São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO GLOBAL

Elevação da taxa afeta consumidores americanos que têm dívidas

Juro maior pode custar US$ 4,5 bi

Scott Olson/France Presse
Operadores na Bolsa Mercantil de Chicago após a decisão do Fed de elevar o juro em 0,25 ponto


LOUIS UCHITELLE
DO "NEW YORK TIMES"

Com o primeiro aumento dos juros em quatro anos, Joyce Diffenderfer está começando a se perguntar como ela e seu marido, Curtis, vão enfrentar o custo crescente de sua dívida de US$ 16 mil com o cartão de crédito.
Sua preocupação ainda não é um assunto premente; é mais como um teste de incêndio prevendo uma catástrofe que ela ainda não acredita que vá acontecer. Os Diffenderfer calculam que um aumento de juros modesto acrescentaria inicialmente apenas US$ 35 a seus pagamentos mensais de cartões, que hoje superam US$ 600. Ainda assim, eles não sabem mais como contornar o custo dos empréstimos, e, se os juros continuarem subindo, como sugeriram os diretores do Fed, a única alternativa será cortar seriamente os gastos da família, disse Joyce.
Os Diffenderfer estão entre os milhões de famílias americanas que aproveitaram a onda recente de baixas taxas de juros para se tornar proprietárias de residências e acumular dívidas rapidamente e agora devem enfrentar a alta dos juros.
"A menos que ocorra um salto considerável nos juros, digamos de dois pontos percentuais em um ano, não vou pensar muito nisso", disse Joyce Diffenderfer, 47, que ganha US$ 14 por hora recebendo ligações de clientes do Kunzler & Company, fabricante de salsichas em Lancaster, Pensilvânia.
"Menos de dois pontos percentuais nós podemos enfrentar apenas não saindo tanto para comer", diz.
Os americanos estão mais endividados que nunca. No primeiro trimestre eles possuíam cerca de US$ 9 trilhões em hipotecas residenciais, empréstimos para carros, dívidas em cartão de crédito, empréstimos patrimoniais e outras formas de crédito pessoal - acumulando cerca de 40% desse total em apenas quatro anos, segundo dados do Fed. Mas a maior parte da dívida tem juros fixos. Portanto, não será afetada inicialmente com a alta dos juros.
Somente um quinto dos US$ 9 trilhões da dívida familiar total, ou US$ 1,8 trilhão, é emprestado a taxas variáveis. Essas, como as que os Diffenderfer pagam em seus quatro cartões de crédito, muitas vezes acompanham o que o Fed faz, o que significa que devem subir 0,25 ponto percentual nas próximas semanas. O custo imediato para as famílias americanas em conseqüência desse processo poderá ser de até US$ 4,5 bilhões, incluindo o aumento inicial de US$ 35 na fatura mensal do cartão dos Diffenderfer.
Esses US$ 4,5 bilhões são aproximadamente 10% do custo do aumento dos preços do petróleo até agora neste ano. Ainda não é um número alto, mas cada aumento de 0,25 ponto seria mais um passo para se equiparar ao choque do petróleo, que elevou os preços da gasolina acima de US$ 2 por galão (3,8 litros) em muitas partes dos EUA.
Como o choque do petróleo rapidamente aumentou as contas de gasolina e óleo para aquecimento de quase todas as famílias, o peso dos juros mais altos recai mais nas primeiras fases sobre as famílias de baixa e média renda. Elas são as maiores usuárias de dívidas a juros variáveis, especialmente em cartões de crédito.
As famílias de alta renda, por outro lado - isto é, famílias com mais de US$ 80 mil de renda anual -, têm maior probabilidade de ter uma dívida a juros fixos, especialmente hipotecas, e a dever relativamente pouco em cartões de crédito. As dívidas com juros variáveis que elas possuem geralmente são por taxas menores do que as das pessoas de menor renda. Estas, em conseqüência, têm dez vezes mais probabilidade que as de alta renda a empregar 40% ou mais de sua renda nos repagamentos da dívida. Além disso, as pessoas de alta renda são as que mais poupam no país, e um aumento dos juros aumenta o retorno de suas aplicações.
"Se você é uma família com muita dívida a juros variáveis e pouco patrimônio que ainda não empenhou, esta época vai ser assustadora", disse Mark Zandi, economista chefe da Economy.com.
Os Diffenderfer têm uma renda combinada de cerca de US$ 70 mil por ano, incluindo as horas extras que ele faz e os pequenos pagamentos que ela recebe como organista-assistente em sua igreja. Eles estão casados há 17 anos, mas moraram com a mãe dela durante 11, pagando aluguel.
Quando finalmente compraram uma casa própria em 1998, por US$ 89 mil, não tinham poupança para dar de entrada e emprestaram a quantia inteira em uma hipoteca de 30 anos. Também fizeram uma segunda hipoteca de US$ 30 mil.
Conforme os juros caíram, eles refinanciaram as duas hipotecas, a juros fixos de 5,25% para 30 anos. Ainda assim, a reforma continuou, principalmente em cartões de crédito, quando os US$ 30 mil terminaram. Sua casa de três quartos hoje vale cerca de US$ 120 mil, quase o mesmo valor da dívida da hipoteca, estima Joyce. Isso deixa o casal sem ativos que possam ser transformados em dinheiro por meio de uma hipoteca maior. Eles também não podem diminuir seu pagamento mensal da hipoteca de US$ 726. Com o aumento das taxas hipotecárias, prevendo os aumentos do Fed, esse caminho outrora lucrativo para milhões de consumidores está sendo fechado.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Mercado global: Analistas prevêem cenário menos tenso para o Brasil
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.