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ARTIGO
Empregos, eleições, reformas
PAULO GODOY
Vai ficando para trás o tempo
em que os anos de eleições propiciavam um verdadeiro salto na
oferta de empregos pelo setor de
obras públicas. A constatação parece negativa e desapontadora no
contexto atual de elevados e preocupantes índices de desemprego,
ao qual a construção poderia oferecer uma resposta rápida.
O índice de emprego do setor no
Estado de São Paulo, pesquisado
pela Apeop, ilustra bem a mudança: a média de trabalhadores ocupados foi de mais de 150 mil nos
anos de 82, 86, 90 e 92, caindo a
partir daí para os menos de 100 mil
atuais.
Na verdade, porém, a redução
do papel das obras públicas no aumento da oferta de empregos nos
processos eleitorais é um fenômeno que tem mais aspectos positivos que negativos -até porque o
setor, apesar das dificuldades,
continua responsável por expressivo número de postos de trabalho.
O que acontece é que diminui a
capacidade dos governos -dos
diferentes partidos- de realizar
efetivamente grandes programas
de obras nos anos eleitorais, bem
como nos outros. Os Estados já
não dispõem, como antes, de bancos públicos para endividar-se livremente, pois vários deles já estão federalizados, e os demais, sujeitos aos controles das autoridades monetárias.
Governadores e prefeitos são, de
um lado, sufocados por despesas
financeiras e custosas máquinas
administrativas: de outro, sofrem
crescente limitação para viabilizar
operações de antecipação de receitas. A própria União tem que condicionar seus gastos às prioridades
da política antiinflacionária, já
que o déficit público continua
muito alto.
Sem condições de executar novos programas, os governantes
atribuem ao marketing eleitoral a
mágica de substituí-los por inaugurações parciais, reinaugurações
ou promessas de obras futuras e
pela valorização de obras menores.
Para alguns Estados, restou a
saída de aplicar em investimentos
a receita da venda de estatais, desviando-a da amortização das dívidas, negociada com o governo federal. Mas essa alternativa enfrenta restrições de Brasília e suscita
fortes contestações políticas, o que
amplia as incertezas do processo
de suas privatizações e torna problemáticos os dividendos delas.
Assim, o chamado "boom" dos
investimentos eleitorais vai se esgotando, contido pelos novos
controles inflacionários. E refletindo, num plano mais amplo, a
continuada queda da capacidade
de investimento do Estado brasileiro.
Cumpre assinalar que o fenômeno tem consequências diretas bastante negativas. Reduzem-se significativamente as possibilidades
dos governantes de responder a
agudas carências de obras e serviços prioritários, bem como das diversas políticas sociais. Estados e
municípios se sentem mutilados
em sua autonomia federativa com
a inviabilidade de prestação desses
serviços e obras.
E a exigência da contrapartida
delas -naturalmente acentuada
nas disputas eleitorais- constitui
um direito dos contribuintes e do
conjunto da população. A não-reprodução, agora, do salto que o
emprego no setor costumava dar
nessas fases em anos passados é
apenas um dos efeitos desse fenômeno.
Trata-se de uma transição difícil
e dolorosa da crise do Estado gigantesco e deficitário que continuamos tendo para o cenário
-ainda em gestação- da parceria de um setor público enxuto e
eficiente, voltado para as políticas
e obras de caráter social, com a
iniciativa privada cuidando dos
vários segmentos da infra-estrutura.
Infelizmente, essa tradição demora em excesso. O déficit público cresceu ainda mais neste início
de ano. Os ganhos da reforma administrativa dependem de regulamentação deixada para 1999. A tímida reforma da Previdência foi
bloqueada em um de seus elementos importantes -o aumento da
idade mínima para aposentadoria-, embora o governo tenha
conseguido avançar nos demais.
A verdadeira reforma, baseada
na troca do sistema de repartição
pelo de capitalização, ainda não
tem projeto concluído. E a reforma tributária também ficou para
depois das eleições, enquanto o
governo segue precisando manter
os juros em patamares que inibem
as atividades produtivas, agravam
o endividamento dos Estados, dos
municípios e da própria União e
punem toda a sociedade.
Mas, a rigor, só com o avanço e
implementação das reformas e das
várias mudanças a elas ligadas é
que serão possíveis respostas consistentes -e não apenas nas campanhas eleitorais- às enormes
carências de obras e serviços essenciais.
E também só assim é que nosso
setor poderá aumentar substancialmente a oferta constante de
empregos, seja executando contratos para governos saneadores e
empreendedores, seja utilizando
financiamento privado na expansão e na modernização da infra-estrutura.
Paulo Godoy, 43, empresário, é presidente da
Apeop (Associação Paulista de Empresários de
Obras Públicas) e coordenador do Fórum Nacional da Construção Pesada.
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