São Paulo, domingo, 01 de julho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BENS DE CAPITAL
Indústrias Romi investem no mercado europeu para driblar recessão argentina e desaceleração interna
Fabricante de máquinas passa longe da crise


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na fábrica de número 16 das Indústrias Romi, a maior fabricante de máquinas do país, há uma fila de 15 tornos aguardando o embarque para Reino Unido, Espanha, Alemanha e EUA. Não há cancelamento de pedidos. Funcionários da área de montagem fazem hora extra todos os dias para atender a demanda.
A crise econômica só está estampada nas luminárias da companhia -já desligadas tanto no hall de entrada quanto em parte da linha de produção, na tentativa de economizar energia.
Empresa familiar de 71 anos, a Romi é o exemplo daquilo que o governo sonha para o setor: é forte exportadora, 100% nacional, com tecnologia desenvolvida no quintal de casa.
E ainda vai na contramão da atual crise energética, que fez com que uma entre cada cinco empresas pensasse em demitir. E 65% em reduzir a produção neste semestre, segundo pesquisa da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"Até que estou satisfeito, sabe? Se compararmos nossa situação com a de outras empresas, estamos bem, não?", diz Américo Emílio Romi Neto, filho do fundador, no cargo de diretor-presidente da companhia, com sede em Santa Bárbara d'Oeste (SP).

Poucas mudanças
Pelos números -o grupo publica balanço trimestralmente- é possível ter uma idéia do desempenho da empresa. Entre os investimentos para 2001, a maioria está mantida. A construção de uma sala climatizada, de R$ 600 mil, foi cortada do projeto inicial, pois gastaria muita eletricidade. Mas ainda serão aplicados R$ 5 milhões nas unidades do grupo.
A produção está no nível semelhante do mesmo período do ano passado. As exportações que seriam destinadas para Argentina, em forte recessão, foram parar na Europa, assim como parte das máquinas e equipamentos que seriam instalados nos EUA, país em fase de retração econômica.
"Se passamos a vender menos para a Ford, nos EUA, devido à recessão lá, então começamos a entregar para fornecedores da Toyota aqui no Brasil mesmo. E, se no Brasil a demanda cai, passamos a vender para a Alemanha, como estamos realmente fazendo. É uma questão de explorar as possibilidades", diz Romi Neto.

Crise interna e EUA
Partindo desse princípio, na última quinta-feira a empresa assinou um documento em cartório, localizado numa pequena cidade perto de Frankfurt, na Alemanha, para a abertura de uma nova unidade da empresa.
Serão 600 m2, com espaço para estoque de peças de reposição, show room e uma equipe de técnicos para assistência técnica. Foram investidos US$ 300 mil no novo espaço. A meta é fazer da Europa um refúgio para as máquinas da marca, já que há expectativa de queda na demanda interna e lentidão na recuperação econômica dos EUA em 2001.
Nesse cenário, a desaceleração da economia brasileira é um dos fatores mais preocupantes, na avaliação da diretoria. Isso porque 75% do que a empresa produz no interior de São Paulo fica no mercado interno. "Quem tem uma alta dependência em relação ao mercado nacional pode correr riscos mais sérios", diz Sérgio Magalhães, diretor da Abimaq, associação que representa o setor.
Como o principal mercado da Romi são os fornecedores de montadoras -que compram as máquinas-, se eles venderem menos do que o previsto (devido a um forte aumento nas taxas de juros para a compra de carros, por exemplo), os planos ficam comprometidos.
Até o momento, as entregas continuam sendo feitas normalmente. "Ninguém sabe direito o que vai acontecer daqui para a frente", diz o empresário. "Algumas máquinas que eu vendo consomem muita energia e essas "congelaram" na fábrica. Não saem de lá", diz Sérgio Magalhães, da Abimaq. "Difícil saber onde vamos parar com tudo isso."
Por isso, as Indústrias Romi refizeram sua expectativa de crescimento no ano, mesmo com bons resultados até agora -o lucro está em R$ 462 mil até março, contra R$ 361 mil no ano passado. Ela espera crescer 10% neste ano, contra previsão inicial de 15%.
A queda é pequena se comparada àquela verificada em outros setores, que chega a 50%. Além disso, o setor deve crescer só 2% neste ano. A previsão inicial era 6%.



Texto Anterior: Esquerda não cresce, apesar de desgaste do governo
Próximo Texto: Bancos: Retração afasta o consumidor do crédito, diz HSBC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.