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São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003

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CONTAS NACIONAIS

Freada no consumo também colabora para aumento; investimentos registram queda no 1º trimestre

Arrocho eleva taxa de poupança para 20,38% do PIB

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A taxa de poupança nominal (sem desconto da inflação) alcançou no primeiro trimestre 20,38% do PIB (Produto Interno Bruto), superando em quase cinco pontos percentuais a taxa de 15,66% do trimestre anterior.
A queda do consumo, especialmente do governo, foi a principal razão para o aumento da poupança, de acordo com o IBGE. Em números absolutos, a poupança foi de R$ 70,178 bilhões. A queda de 29,2% nos gastos do governo do último trimestre do ano passado para o primeiro deste ano -de R$ 80,811 bilhões para R$ 57,203 bilhões- tem entre suas causas o aperto fiscal de R$ 14 bilhões decretado pelo governo federal.
A queda está também ligada a um fenômeno sazonal: os governos gastam mais no último trimestre do ano e contraem seus gastos no primeiro do ano.
O consumo das famílias, principal componente na formação do PIB, também teve queda nominal, passando de R$ 210,622 bilhões para R$ 207,243 bilhões. A taxa de poupança é a diferença entre a renda bruta e o consumo das famílias somado ao do governo.
De acordo com o IBGE, o PIB fechou o primeiro trimestre deste ano com um valor nominal de R$ 344,294 bilhões. No último trimestre do ano passado, o valor havia sido de R$ 364,306 bilhões.
O IBGE não fez nenhuma correção das taxas de crescimento do PIB do primeiro trimestre, que já haviam sido divulgadas no mês passado. A economia cresceu 2% em relação ao primeiro trimestre de 2002 e caiu 0,1% em relação ao último trimestre daquele ano.
No acumulado dos quatro trimestres encerrados em março deste ano, em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores, o crescimento foi de 2,2%.
A taxa de investimentos também cresceu, em termos nominais, no primeiro trimestre deste ano, atingindo 19,13% do PIB, contra 18,45% no último trimestre de 2002. A taxa de investimento nominal do trimestre passado foi a maior desde os 19,57% do terceiro trimestre de 2001.
Segundo Roberto Olinto, coordenador da equipe de Contas Nacionais do IBGE, o aumento da taxa de investimentos não foi decorrente de um efetivo aumento dos estoques de bens destinados à produção (máquinas e equipamentos), mas consequência do aumento de preços desses bens.
Em termos reais, houve queda de 1,5% da taxa de investimentos em relação ao primeiro trimestre de 2002 e de 4,6% em relação ao último trimestre do mesmo ano.
As Contas Financeiras Nacionais mostraram que os R$ 13,3 bilhões sacados do FMI (Fundo Monetário Internacional) no primeiro trimestre foram integralmente incorporados às reservas financeiras do país porque não foi necessário usá-los para fechar as contas externas.

Vulnerabilidade menor
O Brasil obteve no primeiro trimestre deste ano um superávit de R$ 345 milhões nas suas contas com o resto do mundo. Esse valor, incorporado às reservas, fez com que elas crescessem R$ 13,6 bilhões de janeiro a março.
Isso significa que o país não precisou do financiamento internacional. O crescimento das exportações foi a principal causa da inversão no que ocorreu em 31 dos 32 trimestres do governo passado.
Apenas no terceiro trimestre de 2002, já sob efeito da desvalorização cambial, que se acentuou a partir de julho, as contas financeiras apresentaram superávit (R$ 5,145 bilhões), pela primeira vez desde janeiro de 1995.
"A balança de bens e serviços [conta do comércio exterior mais ampla que a balança comercial] é superavitária e permitiu uma queda da necessidade de financiamento, chegando à capacidade de financiamento", disse Olinto.
Ele disse ainda que a inversão dos números, tanto no terceiro trimestre de 2002 como no primeiro deste ano, foi consequência da elevada desvalorização do real em relação ao dólar, mas não quis fazer previsão sobre o resultado para este ano. Se positivo, será o primeiro desde 1992.
"Para o segundo trimestre já há dados da balança comercial mantendo o superávit alto, mesmo com a taxa de câmbio em baixa. A questão é saber se isso irá se manter efetivamente durante o resto do ano", ponderou Olinto. Ele ressaltou que, se houver um processo de retomada do crescimento econômico, isso tende a pressionar as importações, principalmente pela maior demanda por insumos.
Os dados do IBGE confirmam também que, apesar de o país ter começado a retomar sua capacidade de captação de recursos externos no primeiro trimestre, os ingressos, na forma de aplicações em títulos, estiveram concentrados no curto prazo (ingressos líquidos de R$ 5,997 bilhões), enquanto as aplicações líquidas a longo prazo estiveram negativas em R$ 3,153 bilhões.


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