São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPINIÃO ECONÔMICA

Time do Brasil

BENJAMIN STEINBRUCH

Cento e quinze milhões, duzentos e setenta e um mil e oitocentos e onze brasileiros estão aptos para votar domingo. Pode ser que saia das urnas o novo presidente da República. Pode ser que ainda tenhamos o segundo turno. Até aqui, apesar dos ataques mútuos dos candidatos, pode-se dizer que não foi uma campanha exageradamente sangrenta. Não se compara a outras que tivemos de 1989 para cá, nas quais se expôs a vida particular de adversários e se atingiu a honra sem pudor nem provas.
De qualquer forma, não há campanha política sem frustrações e sem ressentimentos. Os que perdem saem naturalmente feridos, magoados com os concorrentes e com os eleitores. São humanos e têm direito a esse sentimento. Mas, seguramente, não têm o direito de sair da disputa ressentidos ou magoados com o Brasil.
Essa deveria ser a linha de reflexão para os que não serão eleitos no domingo. Se de fato são brasileiros e patriotas, como propalaram durante a campanha, têm o dever de levantar a cabeça, esquecer a derrota, se é que essa palavra se aplica nesse caso, e trabalhar pelo Brasil.
Torcer contra os governos que sairão das urnas é jogar contra o país, seja nos Estados, seja no poder central. Se o presidente da República for eleito domingo, todos têm a obrigação de começar a jogar no time do Brasil. Não falo de adesismos oportunistas, de políticos que imediatamente trocam de partido para permanecer no poder, tão comuns nos períodos pós-eleitorais. Penso naqueles que de fato pretendem colaborar para que o novo presidente, seja lá quem for, possa fazer as mudanças -para não falar em reformas, palavra gasta pela repetição- de que o país precisa.
Não será patriótico, por exemplo, negar apoio à reformulação da Previdência, um ralo pelo qual escoa volume impensável de recursos da União. Um estudo feito no Paraná mostra que a Previdência gastou cerca de R$ 48 bilhões para pagar os 3 milhões de aposentados no ano passado, valor que superou o dispêndio total com educação, saúde e segurança.
Será um desserviço ao país trabalhar contra projetos para aliviar a pesada carga tributária (35% do Produto Interno Bruto), que onera mais os setores produtivos do que o financeiro e impede o crescimento mais rápido das exportações. Será também um desserviço impedir alterações legais que estimulem a formação de um mercado de capitais acreditado no país, para oferecer financiamento mais barato à produção e ao investimento.
Por razões óbvias, será antiético e pouco inteligente fazer oposição a medidas voltadas para a retomada do crescimento econômico e do emprego, desde que mantida a responsabilidade fiscal. Não há como negar aprovação, por exemplo, a medidas de estímulo à agricultura e aos agronegócios, que permitam ao país sonhar com uma safra de 200 milhões de toneladas.
Tampouco poderão os perdedores (partidos ou pessoas) se opor a novas políticas de segurança, saúde, educação e em várias áreas sociais, necessárias para atenuar problemas que hoje castigam a população mais pobre.
Infelizmente, já houve, no passado, comportamentos pouco éticos nessa matéria. Fazer oposição é legítimo em qualquer democracia, mas não quando se adota a política do "quanto pior melhor". E isso não vale só para políticos. Empresários sérios não podem tratar com menosprezo ou preconceito de classe autoridades eleitas pelo voto direto. Não podem espalhar pessimismo, muito menos reduzir investimentos por razões unicamente políticas.
Em política, como no esporte, mais que ganhar é preciso saber perder.


Benjamin Steinbruch, 49, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br


Texto Anterior: Em transe: BC derruba dólar, mas mercado ganha o dia
Próximo Texto: Comércio: Consumidores antecipam compras
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.