São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

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EM TRANSE

Dólar comercial cai 3%, para R$ 3,76, mas cotação que dá o valor da dívida do governo com o mercado sobe 1%, a R$ 3,89

BC derruba dólar, mas mercado ganha o dia

Reuters
Operadores da Bolsa de Mercadorias e Futuros (SP), onde também se fazem operações com dólar


ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central lançou uma torrente de dólares na praça e reduziu o preço de venda do dólar no início da tarde, mas não impediu que o mercado mais uma vez ganhasse o dia.
O valor do dólar que interessa para o fechamento dos negócios com a dívida e papéis do governo fechou a um nível ainda maior que o de terça-feira passada. Trata-se do Ptax (o valor da média ponderada do dólar), que fechou ontem a R$ 3,8949, contra R$ 3,6216 na terça-feira passada -a diferença foi de 7,54%.
Naquele dia e ontem foram fechadas as cotações da moeda americana, o Ptax, que corrigem o preço da dívida do governo atrelada à variação do dólar e os contratos no mercado futuro. No caso da dívida pública, interessa, pois ao mercado, que tal valor seja alto. O número é relevante também por influenciar o tamanho da dívida do governo (que em parte varia com o preço do dólar).
O risco Brasil, medido pelo JP Morgan, caiu 1,76%, para 2.397 pontos. O dólar comercial fechou com baixa de 3,09% ontem, negociado a R$ 3,76 -mesmo valor da quinta-feira passada.
Quanto mais alta a dívida como proporção da produção do país, maior a incerteza dos investidores em relação ao pagamento desses débitos. Tal desconfiança tende a fazer crescer o risco-país e, portanto, os juros que se cobram em empréstimos internacionais ao Brasil.
O péssimo dia nas Bolsas da Europa e dos Estados Unidos não afetou o mercado de câmbio, mas ajudou a derrubar ainda mais a combalida Bolsa de Valores de São Paulo, que fechou o mês em queda de 16,9%. As Bolsas européias e a Nasdaq (americana) voltaram a cair aos níveis mais baixos em seis anos; o principal índice da Bolsa de Nova York regrediu ao nível de 1998.

O dólar e o BC
O fechamento do dólar não espelhou o nervosismo da abertura dos negócios, quando as tesourarias dos bancos se articulavam para influenciar a formação do Ptax de modo a elevar seus ganhos. Um Ptax alto proporcionaria lucros maiores para os vencimentos de contratos do mercado futuro, de acordo com as posições formadas, e para os ganhos com o resgate dos títulos cambiais.
Pela manhã, a moeda americana chegou a subir 2,24%, para R$ 3,967. Nesse período foi registrado o maior número de negócios e, como o Ptax faz uma média ponderada entre o preço e o volume de negócios, a alta da manhã já foi suficiente para determinar o Ptax num valor que saciasse os bancos. Garantida a formação da taxa, os bancos começaram a desmontar posições e embolsar lucros, o que iniciou a queda da moeda.
Além disso, segundo os operadores, o BC teria atuado forte no mercado. A quantidade de dólares vendida só será conhecida daqui a dois dias, com a verificação das reservas, mas, segundo as estimativas do mercado, o BC teria vendido ontem entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões.
Segundo operadores, a mesma baixa do dólar só não aconteceu na terça-feira passada, quando os investidores também pressionaram o Ptax, por conta de outro vencimento de dívida cambial, porque, naquele dia, houve uma compra grande por parte de um banco espanhol. A alta daquele dia foi definida no final do pregão, o que, segundo analistas, indica que o o banco deixou para comprar os dólares no fim do dia por acreditar que o BC iria agir fortemente para conter a alta moeda, o que não se confirmou.
Analistas creditaram a queda de ontem do dólar a um fator pontual do mercado. O humor continua o mesmo -há a preocupação com uma possível vitória da oposição nas eleições presidenciais. Um governo Lula ainda não estaria refletido no preço do dólar. Ainda assim, já há vozes no mercado que afirmam que Lula incomodaria mais ao investidor estrangeiro do que ao doméstico.
O BC optou ontem por não rolar US$ 200 milhões em linhas externas que venceriam amanhã. Por falta de interesse do mercado, a autoridade monetária também não renovou os 70% da dívida cambial que vence hoje, como pretendia. Rolou apenas 21%, na sexta-feira.


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