacional a proposta de uma
forte redução na TJLP, como forma de baratear o custo dos empréstimos do BNDES. O governo
não atendeu à sugestão -reduziu a taxa em apenas 0,25 ponto
percentual-, mas Lessa aborreceu-se mais com o comportamento dos empresários e das entidades de classe do que com o governo. "Nem Fiesp, nem Firjan, nem
Fiemg se manifestaram", disse,
numa alusão às federações de indústrias de São Paulo, Rio e Minas Gerais.
Lessa tem razão em sua queixa.
A TJLP é a taxa de juros aplicada
em mais de 430 mil financiamentos oferecidos pelo BNDES ao setor produtivo no Brasil. A redução dessa taxa pode representar
um importante corte de custos financeiros para as empresas tomadoras, de forma a estimular
exportações e investimentos.
Parece estranho o presidente de
um banco reivindicar a redução
de uma taxa de juros cobrada por
ele mesmo. Mas o BNDES não pode diminuir a TJLP por iniciativa
própria. Cabe ao Conselho Monetário Nacional a tarefa de fixar a
taxa, e ao Banco Central, a de determinar a sua aplicação.
A retomada do tema é oportuna porque a TJLP é reavaliada a
cada três meses e está chegando a
hora dessa reavaliação. Em junho, o CMN se reunirá para decidir qual será a taxa para o terceiro trimestre -na mesma reunião
deverá fixar a meta de inflação de
2006 e 2007, bem como revisar a
de 2005.
Pelos critérios atuais, a TJLP é
fixada levando-se em conta a previsão de inflação para 12 meses,
acrescida de uma taxa de risco.
Neste segundo trimestre, a TJLP é
de 9,75%, nível que, na opinião
Lessa, poderia ser reduzido pelo
menos para 8%. De fato, não faz
nenhum sentido manter custos
reais tão altos para investimentos
produtivos de longo prazo. Considerando as metas de inflação de
5,5% para este ano e de 4,5% para
2005, observa-se que a taxa de risco aplicada faz a TJLP representar praticamente o dobro da inflação. Apesar disso, no ano passado, houve uma discussão surrealista sobre a taxa, provocada
pelo FMI, que resolveu oficiosamente considerar a TJLP um subsídio aos tomadores de crédito
brasileiros. A discussão não evoluiu pela elementar observação
de que não há como considerar
subsidiada uma taxa mantida
sistematicamente acima da inflação.
O alerta de Carlos Lessa também é oportuno porque há o risco
de o CMN manter inalterada ou
até aumentar a TJLP na sua reunião de junho, uma vez que se elevaram ligeiramente as previsões
de inflação. Isso seria um verdadeiro golpe baixo contra os interesses do país, exatamente no momento em que a economia começa a retomar o crescimento. Não
há como manter esse novo ritmo
de forma sustentada sem expandir a taxa de investimentos, e, para isso, as empresas precisam dos
recursos -a custos compatíveis- do BNDES, que planeja
emprestar R$ 47 bilhões em 2004.
O CMN é formado exclusivamente por representantes do governo: os ministros da Fazenda e
do Planejamento e o presidente
do Banco Central. Se houvesse
participantes do setor privado
-empresários e trabalhadores,
como já se deu no passado-, poderia certamente refletir melhor
as demandas do país real.
De qualquer forma, espera-se
que o CMN tenha em conta a importância da variável TJLP na
política de apoio ao desenvolvimento da empresa nacional,
constantemente acuada por custos elevados, crédito escasso de
longo prazo e deficiência de capital, fatores que a impedem de investir para produzir e criar empregos.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
Texto Anterior: Exploração de áreas no Brasil atrai empresas Próximo Texto: Luís Nassif: A tecnologia social Índice
|