São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RETOMADA

Analistas ressaltam que expansão do Brasil é inferior a de outros emergentes e recomendam captação externa

Estrangeiros vêem desafio ao país em 2005

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

O desempenho da economia brasileira no segundo trimestre deste ano agradou a analistas estrangeiros, mas foi recebida com cautela. Segundo economistas, o desafio do Brasil será manter um bom ritmo de expansão em 2005, quando o PIB (Produto Interno Bruto) mundial deverá sofrer uma desaceleração.
"O resultado foi uma surpresa positiva. É um sinal claro de que a economia brasileira, finalmente, está ganhando força", afirmou John Bowler, diretor da Economist Intelligence Unit (EIU), centro de pesquisa britânico.
Para ele, analistas devem começar a revisar as estimativas de crescimento do Brasil em 2004 -que variam entre 3,5% e 4%- para cima. Mas, ressalva ele, a retomada da economia brasileira pode ser afetada, em maior ou menor grau, em 2005, pela desaceleração da economia mundial.
"Nossa previsão é que o Brasil cresça entre 3% e 3,5% em 2005, em um cenário de recuperação sustentada da economia global. Mas, se a economia dos EUA tiver expansão menor que a esperada ou se a China desacelerar muito rapidamente, esse cenário mudará", disse Bowler.
Essa é a maior preocupação de Wilber Colmerauer, sócio da corretora Liability Solutions. "O número foi muito bom, mas temos de tomar cuidado porque é um resultado que carrega muito efeito estatístico e, principalmente, porque não sabemos o que vai ocorrer em 2005", disse.
Segundo ele, os bons números do segundo trimestre, provavelmente, serão usados pelo governo como símbolo de sucesso da gestão macroeconômica e animarão os mercados. Mas ressaltou que a manutenção desse entusiasmo, no médio prazo, dependerá do resultado da economia no segundo semestre e, principalmente, no próximo ano. Para Colmerauer, o governo brasileiro deveria aproveitar o bom momento e voltar a fazer captações no exterior. "O nível de reservas do país continua muito baixo. O governo deveria aproveitar para conseguir fazer um colchão maior de reservas porque, se a situação mudar no próximo ano, é bem possível que o país sofra saídas de capital."
O economista-chefe da Poalim Asset Managemente, Peter West, disse que o resultado divulgado ontem pelo IBGE superou as expectativas do mercado. "Os números foram muito bons, mostraram um bom desempenho da economia. Agora, o que precisamos saber é se esse desempenho é sustentável", afirmou West.

Juros altos
Economistas são unânimes ao afirmar que as altas taxas de juros reais do Brasil ainda são uma provável barreira a taxas de crescimento mais altas.
"Os juros no Brasil ainda estão num patamar muito alto. E, agora, vai ser difícil reduzi-los", disse Colmerauer.
West afirmou que uma dúvida a respeito da economia brasileira é se os investimentos produtivos voltarão na escala necessária nesse cenário de juros reais ainda elevados.
Os analistas também chamam a atenção para o fato de que, embora esteja se recuperando fortemente, o Brasil ainda está bastante atrás das taxas de expansão registradas por países asiáticos.
"As taxas de crescimento conseguidas pelo país agora são as mínimas aceitáveis para um país emergente como o Brasil. É necessário que o país consiga, no futuro, desempenho ainda melhor", afirmou West.
Segundo Bowler, da EIU, para fazer frente às grandes necessidades sociais, a economia brasileira precisa crescer de forma sustentada a taxas próximas de 5% ao ano.

Outros países
O crescimento de 5,7% do PIB brasileiro no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2003 supera o desempenho de alguns países emergentes considerados bem-sucedidos como Chile (5,1%) e Coréia do Sul (5,5%). Mas é inferior aos resultados de China (9,6%), Malásia (8%) e Singapura (12,5%).
De forma geral, dizem economistas, a recuperação da economia brasileira é parte de um processo de retomada da economia global, em 2004.
Em relação à expansão projetada por grandes instituições e compiladas pela revista "The Economist" para 2004, o Brasil ainda fica atrás de 20 entre 25 nações emergentes. Os últimos dados publicados pela revista britânica há três semanas apontavam para um crescimento de 3,8% do Brasil neste ano, contra 6,6% de Hong Kong, 4,9% do Chile, 4,8% do Peru e 7,2% da Rússia.
Mas, segundo analistas, é provável que os dados do Brasil sejam revisados depois da divulgação dos números de ontem.


Texto Anterior: Para oposição, alta do PIB "não é espetáculo"
Próximo Texto: Furlan adianta alta de 40% nas importações
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.