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Desvalorização do real pode fazer desemprego atingir níveis recordes
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise do dólar pode levar o
país a enfrentar desemprego recorde neste ano. É o que prevêem
especialistas em mercado de trabalho, se o real continuar se desvalorizando em ritmo acelerado.
As demissões podem afetar mais
a indústria de bens duráveis (carros e eletroeletrônicos), dependentes de insumos importados, e
o setor de telecomunicações, por
causa das dívidas em dólar.
"Estamos vivendo um momento de grande instabilidade, capaz
de comprometer o desempenho
da economia no segundo semestre. A previsão era de queda na taxa de desemprego neste semestre,
mas isso está cada vez mais difícil
de acontecer", diz Sérgio Mendonça, diretor técnico do Dieese.
Mesmo sem a crise do dólar, o
Dieese acredita que a taxa média
de desemprego na Grande São
Paulo neste ano já seria a segunda
pior da história -só melhor do
que a de 99 (19,3%). "Se o dólar
continuar subindo, podemos ter
uma crise de desemprego pior
que a de 99."
A diferença entre essa crise e a
que o país viveu em 99, diz, é que
os juros naquela época estavam
mais altos e o país enfrentava forte recessão. "Se o BC decidir elevar os juros agora, será o mesmo
que incendiar uma aldeia com casas de madeira", afirma Mendonça. Ele avalia que a crise cambial
pode resultar em crescimento da
economia menor do que 1% neste
ano. "O que já é suficiente para
aumentar o desemprego."
Anselmo Luís dos Santos, do
Centro de Estudos Sindicais e de
Economia do Trabalho da Unicamp, diz que o desemprego neste semestre será pior do que o verificado em igual período de 2001
por causa dessa crise cambial.
"O investimento já estava baixo
e a economia lenta. Agora que os
preços vão subir não dá para esperar melhora na economia, ou
no mercado de trabalho", diz.
Se o dólar continuar elevado, na
sua avaliação, a taxa de desemprego medida pelo IBGE, que pesquisa seis regiões metropolitanas do
país, deve bater em 10% -em junho a taxa média foi de 7,5%. A do
Dieese/Seade, em 20% - em junho foi de 18,8% na região metropolitana de São Paulo.
Os setores que devem sofrer
menos com desemprego, na opinião dos especialistas, são os que
exportam -como o de agribusiness e o de calçados. O câmbio favorável às exportações pode ajudar a elevar a produção dos exportadores e garantir o emprego.
Fusões
O economista e secretário do
Trabalho da Prefeitura de São
paulo, Marcio Pochmann, acredita que os setores de telecomunicações e de bens duráveis serão os
mais afetados pela disparada do
dólar. "O impacto deve ser sentido de forma imediata porque as
empresas desses setores têm dívidas em dólar. Pode haver renegociação da dívida, mas até lá pode
ter cortes e ajustes nessa área."
O setor de bens duráveis já deu
sinais, com a crise das montadoras, do que pode vir pela frente,
diz. "Os consumidores vão se retrair ainda mais. Sem crédito, as
compras são adiadas, as empresas
deixam de receber encomendas, e
o resultado final é cortar custos,
enxugando o quadro pessoal."
Para o economista, o país também pode assistir a uma nova onda de fusões e aquisições entre as
empresas, como a que ocorreu na
década de 90. "Com a alta do dólar, há desvalorização do patrimônio das empresas. Isso facilita as
fusões, que certamente têm forte
impacto na força de trabalho."
Mais precário
Para Paula Montagner, gerente
de análise da Fundação Seade
(Sistema Estadual de Análise de
Dados), é arriscado falar em explosão do desemprego porque o
dólar pode recuar se o governo fechar acordo nas próximas semanas com o FMI (Fundo Monetário
Internacional). Mas ela diz que,
no mínimo, a qualidade do emprego deve piorar.
"Há dois meses as taxas de desemprego têm caído na região
metropolitana de São Paulo. O
que pode ocorrer daqui para frente é que, com a turbulência na
economia, as empresas deixem de
contratar como normalmente fazem no segundo semestre", diz.
Se houver contratações, na avaliação dela, devem ser mais precárias -assalariados sem carteira
assinada e contratação de autônomos. "Isso ocorreu em junho na
Grande São Paulo e pode ser uma tendência até o fim do ano", diz.
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