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RETOMADA
Analistas ressaltam que expansão do Brasil é inferior a de outros emergentes e recomendam captação externa
Estrangeiros vêem desafio ao país em 2005
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
O desempenho da economia
brasileira no segundo trimestre
deste ano agradou a analistas estrangeiros, mas foi recebida com
cautela. Segundo economistas, o
desafio do Brasil será manter um
bom ritmo de expansão em 2005,
quando o PIB (Produto Interno
Bruto) mundial deverá sofrer
uma desaceleração.
"O resultado foi uma surpresa
positiva. É um sinal claro de que a
economia brasileira, finalmente,
está ganhando força", afirmou
John Bowler, diretor da Economist Intelligence Unit (EIU), centro de pesquisa britânico.
Para ele, analistas devem começar a revisar as estimativas de
crescimento do Brasil em 2004
-que variam entre 3,5% e 4%-
para cima. Mas, ressalva ele, a retomada da economia brasileira
pode ser afetada, em maior ou
menor grau, em 2005, pela desaceleração da economia mundial.
"Nossa previsão é que o Brasil
cresça entre 3% e 3,5% em 2005,
em um cenário de recuperação
sustentada da economia global.
Mas, se a economia dos EUA tiver
expansão menor que a esperada
ou se a China desacelerar muito
rapidamente, esse cenário mudará", disse Bowler.
Essa é a maior preocupação de
Wilber Colmerauer, sócio da corretora Liability Solutions. "O número foi muito bom, mas temos
de tomar cuidado porque é um
resultado que carrega muito efeito estatístico e, principalmente,
porque não sabemos o que vai
ocorrer em 2005", disse.
Segundo ele, os bons números
do segundo trimestre, provavelmente, serão usados pelo governo
como símbolo de sucesso da gestão macroeconômica e animarão
os mercados. Mas ressaltou que a
manutenção desse entusiasmo,
no médio prazo, dependerá do resultado da economia no segundo
semestre e, principalmente, no
próximo ano. Para Colmerauer, o
governo brasileiro deveria aproveitar o bom momento e voltar a
fazer captações no exterior. "O nível de reservas do país continua
muito baixo. O governo deveria
aproveitar para conseguir fazer
um colchão maior de reservas
porque, se a situação mudar no
próximo ano, é bem possível que
o país sofra saídas de capital."
O economista-chefe da Poalim
Asset Managemente, Peter West,
disse que o resultado divulgado
ontem pelo IBGE superou as expectativas do mercado. "Os números foram muito bons, mostraram um bom desempenho da
economia. Agora, o que precisamos saber é se esse desempenho é
sustentável", afirmou West.
Juros altos
Economistas são unânimes ao
afirmar que as altas taxas de juros
reais do Brasil ainda são uma provável barreira a taxas de crescimento mais altas.
"Os juros no Brasil ainda estão
num patamar muito alto. E, agora, vai ser difícil reduzi-los", disse
Colmerauer.
West afirmou que uma dúvida a
respeito da economia brasileira é
se os investimentos produtivos
voltarão na escala necessária nesse cenário de juros reais ainda elevados.
Os analistas também chamam a
atenção para o fato de que, embora esteja se recuperando fortemente, o Brasil ainda está bastante atrás das taxas de expansão registradas por países asiáticos.
"As taxas de crescimento conseguidas pelo país agora são as mínimas aceitáveis para um país
emergente como o Brasil. É necessário que o país consiga, no futuro, desempenho ainda melhor",
afirmou West.
Segundo Bowler, da EIU, para
fazer frente às grandes necessidades sociais, a economia brasileira
precisa crescer de forma sustentada a taxas próximas de 5% ao ano.
Outros países
O crescimento de 5,7% do PIB
brasileiro no segundo trimestre
deste ano em relação ao mesmo
período de 2003 supera o desempenho de alguns países emergentes considerados bem-sucedidos
como Chile (5,1%) e Coréia do Sul
(5,5%). Mas é inferior aos resultados de China (9,6%), Malásia
(8%) e Singapura (12,5%).
De forma geral, dizem economistas, a recuperação da economia brasileira é parte de um processo de retomada da economia
global, em 2004.
Em relação à expansão projetada por grandes instituições e
compiladas pela revista "The Economist" para 2004, o Brasil ainda
fica atrás de 20 entre 25 nações
emergentes. Os últimos dados publicados pela revista britânica há
três semanas apontavam para um
crescimento de 3,8% do Brasil
neste ano, contra 6,6% de Hong
Kong, 4,9% do Chile, 4,8% do Peru e 7,2% da Rússia.
Mas, segundo analistas, é provável que os dados do Brasil sejam
revisados depois da divulgação
dos números de ontem.
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