São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2006

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análise

Apreciação do real já prejudica o crescimento

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os números mais favoráveis sobre o desempenho do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano não constituíram uma surpresa. De fato, o crescimento apurado sobre o trimestre final de 2005, de 1,4%, situou-se no limite inferior da faixa de 1,4% a 2% em que se distribuíam as projeções de bancos e consultorias.
Como a aceleração observada nos primeiros meses do ano havia sido antecedida por um período de baixo dinamismo, no período de 12 meses encerrado em março a expansão da economia ainda se situou em parcos 2,4% (na comparação com os 12 meses findos em março de 2005).
É pouco, sobretudo tendo em conta que no mesmo período a economia global cresceu a um ritmo de 4,5%.
Ainda assim, o ritmo de 1,4% alcançado no primeiro trimestre é significativo, pois corresponde, em termos anualizados, a uma expansão de 5,7%. Esse número não deve induzir o leitor a imaginar que a economia se encaminha para crescer a esse ritmo em 2006 como um todo.
Até a divulgação dos dados relativos ao primeiro trimestre, as projeções para o crescimento no ano se concentravam distribuíam na faixa de 3,5% a 4% (a projeção média, de acordo com levantamento realizado pelo Banco Central junto a dezenas de instituições, era de 3,6%). Não parece provável que o resultado divulgado ontem vá gerar alteração significativa nessas avaliações.
O destaque positivo na performance do PIB nos três primeiros meses do ano foi o comportamento do investimento. Dentro de uma trajetória oscilante, desde meados de 2004 o investimento se mantinha basicamente estagnado. Sua recuperação no primeiro trimestre de 2006 foi clara: ele se expandiu 3,7% sobre o quarto trimestre do ano passado, e constituiu, dentre os vários tipos de dispêndio que compõem a demanda agregada, o mais dinâmico no período, ao lado das exportações.
O ritmo de alta das exportações foi, no entanto, amplamente superado pelo das importações. Assim, pela primeira vez desde 2003 os dados do PIB apuraram que o setor externo da economia -isto é, o balanço entre bens e serviços exportados e importados- teve expressiva contribuição negativa para o crescimento da economia.
Dito de outra forma: no trimestre, o comércio exterior representou um fator de queda do PIB. Resultado incômodo para aquela parcela dos analistas que, invocando os resultados ainda amplamente positivos da balança comercial, vinha questionando a pertinência dos alertas quanto aos impactos adversos da apreciação cambial sobre a atividade econômica.
Olhando à frente, vislumbra-se que alguns dos vetores que contribuíram para a aceleração do PIB no primeiro trimestre tendem a perder força, em especial no segundo semestre. A decisão de ontem do Copom já reduziu a velocidade de queda dos juros. Ao lado disso, sabe-se que o investimento público, cuja aceleração teve papel relevante na reação do investimento no início do ano, deverá desacelerar.


FERNANDO SAMPAIO, economista, é editorialista da Folha e sócio-diretor da LCA Consultores.


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