São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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Brasil perde 6% da safra de grãos com transporte

TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA

O Brasil perde cerca de 6% de sua produção de grãos durante o transporte das safras até os mercados de destino. O desperdício chegaria a 7.164.948 toneladas, levando em conta a safra deste ano. O desperdício é superior a toda a safra de trigo de 2004 (5,9 milhões de toneladas). Considerando apenas a produção de soja, arroz e trigo, o valor das perdas pode chegar a R$ 45,2 bilhões.
Os índices de desperdício de grãos são baseados em estudo realizado pela Abag (Associação Brasileira de Agribusiness) sobre as condições das redes de transporte rodoviário, ferroviário e hidroviário brasileiras. Eles foram submetidos à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para os cálculos dos desperdícios.
Segundo a CNT (Confederação Nacional dos Transportes), pesquisa feita pela entidade mostrou que 41% das estradas estão em estado deficiente, 25% estão ruins, e 16,8%, em péssimo estado.
O Ministério dos Transportes teve R$ 179,8 milhões liberados para projetos de melhoria e ampliação da rede de transportes nacional. O dinheiro é parte dos R$ 2,2 bilhões que o ministério pretende gastar ainda em 2004.
Como parâmetro para comparação sobre o desperdício dos grãos, a Conab utiliza um índice de 0,2% a 0,6% da carga como sendo o permitido para perdas de grãos durante o transporte.
Segundo Paulo Roberto Carvalho, técnico de operações da Conab, pelo menos 60% da frota de caminhões brasileiros é velha e sem manutenção. São veículos que não têm mais condições de fazer o transporte de grãos de forma segura para reduzir as perdas no transporte.
Segundo a Conab, no carregamento dos caminhões, há um grande desperdício. Por não haver uma padronização do sistema utilizado, em muitos casos, o grande desperdício ocorre ainda antes do início da viagem.

Portos
Carvalho ressalta, porém, que a perda maior ocorre quando se passam cargas de caminhões para meios de transporte hidroviário fluvial e marítimo. Essa perda se daria principalmente por problemas com os equipamentos muito defasados utilizados na maioria dos portos nacionais.
"Nos portos do Nordeste, se perde muito mais devido à condição do equipamento utilizado. Em muitos portos impera a decadência, os embarques das cargas são feitos em beiradas de barranco, com guindastes que deixam cair grande quantidade de produtos", afirmou Carvalho.
Alguns portos, por receberem investimentos privados, de empresas interessadas no escoamento de suas produções, tiveram uma melhora em termos de equipamentos nos últimos anos.

Rodovias
O principal problema dos transportes brasileiros é a predominância do meio rodoviário em todas as distâncias percorridas pelas cargas.
Segundo o professor José Vicente Caixeta Filho, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP (Universidade de São Paulo), é necessário que o país encare a necessidade de investir em transportes alternativos para agilizar, ampliar e baratear o transporte das safras.
Segundo os estudos de Caixeta, para longas distâncias (mais de 1.200 km) o transporte ferroviário proporciona uma economia de 30% em relação ao rodoviário. O transporte hidroviário é 50% mais barato que o rodoviário. Comparando com as ferrovias, o transporte hidroviário é até 35% mais barato.


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