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Economista ataca subsídio a montadoras
de Buenos Aires
Os grandes vencedores da
briga entre Brasil e Argentina
foram as montadoras, que levaram US$ 25 bilhões em subsídios.
A opinião é do economista
Raúl Ochoa, ex-secretário de
Comércio Exterior argentino.
"Isso é um absurdo", disse o
atual consultor da comissão de
indústria da Câmara de Deputados, referindo-se à idéia de
subsidiar multinacionais.
Leia a seguir trechos da entrevista de Ochoa à Folha.
Folha - O senhor considera
justo o pedido de compensações da Argentina?
Raúl Ochoa - Quando começou a se discutir o problema da
invasão de produtos brasileiros, depois da queda do real, o
que deveria ter sido feito é um
acordo para restrição voluntária de exportações.
Apesar de não terem crescido
as exportações brasileiras, alguns setores industriais argentinos se sentem afetados pelas
importações do Brasil. Como a
demanda interna caiu, em alguns setores a participação de
mercado do Brasil aumentou,
mesmo com a diminuição do
volume importado.
Folha - Qual a solução?
Ochoa - É preciso uma solução que não agrave o problema
de desemprego e de tensões sociais na Argentina. Os industriais brasileiros precisam ter
paciência. Tentar ganhar mercado num período de recessão
é agudizar as tensões.
Folha - É possível reverter o
processo de desmantelamento do Mercosul?
Ochoa - Se Brasil e Argentina
não apresentam uma política
externa comercial comum, as
possibilidades concretas de lutar nos mercados internacionais, especialmente para os
produtos que mais interessam
a ambos os países, são poucas.
Folha - Mas o Brasil parece
mais preocupado em abrir
novos mercados do que fortalecer o Mercosul?
Ochoa - Exatamente. Saiu a
negociar tudo, com México,
Peru e Venezuela.
O Brasil está numa posição
de liderança na busca de comércio, aproveitando as vantagens competitivas oferecidas
pela desvalorização.
Folha - O Brasil decidiu subsidiar a Ford na Bahia e a Argentina ameaça com salvaguardas. O que vai ocorrer?
Ochoa - A mudança de governo na Argentina vai ajudar
o país a pensar o tema com
mais força. Esse governo já está
debilitado, já está indo embora.
Mas acho que também ajudaria o Mercosul se a Argentina
tomasse posições duras, como
para o caso da Ford na Bahia.
Folha - Levar à OMC?
Ochoa - Claro. Denunciar o
tema. É necessário que os dirigentes brasileiros reflitam sobre os custos de certas ações.
O governo dos dois países fizeram um verdadeiro desastre
com o regime automotivo.
Tentaram trazer investimentos
e terminaram subsidiando
Volks, Ford, General Motors,
Mercedes-Benz e Toyota. Os
subsídios dados pelos governos às montadoras são de cerca
de US$ 25 bilhões. Para subsidiar empresas multinacionais.
É um absurdo.
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