São Paulo, quarta-feira, 01 de agosto de 2007

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Murdoch acerta a compra da Dow Jones por US$ 5 bi

Conselhos das empresas aceitaram oferta, diz o "Wall Street Journal", diário do grupo

Com 37% dos votos da família Bancroft, magnata estende seu império midiático e desperta temor de interferência editorial

James Estrin - 7.mai.07/"The New York Times"
Rupert Murdoch, 76, dono da rede de TV Fox, entre outras empresas, em seu escritório na região central de Manhattan, Nova York

DA REDAÇÃO

O empresário Rupert Murdoch praticamente garantiu a compra do grupo Dow Jones, que publica o "Wall Street Journal", o jornal de negócios mais vendido nos EUA e que só perde em vendas no país para o "USA Today".
Com o apoio de 37,4% das ações com direito a voto da família dona do grupo, o negócio foi aprovado pelos conselhos da Dow Jones e da News Corp., empresa de Murdoch.
Para o negócio ser concretizado, a sua proposta de US$ 5 bilhões, ou US$ 60 por ação, precisa ser aceita por 29% de acionistas que não são membros da família Bancroft, que é proprietária desde 1902 do jornal fundado em 1882. E, dizem analistas, a tendência é que eles apoiem maciçamente a oferta.
Outra família, os Ottaway, com 7% das ações com direito a voto, é contra o negócio.
As ações da Dow Jones subiram 11% ontem, fechando a US$ 57,38, perto da oferta de Murdoch de US$ 60. Isso dificulta um recuo no negócio, que derrubaria o valor dos papéis.
Com a aquisição, Murdoch, 76, nascido na Austrália e com cidadania americana, reforça seu grupo de mídia que inclui a cadeia de TV Fox, tablóides como o "New York Post" e o britânico "The Sun" e o respeitado diário "The Times" de Londres, além do estúdio de cinema 20th Century Fox.
A compra é vista com reservas por analistas de mídia e na redação do "Journal" devido ao temor de que ele interfira editorialmente na "bíblia" do mercado financeiro americano, o que ele promete não fazer.
O apoio de boa parte dos Bancroft era fundamental para que o negócio fosse adiante. Os fundos da família têm 24,7% das ações, mas controlam 64,2% dos votos, por meio de ações com direitos especiais.
A News Corp. disse que só oficializaria a sua proposta caso conseguisse um apoio significativo dos Bancroft, mas não disse qual era a porcentagem necessária. Anteontem, quando se calculava que sua oferta era apoiada por membros com 29% dos votos, um porta-voz da empresa afirmou que era "altamente improvável" que o negócio fosse adiante.
A reviravolta aconteceu com a mudança de posição de um fundo dos Bancroft que detém 9% das ações com direito a voto. Esse ramo da família pressionava para que Murdoch aumentasse a sua proposta, o que o bilionário disse que não faria.
A decisão do conselho da Dow Jones de criar um fundo para cobrir os gastos com as firmas que aconselharam os Bancroft, como bancos e escritórios de advocacia, os fez mudar de idéia. Esses gastos podem chegar a US$ 30 milhões, de acordo com o "WSJ".

Independência
Um outro ponto que travou a negociação, iniciada no final de março e tornada pública em maio, foi a independência do "Journal". Apesar das promessas de Murdoch, os Bancroft negociaram a criação de um conselho independente para garantir que não haja interferências no jornal.
Ao adquirir o "Times", em 1981, Murdoch fez promessas semelhantes e também criou um conselho independente, mas, apontam seus críticos, interfere nas decisões editorias.
Agora, ele reitera o anúncio, mas deixa claro que estará presente na Redação. "Creio que iria bastante à Redação, mas não todos os dias. Afinal, se o dinheiro da News Corp. estiver envolvido, seria uma imensa negligência minha não acompanhar a situação de perto", afirmou em maio.
No final de junho, jornalistas do "WSJ" não foram trabalhar durante uma manhã em protesto contra a possível venda para Murdoch.
Ele é acusado de usar seus jornais para apoiar políticos, como o ex-premiê britânico Tony Blair, ou governos, como o da China, em uma tentativa de conquistar apoio para seus negócios.
Desde o início das negociações, Murdoch deixou claro que pretende integrar as operações do grupo Dow Jones, que também possui agência de notícias, com as do novo canal de TV de notícias financeiras que pretende lançar. Ele já disse que, se possível, usará o nome do "Journal" no novo canal.
Para o dono da News Corp., que faturou US$ 7,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano, o "Wall Street Journal" precisa de "mais publicidade" para aumentar seu lucro.


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