São Paulo, domingo, 01 de julho de 2001

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SALTO NO ESCURO
Dinheiro virá do BID, por acordo a ser fechado até o fim do ano
BNDES terá US$ 1,5 bi para energia e pequena empresa

ISABEL CLEMENTE
DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vai reforçar seu caixa com uma linha de US$ 1,5 bilhão do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para financiar projetos de energia e pequenas empresas.
A negociação, em andamento, deverá estar concluída até o fim do ano, informou à Folha o diretor financeiro do BNDES, Isaac Zagury.
Será o maior repasse já feito pelo BID ao BNDES. A maior parte dos recursos (US$ 900 milhões) terá pequenas empresas como destino. O restante (US$ 600 milhões) ganhará um carimbo exclusivo: energia.
Equipamentos importados, essenciais para termelétricas e que não têm similares fabricados no país, passarão a ser financiados pelo banco, abrindo um precedente inédito. Isso significa que, na prática, o BNDES vai financiar até 80% do valor total dos projetos, o que inclui a possibilidade de virar sócio pela BNDESpar, sua subsidiária de participações.
Quatro termelétricas serão as primeiras atendidas dentro do novo padrão BNDES, com financiamentos que somam R$ 774,7 milhões.
"Quem vier hoje aqui já será financiado nessas condições. O orçamento do banco para este ano, de R$ 26 bilhões, não será uma restrição", afirmou o diretor para a área de Infra-Estrutura do BNDES, Octávio Castello Branco.
"Estamos alterando o financiamento de equipamento importado. Há pouco tempo financiávamos até 80% do investimento, mas o importado não era item financiável e, como ele é dos que mais pesam no projeto, o índice de participação do BNDES caía muito. Ficava em 35% ou 40%."
Equipamentos importados representam de 40% a 50% do investimento total de uma termelétrica, por exemplo. Recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) não serão usados para isso, explica o diretor. É aí que que entram os recursos de fora.

Maior rapidez
Essa não é a única mudança do banco no esforço de tirar as termelétricas do papel. Projetos que antes levavam dois, cinco ou até mais meses para ser avaliados serão aprovados em algumas semanas, segundo Castello Branco.
Para cumprir a promessa, o banco fez uma reengenharia interna, convocou pessoal experiente de outras diretorias e inaugurou uma área de energia, que tem como superintendente Estela Almeida, deslocada da área de privatização do BNDES.
A equipe triplicou de tamanho. Hoje conta com 50 pessoas, que poderão "analisar 60 ou 70 projetos ao mesmo tempo e talvez mais", disse Castello Branco.
"Projetos de infra-estrutura demandam tempo para ser avaliados. Mas diante da crise que vivemos e da necessidade de aprovar esses financiamentos de forma mais rápida, estamos com uma equipe bem maior", afirmou.
A rapidez não vai significar relaxamento na concessão do crédito, diz o diretor. "Nossa preocupação é manter os baixos índices de inadimplência que temos, que é resultado de uma análise de crédito muito criteriosa. Nesse movimento de acelerar tudo, o limite será sempre a qualidade do crédito da carteira do BNDES."

Hidrelétricas predominam
Há quase 50 projetos de expansão, modernização e geração de energia em análise no BNDES. A maioria são hidrelétricas. Há apenas seis projetos de termelétricas, usinas que integram o programa prioritário do governo para amenizar o déficit de energia. "Estamos trabalhando para atrair mais", disse. Entre as seis, estão a Norte Fluminense (RJ), Araucária (PR), Termopernambuco (PE) e Juiz de Fora (MG), que serão financiadas ainda nesta semana.
Os projetos enquadrados e os que já estão em análise pedem financiamento da ordem de R$ 1,3 bilhão, para um investimento total de cerca de R$ 2,4 bilhões.
O BNDES conta ainda com a chegada de pedidos de financiamento para outras 28 hidrelétricas, 30 pequenas centrais hidrelétricas, cinco linhas de transmissão e outros que, no planejamento do banco, estão sob a rubrica "projetos em perspectivas".



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