São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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ECONOMIA EM TRANSE

Há dúvida se o acordo será um reforço financeiro do atual ou se será feito um novo programa

Negociação com o FMI começa "verde"

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Operadores da Bolsa de Mercadorias & Futuros durante pregão de ontem; cotação do dólar bateu o oitavo recorde consecutivo


MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Enquanto o dólar atingia R$ 3,47, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e uma missão brasileira começaram ontem as negociações sem ter idéia exata do objetivo final das conversas. Embora exista certeza quanto à necessidade de um empréstimo imediato ao Brasil, ainda há dúvidas se as negociações irão centrar-se num reforço financeiro do acordo atual ou de um novo programa, que poderia ser estendido a 2003. "Vamos ver. Isso vai sair das negociações", disse o diretor de política econômica do Banco Central, Ilan Goldfajn, o primeiro integrante da missão brasileira a ingressar na sede do FMI na manhã de ontem.
O diretor do BC afirmou estar confiante que o resultado da missão negociadora acalmará os mercados, apesar do estrago causado pela alta do dólar na economia brasileira. "É claro que vai acalmar. É por isso que estamos aqui."

Mais rápido possível
Goldfajn disse ainda que espera concluir as negociações "o mais rápido possível". Mas ele não especificou datas. O FMI entra em recesso no dia 12 de agosto, mas a instituição continuará funcionando em caráter emergencial, se for necessário.
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse ontem em entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, que o acordo deve ser fechado até o próximo dia 12 de agosto.
Segundo disse à Folha um diretor-executivo do FMI, as conversas começaram ontem a partir de um patamar "muito verde". O Fundo está disposto a ajudar o Brasil da maneira que for necessária, mas teme escolher uma forma que atrapalhe o relacionamento da instituição com o futuro governo brasileiro.
Técnicos do FMI têm receio de projetar um novo acordo para 2003 porque não viram dos candidatos à presidência compromissos concretos com relação à manutenção da política econômica atual do Brasil.
O FMI sabe da vontade do governo de propor um acordo com saques em duas etapas - um agora e outro no ano que vem, caso o presidente eleito aceite seus termos.

Reforço
No entanto, o Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo, coordenado por Lorenzo Perez, tem preferência por um reforço financeiro convencional, dentro do atual programa que acaba em dezembro. Se for feita qualquer previsão de validade do atual acordo para 2003, essa extensão deveria ser mínima - entre três a seis meses.
O diretor do FMI acha natural que o Fundo exija apertos fiscal e monetário fortes para o segundo semestre desse ano. Não estão descartadas exigências como a realização de uma minireforma tributária ou um esforço para regulamentar o artigo 192 da Constituição, que trata do sistema financeiro. Não seria necessário dar independência ao BC, mas conceder mais autonomia à autoridade monetária brasileira antes do próximo governo.
Hoje, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O'Neill, concede entrevista coletiva para anunciar os objetivos de sua viagem ao Brasil, ao Uruguai e à Argentina.
Depois de fazer declarações que criaram atritos diplomáticos com o governo brasileiro, o secretário norte-americano pretende agora anunciar que apóia incondicionalmente uma ajuda financeira do FMI para o país.



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