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MERCADO FINANCEIRO
Chegada de bancos estrangeiros ao país, a partir de 95, não aumentou a concorrência, segundo o Ipea
Abertura não fez juros caírem, diz estudo
RICARDO REGO MONTEIRO
DA SUCURSAL DO RIO
Além de não conferir maior solidez ao sistema financeiro brasileiro em momentos de crise, a
abertura dos bancos à concorrência estrangeira, a partir de 1995,
resultou na oligopolização do setor no Brasil.
A conclusão, que pode ser constatada de forma empírica por
qualquer empresa em busca de
crédito mais barato, ganhou comprovação acadêmica em estudo
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada).
Com o título "Desnacionalização do Setor Bancário e Financiamento das Empresas: A Experiência Brasileira Recente", o estudo
foi coordenado pelos economistas Carlos Eduardo de Carvalho
(PUC-SP), Rogério Studart (Cepal) e Antônio José Alves Jr. (Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro).
O levantamento conclui que,
em lugar de melhorar as práticas
bancárias do país, o que se verificou com a abertura foi um fenômeno batizado por Carvalho de
"tupiniquinzação" dos bancos estrangeiros.
Acostumados à competição em
seus mercados de origem, os bancos estrangeiros não só falharam
em contribuir para o aumento da
concorrência como também adotaram práticas comuns ao setor
bancário brasileiro, como juros e
tarifas altos.
Tais resultados contrastam, na
prática, com as promessas feitas
pelo governo, no início da liberalização do segmento bancário. A
abertura foi inaugurada nos primeiros anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, em um
contexto internacional marcado
por desregulamentação de mercados e grande fluxo de dólares
para países emergentes.
Oligopólio
A redução das taxas de juros,
como resultado da concorrência
entre as instituições financeiras,
era um dos argumentos mais fortes do governo para justificar a
abertura. O ministro da Fazenda,
Pedro Malan, chegou a recorrer
ao argumento na exposição de
motivos nš 311 do governo, assinada por ele.
"A prática demonstra que não
há nenhuma indicação de que os
bancos estrangeiros operem com
taxas de juros mais baixas ou
"spreads" [diferença entre os custos de captação e repasse de recursos aos clientes] mais favoráveis aos clientes", diz Carvalho.
Ele também identificou, por
meio do estudo, um comportamento homogêneo nas taxas praticadas por instituições nacionais
e estrangeiras. "As taxas de juros
de instituições nacionais e estrangeiras movimentam-se em grupo.
Isso caracteriza uma oligopolização do setor bancário brasileiro",
diz o economista da PUC de São
Paulo.
"Não há nenhuma evidência de
que a maior presença de estrangeiros tenha contribuído para reduzir os custos bancários ou aumentar a solidez do sistema financeiro", afirma Carvalho, que não
identificou sequer uma atitude arrojada dessas instituições nos
mercados emergentes. Principalmente em momentos de crise, como a vivida pela Argentina nos últimos meses.
Nesses momentos, afirma Carvalho, a decisão de permanecer
ou não em um determinado mercado obedece exclusivamente à
estratégia internacional de cada
instituição. Na maior parte dos
casos, como na Argentina, verifica-se o êxodo puro e simples do
mercado em crise, com a suspensão quase automática das linhas
de crédito.
Febraban
Embora admita que os custos
bancários no Brasil sejam proibitivos, a Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos)
não concorda com algumas das
conclusões do trabalho do Ipea.
O diretor de economia da entidade, Geraldo Gardenali, afirma
que a entrada de bancos estrangeiras contribuiu para a melhoria
e a modernização dos serviços
prestados no país.
O executivo, que também exerce a presidência da Nossa Caixa,
transfere para o governo a responsabilidade sobre os altos
"spreads" dos bancos brasileiros.
Segundo ele, tais custos podem
ser explicados por fatores relacionados à política econômica do
país, como a alta carga tributária e
os custos de operação dos bancos.
Gardenali recorre às altas taxas
de inadimplência do país como
justificativa. "À medida que tivermos uma redução do risco de crédito, com certeza as taxas serão
menores."
Apesar de todas as críticas, o estudo do Ipea reconhece que os
bancos estrangeiros ainda não
dispuseram de tempo suficiente
para "digerir" os ativos adquiridos no Brasil. Com isso, os bancos
arcariam com custos que dificultam ainda mais a redução das taxas praticadas no país.
O diretor da Febraban diz que,
em muitas aquisições, as instituições estrangeiras se depararam
com diversos "esqueletos" (no
jargão econômico, dívidas antigas) não previstos antes da compra. Tais "surpresas" contábeis,
segundo ele, teriam exigido não
só investimentos adicionais por
parte dos compradores, como
maior prazo para a conclusão do
processo de incorporação.
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