São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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OPINIÃO ECONÔMICA

Exportação, uma "atitude" no cotidiano da empresa

ISAC ZAGURY

A exportação não deve ser apenas o resultado de uma soma de retração do consumo interno com taxa de câmbio favorável ao exportador. Exportar deve ser uma meta permanente, uma "atitude", incorporada ao cotidiano das empresas. Mercados que se perdem não se recuperam com uma simples redução dos custos relativos da produção.
O Brasil nunca esteve numa situação tão propícia para o aumento de suas exportações. O cenário macroeconômico conjuga a estabilidade de preços com uma inequívoca prioridade conferida aos instrumentos de desenvolvimento do comércio exterior. A infra-estrutura, após anos de declínio dos investimentos, está em processo de franca recuperação, por meio de novos investimentos privados em transportes e telecomunicações.
A corrente de comércio externo brasileiro, em 2001, alcançou o valor de US$ 113 bilhões, 0,9 % superior a 1997 (recorde anterior).
O superávit foi de US$ 2,6 bilhões, com as exportações somando US$ 58,2 bilhões, e as importações, US$ 55,6 bilhões. O resultado dos últimos 12 meses aponta um superávit comercial muito próximo da meta estabelecida para 2002, de US$ 5 bilhões.
Com relação às commodities, um exercício de simulação: se tivéssemos exportado as quantidades de 2001 a preços de 1997, teríamos receita de exportação de US$ 24,6 bilhões -US$ 8,7 bilhões acima do realizado. Os mercados estão hoje bem mais protegidos do que dez anos atrás.
O superávit da balança comercial do agronegócio tem crescido a cada ano, embora o mercado internacional venha sofrendo um longo período de depressão de preços. A produção agrícola cresceu de 75 milhões para 100 milhões de toneladas praticamente com a mesma área de cultivo, graças a ganhos substanciais de produtividade e modernização tecnológica via programas como o Moderfrota, do BNDES.
Por outro lado, o déficit da balança de manufaturados e bens de capital representa um desafio para a ação do Estado. O incentivo à instalação no país de fabricantes de bens que o Brasil hoje compra em grande escala é um papel que o BNDES vem desempenhando com resultados animadores em alguns setores.
No entanto a ação decisiva para a redução dos desequilíbrios externos deve ser um esforço concentrado na promoção de exportações de bens de maior valor agregado.
A intervenção do Estado na promoção de atividades exportadoras tem sua origem no início do século passado nos países industrializados. A lógica da política pública de exportação é igualar as condições de fomento às oferecidas por outros países. Nos países industrializados, os governos geralmente oferecem instrumentos como seguros e garantias; e os mercados oferecem o financiamento de longo prazo. Em países como o Brasil, a ação do Estado é, em geral, mais ampla em virtude da ausência de mercados de capitais privados de longo prazo.
O BNDES-Exim, programa do BNDES para financiamento de longo prazo das exportações brasileiras, vem tendo um crescimento extraordinário nos últimos anos. Sua carteira de financiamento a exportações já soma hoje aproximadamente US$ 7 bilhões, com um volume anual de desembolsos da ordem de US$ 3 bilhões, o que o eleva ao patamar de importantes agências internacionais de crédito às exportações.
O BNDES-Exim passou de uma modesta participação de 4% no orçamento do banco, em 1996, para um valor equivalente a 25%, em 2002.
Os créditos do BNDES-Exim são responsáveis pela maior competitividade das exportações brasileiras em setores de alto valor agregado e com considerável conteúdo tecnológico, como aviões, veículos pesados, máquinas e implementos agrícolas, motores elétricos e outros. Além disso, financiamentos por meio da modalidade de pré-embarque proporcionaram grande impulso às exportações de carnes e frangos nos últimos dois anos.
O Brasil tem uma pauta extremamente diversificada, tanto geograficamente quanto por produto. Apesar disso, novos mercados vêm sendo explorados, com a diplomacia comercial produzindo resultados como no Leste Europeu e na Ásia. A participação do BNDES em eventos e seminários no exterior vem possibilitando, também, a identificação de oportunidades de negócios fundamentais para os exportadores brasileiros.
É importante destacar o papel estratégico do Codefat (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador), que autorizou a aplicação de uma parcela de até 40% dos recursos do FAT no BNDES para o financiamento das exportações brasileiras. O intercâmbio comercial traz para dentro de nossas fronteiras a poupança externa; gera e preserva empregos; e dá acesso a tecnologias que ajudam a abreviar o caminho rumo a uma sociedade mais justa e desenvolvida.


Isac Zagury é diretor do BNDES.


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