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Privatização emagrece Estado, mas a corrupção bate recordes
DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
Fracasso ou não, o modelo dito
neoliberal apresenta outras sérias
rachaduras na Argentina, além de
não ter sido capaz de enfrentar os
problemas sociais. A corrupção,
como diz Robert Kaufman (Columbia), é uma delas.
Assíduo frequentador dos encontros anuais do Fórum Econômico Mundial que se realizam todo final de janeiro em Davos (Suíça), o então presidente Carlos Menem sempre dizia que a privatização e a redução do papel do Estado teriam como contrapartida a
redução ou até a eliminação da
corrupção. É uma tese caríssima
aos corações liberais, mas que, ao
menos na Argentina, não coincidiu com a realidade.
Nunca antes, na história argentina, tantos altos funcionários enfrentaram problemas com a Justiça. Levantamento do jornal "La
Nación" mostra que há 36 funcionários nessa situação.
Um já foi condenado, 21 estão
sendo processados e certamente
irão a juízo. Três já estiveram presos e, agora, há quatro detidos,
entre eles o próprio Menem, acusado, entre outras coisas, de formação de quadrilha para desviar
armas para países em guerra.
Exemplo emblemático de problemas nas privatizações é o caso
da Aerolíneas Argentinas. Na verdade, é um paradoxo: em vez de
privatizá-la, o governo Menem
vendeu-a para uma estatal de outro país (a Ibéria, da Espanha). O
resultado foi desastroso: dos 71%
do mercado que detinha em 1997,
a empresa ficou com apenas 16%,
e acabou pedindo concordata.
Em outros serviços, há um reconhecimento virtualmente unânime de que melhorou a oferta, mas
nem por isso as queixas são poucas. A principal se dirige aos organismos públicos de regulação.
"Nós cumprimos, desgraçadamente, o papel de Estado. Na Argentina, mais que entidades de
controle, temos entidades de descontrole", diz Sandra González,
da Adecua (Associação de Consumidores e Usuários Argentinos).
Há queixas sobre aumentos
abusivos. Os bilhetes de metrô e
de trens, entre 1992 (ano da privatização) e 2000, tiveram aumentos
de, respectivamente, 50% e 29%.
Os preços ao consumidor subiram apenas 10,3% no período.
Há caso mais grave: a rede ferroviária passou, em uma década
de privatização, de 35.746 km para 8.339 km. As tarifas, medidas
em dólares, duplicaram.
Os trabalhadores empregados
diminuíram de 98 mil para 17 mil.
E as subvenções estatais não só
continuam como aumentaram de
US$ 222 milhões para US$ 640
milhões, em 1998.
Tudo somado, parece razoável
concluir, como o faz a analista
Graciela Römer: "As críticas à privatização não significam o desejo
de voltar ao Estado-produtor,
mas a um Estado que regule e intervenha em prol do bem comum
e não de setores privilegiados. A
opinião pública descobriu que o
setor privado é melhor para produzir, mas é muito ruim para distribuir".
(CR)
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