|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Apreciação do real já prejudica o crescimento
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os números mais favoráveis sobre o desempenho do
PIB brasileiro no primeiro
trimestre deste ano não
constituíram uma surpresa.
De fato, o crescimento apurado sobre o trimestre final
de 2005, de 1,4%, situou-se
no limite inferior da faixa de
1,4% a 2% em que se distribuíam as projeções de bancos e consultorias.
Como a aceleração observada nos primeiros meses do
ano havia sido antecedida
por um período de baixo dinamismo, no período de 12
meses encerrado em março a
expansão da economia ainda
se situou em parcos 2,4% (na
comparação com os 12 meses
findos em março de 2005).
É pouco, sobretudo tendo
em conta que no mesmo período a economia global cresceu a um ritmo de 4,5%.
Ainda assim, o ritmo de
1,4% alcançado no primeiro
trimestre é significativo, pois
corresponde, em termos
anualizados, a uma expansão
de 5,7%. Esse número não
deve induzir o leitor a imaginar que a economia se encaminha para crescer a esse ritmo em 2006 como um todo.
Até a divulgação dos dados
relativos ao primeiro trimestre, as projeções para o crescimento no ano se concentravam distribuíam na faixa
de 3,5% a 4% (a projeção média, de acordo com levantamento realizado pelo Banco
Central junto a dezenas de
instituições, era de 3,6%).
Não parece provável que o
resultado divulgado ontem
vá gerar alteração significativa nessas avaliações.
O destaque positivo na
performance do PIB nos três
primeiros meses do ano foi o
comportamento do investimento. Dentro de uma trajetória oscilante, desde meados de 2004 o investimento
se mantinha basicamente estagnado. Sua recuperação no
primeiro trimestre de 2006
foi clara: ele se expandiu
3,7% sobre o quarto trimestre do ano passado, e constituiu, dentre os vários tipos
de dispêndio que compõem a
demanda agregada, o mais
dinâmico no período, ao lado
das exportações.
O ritmo de alta das exportações foi, no entanto, amplamente superado pelo das
importações. Assim, pela
primeira vez desde 2003 os
dados do PIB apuraram que
o setor externo da economia
-isto é, o balanço entre bens
e serviços exportados e importados- teve expressiva
contribuição negativa para o
crescimento da economia.
Dito de outra forma: no trimestre, o comércio exterior
representou um fator de
queda do PIB. Resultado incômodo para aquela parcela
dos analistas que, invocando
os resultados ainda amplamente positivos da balança
comercial, vinha questionando a pertinência dos alertas quanto aos impactos adversos da apreciação cambial
sobre a atividade econômica.
Olhando à frente, vislumbra-se que alguns dos vetores que contribuíram para a
aceleração do PIB no primeiro trimestre tendem a perder
força, em especial no segundo semestre. A decisão de
ontem do Copom já reduziu
a velocidade de queda dos juros. Ao lado disso, sabe-se
que o investimento público,
cuja aceleração teve papel
relevante na reação do investimento no início do ano, deverá desacelerar.
FERNANDO SAMPAIO, economista, é editorialista da Folha e sócio-diretor da LCA
Consultores.
Texto Anterior: Brasil tem menor crescimento entre os 'Brics' Próximo Texto: Aquecimento: Projeções para PIB do 2º tri oscilam entre 0,9% e 1,7% Índice
|