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BENS DE CAPITAL
Indústrias Romi investem no mercado europeu para driblar recessão argentina e desaceleração interna
Fabricante de máquinas passa longe da crise
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Na fábrica de número 16 das Indústrias Romi, a maior fabricante
de máquinas do país, há uma fila
de 15 tornos aguardando o embarque para Reino Unido, Espanha, Alemanha e EUA. Não há
cancelamento de pedidos. Funcionários da área de montagem
fazem hora extra todos os dias para atender a demanda.
A crise econômica só está estampada nas luminárias da companhia -já desligadas tanto no
hall de entrada quanto em parte
da linha de produção, na tentativa
de economizar energia.
Empresa familiar de 71 anos, a
Romi é o exemplo daquilo que o
governo sonha para o setor: é forte exportadora, 100% nacional,
com tecnologia desenvolvida no
quintal de casa.
E ainda vai na contramão da
atual crise energética, que fez com
que uma entre cada cinco empresas pensasse em demitir. E 65%
em reduzir a produção neste semestre, segundo pesquisa da
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo).
"Até que estou satisfeito, sabe?
Se compararmos nossa situação
com a de outras empresas, estamos bem, não?", diz Américo
Emílio Romi Neto, filho do fundador, no cargo de diretor-presidente da companhia, com sede
em Santa Bárbara d'Oeste (SP).
Poucas mudanças
Pelos números -o grupo publica balanço trimestralmente-
é possível ter uma idéia do desempenho da empresa. Entre os investimentos para 2001, a maioria
está mantida. A construção de
uma sala climatizada, de R$ 600
mil, foi cortada do projeto inicial,
pois gastaria muita eletricidade.
Mas ainda serão aplicados R$ 5
milhões nas unidades do grupo.
A produção está no nível semelhante do mesmo período do ano
passado. As exportações que seriam destinadas para Argentina,
em forte recessão, foram parar na
Europa, assim como parte das
máquinas e equipamentos que seriam instalados nos EUA, país em
fase de retração econômica.
"Se passamos a vender menos
para a Ford, nos EUA, devido à recessão lá, então começamos a entregar para fornecedores da Toyota aqui no Brasil mesmo. E, se
no Brasil a demanda cai, passamos a vender para a Alemanha,
como estamos realmente fazendo. É uma questão de explorar as
possibilidades", diz Romi Neto.
Crise interna e EUA
Partindo desse princípio, na última quinta-feira a empresa assinou um documento em cartório,
localizado numa pequena cidade
perto de Frankfurt, na Alemanha,
para a abertura de uma nova unidade da empresa.
Serão 600 m2, com espaço para
estoque de peças de reposição,
show room e uma equipe de técnicos para assistência técnica. Foram investidos US$ 300 mil no
novo espaço. A meta é fazer da
Europa um refúgio para as máquinas da marca, já que há expectativa de queda na demanda interna e lentidão na recuperação
econômica dos EUA em 2001.
Nesse cenário, a desaceleração
da economia brasileira é um dos
fatores mais preocupantes, na
avaliação da diretoria. Isso porque 75% do que a empresa produz no interior de São Paulo fica
no mercado interno. "Quem tem
uma alta dependência em relação
ao mercado nacional pode correr
riscos mais sérios", diz Sérgio Magalhães, diretor da Abimaq, associação que representa o setor.
Como o principal mercado da
Romi são os fornecedores de
montadoras -que compram as
máquinas-, se eles venderem
menos do que o previsto (devido
a um forte aumento nas taxas de
juros para a compra de carros,
por exemplo), os planos ficam
comprometidos.
Até o momento, as entregas
continuam sendo feitas normalmente. "Ninguém sabe direito o
que vai acontecer daqui para a
frente", diz o empresário. "Algumas máquinas que eu vendo consomem muita energia e essas
"congelaram" na fábrica. Não
saem de lá", diz Sérgio Magalhães,
da Abimaq. "Difícil saber onde
vamos parar com tudo isso."
Por isso, as Indústrias Romi refizeram sua expectativa de crescimento no ano, mesmo com bons
resultados até agora -o lucro está em R$ 462 mil até março, contra R$ 361 mil no ano passado. Ela
espera crescer 10% neste ano,
contra previsão inicial de 15%.
A queda é pequena se comparada àquela verificada em outros setores, que chega a 50%. Além disso, o setor deve crescer só 2% neste ano. A previsão inicial era 6%.
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