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PECUÁRIA
Até o dia 15 deste mês, toda carne exportada para a UE terá que ser certificada; setor teme prejuízo para exportações
Criador "corre" para rastrear bois no prazo
ALESSANDRA MILANEZ
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A aproximação da data-limite
para a implementação da norma
que estabelece a obrigatoriedade
do rastreamento da carne bovina
exportada para a União Européia
provoca dois desdobramentos.
Uma corrida dos produtores para
rastrear seus animais e o temor de
que as exportações sejam afetadas
pela medida.
Segundo determinação do Ministério da Agricultura, a partir de
15 de julho somente carne de animais que estiverem cadastrados
no Sisbov (Sistema Brasileiro de
Identificação e Certificação de
Origem Bovina e Bubalina) há pelo menos 40 dias terão a permissão oficial para exportar para o
mercado europeu.
No ano passado, o Brasil exportou US$ 493 milhões para a União
Européia em carne bovina "in natura" e industrializada. A cifra representa quase a metade do total
das exportações do produto em
2002 (US$ 1,083 bilhão).
Diante do medo da perda desse
mercado, dados da Acerta (Associação das Empresas de Certificação e Rastreabilidade Agropecuária) revelam que, desde o anúncio
da medida -em 15 de maio deste
ano-, são rastreadas 30 mil cabeças por dia. No ano passado, a
média diária não ultrapassava 10
mil cabeças.
Apesar do aumento do número
de animais rastreados, ainda não
há consenso no setor a respeito da
viabilidade do cumprimento da
medida.
"O mais adequado seria fazer a
rastreabilidade por fazenda, não
por animal. Isso é uma utopia",
disse Constantino Ajimasto Jr,
presidente da Associação do Novilho Precoce.
Um dos motivos para a descrença é que hoje, do total do rebanho bovino brasileiro - cerca
de 180 milhões de cabeças-, apenas 5 milhões estão cadastrados
no sistema. Outro ponto é que o
próprio modelo de cadastramento no Sisbov é contestado, já que
nem todas as certificadoras informam em tempo real o número de
animais cadastrados e abatidos, o
que leva à defasagem dos dados.
"Paradão" nas exportações?
Para Carlo Lovatelli, presidente
da Abag (Associação Brasileira de
Agribusiness), o Ministério pode
ser obrigado a dar mais um tempo para que os criadores brasileiros se adaptem às novas regras.
Segundo ele, existe o risco de
acontecer com a exigência da rastreabilidade a mesma coisa que
vem acontecendo com a exigência
de rotulagem em produtos que levem transgênicos: ficar mesmo é
no papel até que o setor tenha corrido atrás do prejuízo.
Enio Marques, diretor-executivo da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de
Carne), diz que pode haver uma
quebra nas exportações de carne
para a União Européia logo após a
data-limite para a rastreabilidade,
que é 15 de julho. "É possível que
isso cause uma lentidão nas exportações", diz.
Certificadoras
Segundo José Luiz Vianna, presidente da Acerta, o custo com o
qual o produtor tem que arcar para fazer a rastreabilidade dos animais está estimado em R$ 5 por
animal.
O preço inclui a diária técnica,
os custos do equipamento de
identificação e a certificação. A associação representa dez empresas
certificadoras das 19 existentes no
mercado.
De acordo com ele, o mercado
de certificação e rastreabilidade
pode chegar a movimentar R$ 900
milhões por ano, tendo em vista o
tamanho do rebanho nacional.
"Em 2007, todo o rebanho [para o
mercado interno e externo] terá
que ser rastreado", diz.
Marques também partilha dessa
opinião. Para ele, um enorme
mercado se abrirá para as empresas certificadoras. Até agora, diz,
são 19 empresas autorizadas pelo
Sisbov a conceder o certificado de
rastreabilidade, "todas grandes
empresas brasileiras", afirma.
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