São Paulo, Domingo, 01 de Agosto de 1999
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Economista ataca subsídio a montadoras

de Buenos Aires

Os grandes vencedores da briga entre Brasil e Argentina foram as montadoras, que levaram US$ 25 bilhões em subsídios.
A opinião é do economista Raúl Ochoa, ex-secretário de Comércio Exterior argentino.
"Isso é um absurdo", disse o atual consultor da comissão de indústria da Câmara de Deputados, referindo-se à idéia de subsidiar multinacionais.
Leia a seguir trechos da entrevista de Ochoa à Folha.

Folha - O senhor considera justo o pedido de compensações da Argentina?
Raúl Ochoa -
Quando começou a se discutir o problema da invasão de produtos brasileiros, depois da queda do real, o que deveria ter sido feito é um acordo para restrição voluntária de exportações.
Apesar de não terem crescido as exportações brasileiras, alguns setores industriais argentinos se sentem afetados pelas importações do Brasil. Como a demanda interna caiu, em alguns setores a participação de mercado do Brasil aumentou, mesmo com a diminuição do volume importado.

Folha - Qual a solução?
Ochoa -
É preciso uma solução que não agrave o problema de desemprego e de tensões sociais na Argentina. Os industriais brasileiros precisam ter paciência. Tentar ganhar mercado num período de recessão é agudizar as tensões.

Folha - É possível reverter o processo de desmantelamento do Mercosul?
Ochoa -
Se Brasil e Argentina não apresentam uma política externa comercial comum, as possibilidades concretas de lutar nos mercados internacionais, especialmente para os produtos que mais interessam a ambos os países, são poucas.

Folha - Mas o Brasil parece mais preocupado em abrir novos mercados do que fortalecer o Mercosul?
Ochoa -
Exatamente. Saiu a negociar tudo, com México, Peru e Venezuela.
O Brasil está numa posição de liderança na busca de comércio, aproveitando as vantagens competitivas oferecidas pela desvalorização.

Folha - O Brasil decidiu subsidiar a Ford na Bahia e a Argentina ameaça com salvaguardas. O que vai ocorrer?
Ochoa -
A mudança de governo na Argentina vai ajudar o país a pensar o tema com mais força. Esse governo já está debilitado, já está indo embora.
Mas acho que também ajudaria o Mercosul se a Argentina tomasse posições duras, como para o caso da Ford na Bahia.

Folha - Levar à OMC?
Ochoa -
Claro. Denunciar o tema. É necessário que os dirigentes brasileiros reflitam sobre os custos de certas ações.
O governo dos dois países fizeram um verdadeiro desastre com o regime automotivo. Tentaram trazer investimentos e terminaram subsidiando Volks, Ford, General Motors, Mercedes-Benz e Toyota. Os subsídios dados pelos governos às montadoras são de cerca de US$ 25 bilhões. Para subsidiar empresas multinacionais. É um absurdo.


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