São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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VIA-SACRA

Rodovia é uma das principais vias para escoamento de soja, adubos e gado em Mato Grosso

Motorista leva 2 h para percorrer 25 km

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA EM RONDONÓPOLIS (MT) e SANTA RITA DO ARAGUAIA (GO)

Um guincho que resgata porcos sobreviventes de dentro de um caminhão caído de uma altura de ao menos 50 m na serra de São Vicente (a 83 km de Cuiabá). Caminhoneiros que levam até duas horas para vencer 25 km de asfalto esburacado, em Santa Rita do Araguaia (GO).
Essas são duas cenas que a Agência Folha presenciou quinta-feira passada na rodovia federal BR-364, uma das principais vias usadas para o escoamento da soja, de adubos e transporte de gado em Mato Grosso.
Em Santa Rita do Araguaia, em Goiás, na divisa com Mato Grosso, os caminhoneiros andam a uma velocidade média de 13 km/h em um segmento de 25 km, repleto de buracos até no acostamento.
O trecho precário dá acesso ao terminal da Ferronorte, em Alto Araguaia (426 km de Cuiabá), inaugurado em junho de 2003 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para receber a soja que os caminhoneiros trazem. "Os grãos [de soja] vão caindo aos poucos. Perco até 8% da carga", disse o caminhoneiro Sadi Tarteri, 48.
"Se houvesse acostamento aqui, acho que não tinha acontecido isso", diz o empresário Cézar Ludea, 40. Na quinta-feira passada, ele e mais oito homens retiravam porcos das ferragens de uma Scania 113 que caiu de uma ribanceira na BR-364. O motorista, conhecido apenas por Zé, de 52 anos, morreu.
Eram 189 porcos, avaliados em R$ 80 mil. Ludea, que é dono do caminhão destruído no acidente, calculava que 60 animais tenham morrido. Com a ajuda de um guincho, os homens retiravam os animais. A PRF (Polícia Rodoviária Federal) interditou meia pista. A fila de carros e caminhões passava de 2 km.
Dono do guincho, Messias Rogério Vitor, 25, disse que, em cinco meses, é o terceiro caminhão que cai da ribanceira. Ludea perdeu o caminhão, avaliado em R$ 200 mil, sem seguro, e vai pagar pelos porcos mortos.
Um criador de Mato Grosso enviava os animais a São Gabriel do Oeste (MS) para abate. "Já perdi três caminhões com acidentes", disse Ludea.

Pior trecho
"Se a estrada estivesse boa, dava para economizar cem litros de combustível [cerca de R$ 160]. Mas, se você perdeu um pneu que custa R$ 1.300, trabalhou de graça, pois o frete bruto [sem descontar as despesas] é de R$ 3.000", diz o caminhoneiro João Victor Sampaio, 24.
Testemunha das agruras dos caminhoneiros, o borracheiro Lauro de Castro Silveira, 45, instalado às margens da BR-364, ganha R$ 800 por mês com os remendos que faz nos pneus cortados pelos buracos na estrada.


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