|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
Exportação, uma "atitude" no cotidiano da empresa
ISAC ZAGURY
A exportação não deve ser
apenas o resultado de uma
soma de retração do consumo interno com taxa de câmbio favorável ao exportador. Exportar deve ser uma meta permanente,
uma "atitude", incorporada ao
cotidiano das empresas. Mercados que se perdem não se recuperam com uma simples redução
dos custos relativos da produção.
O Brasil nunca esteve numa situação tão propícia para o aumento de suas exportações. O cenário macroeconômico conjuga
a estabilidade de preços com
uma inequívoca prioridade conferida aos instrumentos de desenvolvimento do comércio exterior. A infra-estrutura, após
anos de declínio dos investimentos, está em processo de franca
recuperação, por meio de novos
investimentos privados em
transportes e telecomunicações.
A corrente de comércio externo brasileiro, em 2001, alcançou
o valor de US$ 113 bilhões, 0,9 %
superior a 1997 (recorde anterior).
O superávit foi de US$ 2,6 bilhões, com as exportações somando US$ 58,2 bilhões, e as importações, US$ 55,6 bilhões. O
resultado dos últimos 12 meses
aponta um superávit comercial
muito próximo da meta estabelecida para 2002, de US$ 5 bilhões.
Com relação às commodities,
um exercício de simulação: se tivéssemos exportado as quantidades de 2001 a preços de 1997,
teríamos receita de exportação
de US$ 24,6 bilhões -US$ 8,7 bilhões acima do realizado. Os
mercados estão hoje bem mais
protegidos do que dez anos atrás.
O superávit da balança comercial do agronegócio tem crescido
a cada ano, embora o mercado
internacional venha sofrendo
um longo período de depressão
de preços. A produção agrícola
cresceu de 75 milhões para 100
milhões de toneladas praticamente com a mesma área de cultivo, graças a ganhos substanciais
de produtividade e modernização tecnológica via programas
como o Moderfrota, do BNDES.
Por outro lado, o déficit da balança de manufaturados e bens
de capital representa um desafio
para a ação do Estado. O incentivo à instalação no país de fabricantes de bens que o Brasil hoje
compra em grande escala é um
papel que o BNDES vem desempenhando com resultados animadores em alguns setores.
No entanto a ação decisiva para
a redução dos desequilíbrios externos deve ser um esforço concentrado na promoção de exportações de bens de maior valor
agregado.
A intervenção do Estado na
promoção de atividades exportadoras tem sua origem no início
do século passado nos países industrializados. A lógica da política pública de exportação é igualar as condições de fomento às
oferecidas por outros países. Nos
países industrializados, os governos geralmente oferecem instrumentos como seguros e garantias; e os mercados oferecem o financiamento de longo prazo. Em
países como o Brasil, a ação do
Estado é, em geral, mais ampla
em virtude da ausência de mercados de capitais privados de
longo prazo.
O BNDES-Exim, programa do
BNDES para financiamento de
longo prazo das exportações brasileiras, vem tendo um crescimento extraordinário nos últimos anos. Sua carteira de financiamento a exportações já soma
hoje aproximadamente US$ 7 bilhões, com um volume anual de
desembolsos da ordem de US$ 3
bilhões, o que o eleva ao patamar
de importantes agências internacionais de crédito às exportações.
O BNDES-Exim passou de uma
modesta participação de 4% no
orçamento do banco, em 1996,
para um valor equivalente a 25%,
em 2002.
Os créditos do BNDES-Exim
são responsáveis pela maior
competitividade das exportações
brasileiras em setores de alto valor agregado e com considerável
conteúdo tecnológico, como
aviões, veículos pesados, máquinas e implementos agrícolas,
motores elétricos e outros. Além
disso, financiamentos por meio
da modalidade de pré-embarque
proporcionaram grande impulso
às exportações de carnes e frangos nos últimos dois anos.
O Brasil tem uma pauta extremamente diversificada, tanto
geograficamente quanto por
produto. Apesar disso, novos
mercados vêm sendo explorados, com a diplomacia comercial
produzindo resultados como no
Leste Europeu e na Ásia. A participação do BNDES em eventos e
seminários no exterior vem possibilitando, também, a identificação de oportunidades de negócios fundamentais para os exportadores brasileiros.
É importante destacar o papel
estratégico do Codefat (Conselho
Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador), que autorizou a aplicação de uma parcela
de até 40% dos recursos do FAT
no BNDES para o financiamento
das exportações brasileiras. O intercâmbio comercial traz para
dentro de nossas fronteiras a
poupança externa; gera e preserva empregos; e dá acesso a tecnologias que ajudam a abreviar o
caminho rumo a uma sociedade
mais justa e desenvolvida.
Isac Zagury é diretor do BNDES.
Texto Anterior: Perdas e danos: Bancos públicos vão ter prejuízo de R$ 2 bi Próximo Texto: Dicas Folhainvest - Dicas: Analistas tiram da carteira ações da Embratel, da Usiminas e da Net Índice
|