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PERDAS E DANOS
BB, CEF, Nossa Caixa e Banco do Nordeste perdem com depreciação das LFTs e com marcação a mercado
Bancos públicos vão ter prejuízo de R$ 2 bi
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os quatro maiores bancos públicos do país com carteira comercial (Banco do Brasil, Caixa
Econômica Federal, Nossa Caixa
e Banco do Nordeste) deverão ter
prejuízo conjunto estimado em
aproximadamente R$ 2 bilhões,
devido à recente depreciação das
LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) e da obrigação de registrar
o valor dos papéis pelo preço de
mercado -determinação do
Banco Central cujo prazo encerrou na sexta-feira.
Os bancos públicos são grandes
detentores de papéis do governo
federal e por isso devem ter prejuízo. Somente o Banco do Brasil
e a Caixa têm cerca de R$ 83 bilhões em títulos públicos federais.
O prejuízo já aparecerá no balanço semestral de junho. Pelos
mesmos motivos, os fundos de investimento tiveram perdas superiores a R$ 2 bilhões no mês passado.
A queda no valor das LFTs (títulos públicos corrigidos a juros de
mercado) teve origem em polêmica operação que o Banco Central passou a realizar em abril deste ano. O BC oferecia instrumento
de proteção contra a variação
cambial aos investidores (o chamado "swap" cambial), mas condicionado à venda de LFTs.
Segundo analistas, esse tipo de
operação gerou excesso de oferta
desses papéis no mercado, o que
provocou a desvalorização dos títulos. Ao constatar o erro, o BC
parou de realizar no mês passado
a venda casada. Mas o estrago já
estava dado.
Perdas explícitas
A marcação do valor dos títulos
a preço de mercado torna explícitas as perdas. Antes dessa regra
entrar em vigor, os fundos de investimentos e as tesourarias dos
bancos podiam registrar os papéis em seus balanços pelo preço
de aquisição. Se os títulos desvalorizassem, o prejuízo só aparecia se
os papéis fossem vendidos.
Na realidade, no caso dos bancos, as instituições ainda têm a
opção de lançar os papéis pelo
preço de aquisição. Mas para isso
têm de comprovar intenção e capacidade financeira de manter os
títulos em carteira até a data de
vencimento.
Na quinta-feira da semana passada, o CMN (Conselho Monetário Nacional) resolveu afrouxar a
regra de lançamento dos títulos a
valor de aquisição. Antes, para
que os papéis pudessem ser classificados na categoria de "carregáveis até o vencimento", os bancos
precisavam ter depósitos de prazo
igual ou superior aos dos títulos.
Isso limitava bastante a capacidade das instituições de fazer a opção pelo valor de aquisição.
O CMN permitiu que os banco
possam usar o fluxo de caixa (a
projeção de captação de depósitos) para lastrear os papéis "carregáveis até o vencimento". Segundo especialistas ouvidos pela Folha, antes da medida do CMN, os
bancos públicos conseguiriam
lançar, no máximo, 20% de sua
carteira de LFT pelo valor de aquisição.
Agora, a média deve ficar em
torno de 30%, que é o padrão médio internacional, de acordo com
o chefe do Departamento de Normas do Sistema Financeiro do BC,
Carlos Eduardo Lofrano. As estimativas das perdas, feitas por especialistas a pedido da reportagem, excluem 30% das LFTs das
carteiras dos bancos, pois são a
parcela que pode ser classificadas
como "carregáveis até o vencimento". Ou seja, sobre as quais as
perdas não apareceriam.
"Contumácia"
Mesmo nos títulos lançados a
preço de aquisição, os papéis podem ser vendidos antes do vencimento, mas só em casos excepcionais, diz Lofrano. "A intenção tem
de ser de manter os papéis até o
vencimento. Os bancos não podem fazer "mesa" [comprar para
revender rápido], como se fala no
mercado. Não podem agir com
contumácia", disse ele.
De acordo com Lofrano, a eventualidade para vender os papéis
lançados a preço de aquisição tem
de ser algo como problema de caixa. Isto é, se o banco precisar de
dinheiro para cobrir obrigações.
"E o banco tem de comprovar essa necessidade", acrescentou.
Mas Lofrano ressalta que, se a
instituição se desfizer do título, terá de reconhecer o papel pelo valor de mercado. Ou seja, se os papéis tiverem se desvalorizado desde que foram registrados como
"carregáveis até o vencimento", a
depreciação contará na hora da
venda.
"A regra é para dar mais eficiência ao mercado, para tornar mais
barato o custo de carregamento
de títulos públicos. Não é para os
bancos dizerem: "agora o título está pelo valor de aquisição. Agora
pelo valor de mercado'", disse Lofrano.
Cálculos
Para chegar às estimativas de
perdas, os especialistas levaram
em conta o valor total da carteira
de LFTs dos bancos, o prazo médio desses papéis no mercado
-pelo total de dias úteis até o
vencimento- e sua depreciação
de acordo com a tabela da Andima (Associação Nacional das Instituições de Mercado Aberto) de
títulos públicos negociados no
mercado, que serve como referência para as instituições financeiras.
O prazo médio das LFTs no
mercado, pela posição da semana
passada, era de 760 dias úteis. Para esse prazo, a taxa de deságio
dos papéis era de 1,5083% ao ano
(base de 252 dias úteis).
Como nem todos os títulos foram comprados por seu valor de
face, foi incluído também para o
cálculo deságio de 0,35% no preço
de aquisição. Ou seja, do deságio
final, foi subtraído o deságio do
preço de compra.
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