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OPINIÃO ECONÔMICA
Time do Brasil
BENJAMIN STEINBRUCH
Cento e quinze milhões, duzentos e setenta e um mil e
oitocentos e onze brasileiros estão
aptos para votar domingo. Pode
ser que saia das urnas o novo presidente da República. Pode ser
que ainda tenhamos o segundo
turno. Até aqui, apesar dos ataques mútuos dos candidatos, pode-se dizer que não foi uma campanha exageradamente sangrenta. Não se compara a outras que
tivemos de 1989 para cá, nas
quais se expôs a vida particular
de adversários e se atingiu a honra sem pudor nem provas.
De qualquer forma, não há
campanha política sem frustrações e sem ressentimentos. Os que
perdem saem naturalmente feridos, magoados com os concorrentes e com os eleitores. São humanos e têm direito a esse sentimento. Mas, seguramente, não têm o
direito de sair da disputa ressentidos ou magoados com o Brasil.
Essa deveria ser a linha de reflexão para os que não serão eleitos
no domingo. Se de fato são brasileiros e patriotas, como propalaram durante a campanha, têm o
dever de levantar a cabeça, esquecer a derrota, se é que essa palavra se aplica nesse caso, e trabalhar pelo Brasil.
Torcer contra os governos que
sairão das urnas é jogar contra o
país, seja nos Estados, seja no poder central. Se o presidente da República for eleito domingo, todos
têm a obrigação de começar a jogar no time do Brasil. Não falo de
adesismos oportunistas, de políticos que imediatamente trocam de
partido para permanecer no poder, tão comuns nos períodos pós-eleitorais. Penso naqueles que de
fato pretendem colaborar para
que o novo presidente, seja lá
quem for, possa fazer as mudanças -para não falar em reformas, palavra gasta pela repetição- de que o país precisa.
Não será patriótico, por exemplo, negar apoio à reformulação
da Previdência, um ralo pelo qual
escoa volume impensável de recursos da União. Um estudo feito
no Paraná mostra que a Previdência gastou cerca de R$ 48 bilhões para pagar os 3 milhões de
aposentados no ano passado, valor que superou o dispêndio total
com educação, saúde e segurança.
Será um desserviço ao país trabalhar contra projetos para aliviar a pesada carga tributária
(35% do Produto Interno Bruto),
que onera mais os setores produtivos do que o financeiro e impede
o crescimento mais rápido das exportações. Será também um desserviço impedir alterações legais
que estimulem a formação de um
mercado de capitais acreditado
no país, para oferecer financiamento mais barato à produção e
ao investimento.
Por razões óbvias, será antiético
e pouco inteligente fazer oposição
a medidas voltadas para a retomada do crescimento econômico
e do emprego, desde que mantida
a responsabilidade fiscal. Não há
como negar aprovação, por
exemplo, a medidas de estímulo à
agricultura e aos agronegócios,
que permitam ao país sonhar
com uma safra de 200 milhões de
toneladas.
Tampouco poderão os perdedores (partidos ou pessoas) se opor a
novas políticas de segurança, saúde, educação e em várias áreas sociais, necessárias para atenuar
problemas que hoje castigam a
população mais pobre.
Infelizmente, já houve, no passado, comportamentos pouco éticos nessa matéria. Fazer oposição
é legítimo em qualquer democracia, mas não quando se adota a
política do "quanto pior melhor".
E isso não vale só para políticos.
Empresários sérios não podem
tratar com menosprezo ou preconceito de classe autoridades
eleitas pelo voto direto. Não podem espalhar pessimismo, muito
menos reduzir investimentos por
razões unicamente políticas.
Em política, como no esporte,
mais que ganhar é preciso saber
perder.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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