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São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003

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PECUÁRIA

Até o dia 15 deste mês, toda carne exportada para a UE terá que ser certificada; setor teme prejuízo para exportações

Criador "corre" para rastrear bois no prazo

ALESSANDRA MILANEZ
CÍNTIA CARDOSO

DA REPORTAGEM LOCAL

A aproximação da data-limite para a implementação da norma que estabelece a obrigatoriedade do rastreamento da carne bovina exportada para a União Européia provoca dois desdobramentos. Uma corrida dos produtores para rastrear seus animais e o temor de que as exportações sejam afetadas pela medida.
Segundo determinação do Ministério da Agricultura, a partir de 15 de julho somente carne de animais que estiverem cadastrados no Sisbov (Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina) há pelo menos 40 dias terão a permissão oficial para exportar para o mercado europeu.
No ano passado, o Brasil exportou US$ 493 milhões para a União Européia em carne bovina "in natura" e industrializada. A cifra representa quase a metade do total das exportações do produto em 2002 (US$ 1,083 bilhão).
Diante do medo da perda desse mercado, dados da Acerta (Associação das Empresas de Certificação e Rastreabilidade Agropecuária) revelam que, desde o anúncio da medida -em 15 de maio deste ano-, são rastreadas 30 mil cabeças por dia. No ano passado, a média diária não ultrapassava 10 mil cabeças.
Apesar do aumento do número de animais rastreados, ainda não há consenso no setor a respeito da viabilidade do cumprimento da medida.
"O mais adequado seria fazer a rastreabilidade por fazenda, não por animal. Isso é uma utopia", disse Constantino Ajimasto Jr, presidente da Associação do Novilho Precoce.
Um dos motivos para a descrença é que hoje, do total do rebanho bovino brasileiro - cerca de 180 milhões de cabeças-, apenas 5 milhões estão cadastrados no sistema. Outro ponto é que o próprio modelo de cadastramento no Sisbov é contestado, já que nem todas as certificadoras informam em tempo real o número de animais cadastrados e abatidos, o que leva à defasagem dos dados.

"Paradão" nas exportações?
Para Carlo Lovatelli, presidente da Abag (Associação Brasileira de Agribusiness), o Ministério pode ser obrigado a dar mais um tempo para que os criadores brasileiros se adaptem às novas regras. Segundo ele, existe o risco de acontecer com a exigência da rastreabilidade a mesma coisa que vem acontecendo com a exigência de rotulagem em produtos que levem transgênicos: ficar mesmo é no papel até que o setor tenha corrido atrás do prejuízo.
Enio Marques, diretor-executivo da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), diz que pode haver uma quebra nas exportações de carne para a União Européia logo após a data-limite para a rastreabilidade, que é 15 de julho. "É possível que isso cause uma lentidão nas exportações", diz.

Certificadoras
Segundo José Luiz Vianna, presidente da Acerta, o custo com o qual o produtor tem que arcar para fazer a rastreabilidade dos animais está estimado em R$ 5 por animal.
O preço inclui a diária técnica, os custos do equipamento de identificação e a certificação. A associação representa dez empresas certificadoras das 19 existentes no mercado.
De acordo com ele, o mercado de certificação e rastreabilidade pode chegar a movimentar R$ 900 milhões por ano, tendo em vista o tamanho do rebanho nacional. "Em 2007, todo o rebanho [para o mercado interno e externo] terá que ser rastreado", diz.
Marques também partilha dessa opinião. Para ele, um enorme mercado se abrirá para as empresas certificadoras. Até agora, diz, são 19 empresas autorizadas pelo Sisbov a conceder o certificado de rastreabilidade, "todas grandes empresas brasileiras", afirma.


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